Introdução ao desenho de formas
Crédito: Texto baseado no livro “Do Movimento ao Traço e à Escrita”, de Luíza Helena Tannuri Lameirão – Ed. João de Barro, 2016
O desenho de formas é uma atividade pedagógica criada por Rudolf Steiner, e é usada a partir do 1° ano escolar, quando a criança tem por volta de 7 anos de idade. Nesta etapa, o desenho de formas constitui a base para o aprendizado da escrita e ajuda o educador a ampliar a sensibilidade da criança para a forma dos objetos e dos seres da natureza.
1° ano
Durante o primeiro setênio toda energia da criança está dedicada ao seu desenvolvimento corporal e motor, e naturalmente voltada para a prática de gestos amplos, como correr, pular, saltar, escalar etc, mas a partir dos 7 anos ela já está preparada para desenvolver habilidades mais finas. A escrita é uma das habilidades humanas mais importantes e expressivas, e o professor Waldorf busca auxiliar a criança a desenvolvê-la a partir de vivências baseadas em seus impulsos naturais.
A criança pequena já se aventura a desenhar, e podemos perceber que seus rabiscos sempre se baseiam em duas formas básicas: a reta e a curva. Assim, o que fazemos é partir desta iniciativa natural da criança, que inicialmente é constituída por rabiscos caóticos, e levá-la a desenhar formas cada vez mais harmoniosas. Assim como a criança aprendeu a andar, se movimentar e falar, a conquista da linguagem escrita deve ser um exercício de percepção, habilidade e harmonização do movimento, para transformar o traçado das linhas em linguagem. O melhor caminho para este execício é sempre artístico, pictórico, partindo da ação para alcançar a compreensão, para que o desenvolvimento da escrita não seja apenas um exercício de coordenação e habilidade, mas seja uma vivência humana, envolvendo sentimento, pensamento e ação.
A vivência do traçado das linhas se inicia com as crianças andando, como se estivessem formando as linhas com o próprio corpo, e andando com os olhos fechados, para que consigam vivenciar o sentido do movimento. Depois fazem com os braços no ar, em pé e sentados, os movimentos que representam o traçado das linhas, antes de começar a exercitá-los no papel. No início são usados giz de cera ou lápis de cor para traçar as linhas, evoluindo futuramente para lápis de escrita mais fina. O desenho de formas é uma prática constante, uma pequena parte da aula, mas sempre evoluindo em dificuldade, o que leva ao aprimoramento da escrita e do senso estético das crianças.
No primeiro dia de aula, do primeiro ano, são apresentadas a reta e a curva para as crianças, pois estas serão a base para o aprendizado do alfabeto em letra de forma maiúscula, que será ensinado em primeiro lugar.
Nesta fase os exercícios com as linhas são feitos ocupando espaços grandes, como uma folha de papel grande, ou uma pequena lousa individual, onde as crianças possam começar praticando com movimentos amplos. Também é importante que o professor dê uma certa solenidade a esta atividade. Quando for desenhar as linhas na lousa, seus movimentos devem ser lentos, compenetrados e em silêncio, e as crianças devem perceber que ele se esforça para conseguir o melhor resultado, da mesma forma que elas deverão fazer.
2° ano
Já no segundo ano, as crianças praticarão o alfabeto minúsculo. Como nas letras minúsculas temos casos de espelhamento, como nos exemplos abaixo, isso será objeto de trabalho no desenho de forma.
São usados como referência um eixo vertical, ou um eixo horizontal. São exercícios simples, sempre usando a reta e a curva, com as quais os alunos já estão familiarizados, buscando sempre alcançar a simetria.
A próxima variação a ser trabalhada é a simetria rítmica, com linhas retas e curvas formando ritmos. Nestas formas a reta é usada como elemento mais curto, e a curva como elemento mais longo, formando sequências justapostas ou espelhadas.
3° ano
No terceiro ano, o principal objetivo do desenho de formas é auxiliar à introdução da escrita cursiva. A criança aos 9 anos passa por uma fase muito importante para a afirmação do seu Eu, sua personalidade, e é nessa época que ela começa a formar sua escrita individual. Segundo Luíza Lameirão, “os exercícios baseados na linha ondulada, que demandam o fluxo do traçado, necessitam ser constantemente realizados antes da introdução da escrita cursiva. Todo alfabeto cursivo deriva da linha ondulada e de duas transformações da mesma: laçadas e hastes. Na laçada, a onda se eleva e dobra; na haste, ao elevar-se, a onda se aperta, resulta em uma ponta e retorna.”
Também neste trabalho, a prática deve ter início com movimentos amplos, em folha grande de formato A3 dobrada ao meio, depois dobrada em quatro, e com lápis de cor grosso, ou com giz de lousa em pequenas lousas individuais, antes de passar para as folhas A4 e para os cadernos. O professor pode propor inúmeras variações de traçados e espelhamentos, aumentando o grau de dificuldade, antes de introduzir o alfabeto cursivo.
No terceiro e no quarto ano, os desenhos de forma espelhados, que no segundo ano são feitos com base num eixo vertical ou num eixo horizontal, passam a ser feitos também com estes dois eixos cruzados, para trabalhar a simetria de quatro lados, ou simetria central.
Figura
A prática do desenho de formas nestes primeiros anos escolares representa uma introdução à Geometria de forma vivenciada, que mais tarde evoluirá para o estudo mais abstrato e consciente.
Para a criança de 9 a 10 anos também introduzimos formas baseadas no círculo, sempre desenhadas de mão livre.
No quarto ano, quando é estudada a Grécia, o desenho de formas pode ser feito buscando reproduzir as formas dos ornamentos dos escudos, por exemplo. Já no quinto ano, por ocasião do estudo da botânica, e representação das formas da natureza é um rico motivo para belos desenhos.
Assim, o desenho de forma, além de ser a base para o desenvolvimento da escrita, também enriquece o estudo vivenciado de várias outras matérias. O seu uso também auxilia no tratamento terapêutico de crianças especiais.
Imagem em destaque: alunos do 2° ano da Escola Waldorf Aitiara.