Jogral de Ruth Salles sobre as regiões do Brasil
“Terra Grande” é um jogral sobre a terra do Brasil, com vários coros falando sobre as diversas regiões: sobre a terra, os rios, a mata amazônica, o seringueiro, o castanheiro, o nordeste e o vaqueiro, o centro-oeste, o leste e o sul. Podem ser intercaladas algumas danças regionais, a critério do professor. Este jogral também serve como exercício de dicção e ensina palavras novas. No início, logo depois do Coro dos Viajantes, o Coro da Terra canta um recitativo.
Sugerida para crianças de 11 anos.
PERSONAGENS: Coros dos viajantes, da terra, dos rios, da mata amazônica; Seringueiro, Castanheiro; Coro do nordeste; o Vaqueiro nordestino.
CORO DOS VIAJANTES (caminhando, com um bastão na mão):
– Meu coração todo se expande
ao viajar na terra grande…
CORO DA TERRA (canta, num plano mais alto, com túnica marrom):
“Brasil, O’ Bresail,
ilha feliz com que sonhavam os navegantes celtas,
terra das praias longas e das palmeiras esbeltas,
das matas fragosas, das flores, das aves,
dos mares bravios, dos lagos, dos rios…”
CORO DOS RIOS (túnicas verde, bege, prateada, podem evoluir em cena):
– Nós somos os longos rios
da terra grande.
Ao sairmos da nascente,
vamos abrindo caminho
com nossa lista de prata
por entre as pedras e a mata.
E, sempre que o chão se acaba,
nós nos lançamos do alto,
despencando em catarata,
sulcando o solo bem fundo,
depois retomando o rumo.
Outras águas vêm chegando,
nos alargando
e, num marulhar intenso,
serpenteando na serra.
abrimos um vale imenso.
Chegando à beira da terra,
é hora de mergulhar
no azul do mar.
CORO DA MATA AMAZÔNICA (ramos verdes):
– Sou a mata amazônica, imensa,
sou aquela floresta mais densa.
E o sol lá no céu, quando escalda,
faz luzir o meu verde-esmeralda.
Sou árvores gigantescas, toscas,
com cipós e liames de entremeio.
Sou mistério, sou vida…
Sou deslumbramento e sou receio.
Às vezes, meu mato,
tão denso e fechado,
por dentro é escuro.
Mas encho meu peito
e sopro no vento
meu ar que é tão puro.
E sopro bem fundo
meu ar que esvoaça,
que lava, clareia
um pedaço do mundo!…
CORO DOS VIAJANTES:
– Eia, toca, canta!
Concerto de sons, de chilreios,
miados, rugidos, zumbidos!
SERINGUEIRO:
– O mateiro abriu estrada,
seringueiro a percorreu
e nos troncos fez os cortes.
E, escorrido das sangrias,
o látex ele colheu.
Seringueiro da floresta
sabe a mata até de cor.
Colhe a hervea brasiliensis
que é borracha da melhor.
Seringueiro em seringal,
da mata rompendo a teia,
trabalha em tempo de seca,
descansa em tempo de cheia.
CORO DA TERRA:
– Tiboc… tiboc…
Caem as castanhas lá nos castanhais.
Tiboc… tiboc… Caem mais.
É o vento, é o vento
agitando os galhos,
desprendendo os duros
ouriços maduros.
CASTANHEIRO:
– O castanheiro enche os paneiros
de quantos frutos acha no chão.
Quebra os ouriços, tira as amêndoas,
leva em canoas ao barracão.
No igarapé, que vozerio!
Seguem os homens na montaria,
levam os frutos, que longe vão,
vão navegando de batelão.
CORO DA TERRA:
– Castanheiro em castanhal,
da mata rompendo a teia,
descansa em tempo de seca,
trabalha em tempo de cheia.
No meio do igarapé
no entremeio do cipó,
vê bem onde põe o pé.
– Cuidado com o caiapó!
CORO DOS VIAJANTES:
– Meu coração todo se expande,
ao viajar na terra grande.
Meu passo investe para o Nordeste!
CORO DA TERRA DO NORDESTE:
– Dunas claras, soalheiras rubras,
mares verdes, o babaçu, a carnaúba.
Chiam as caatingas…
Turbilhonam ventos entre os cactos chatos.
CORO DO VAQUEIRO NORDESTINO:
– O vaqueiro vem, num cavalo seco, sanhudo,
quebrando e estalando os ramos contorcidos
da galharia espinhuda.
Ele enfrenta a espessura
com sua roupa de armadura,
gibão de couro, perneiras também,
joelheiras de sola que dobram bem.
As mãos e os pés ficam resguardados
em luvas e guarda-pés de couro de veado.
Ele enfrenta as lides da vaquejada
e o estouro da boiada,
e quando folga se consola
dançando o sapateado,
estalando as alpercatas
e cantando desafios na viola:
“Eh, boi surubim!
Eh, boi brabo!
Se ele foge de mim,
eu o pego pelo rabo!”
CORO DOS VIAJANTES:
– Toda esta terra é muito grande…
A leste e a sudeste vou olhando.
Vejo o rio São Francisco e ouço o rumor que ressoa
de seus barcos passando
com carrancas na proa.
Vejo o carro de boi cantando pela estrada,
o colhedor de coco, o cacaual,
os faiscadores minerando o ouro ao sol.
Vejo os pampas do sul, o carreteiro,
o gaúcho vaqueiro com seu chimarrão
olhando defronte
o vasto e plano e limpo horizonte.
Vejo no centro-oeste
o pantanal agreste,
o peão de boiadeiro tocando a boiada,
o garimpeiro, o caçador de onça brava.
CORO DA TERRA:
– E vejo por tudo o saci-pererê pererecando levado,
com seu pito, seu gorro, sua mãozinha furada,
saltando na clareira e na espessura
e deixando seu rastro de travessura.
Vejo Sumé, o caraíba encantado,
que ensinou a plantar neste solo abençoado.
E vejo o joão-de-barro, o tapir e o tatu,
e ouço o canto lento e lindo do uirapuru.
E vejo a mescla de raças do mundo inteiro
aí convivendo,
e ouço um coração batendo,
que vibra e que se expande,
e que é o coração da terra grande!
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