17 de novembro de 2017

O grão de trigo

 

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peça de Ruth Salles

Desenho de lousa de Beatriz Retz, da Escola Waldorf Aitiara, Botucatu SP

Esta é uma versão livre da peça homônima de Elisabeth Klein, que faz parte de seu livro “Mutter Erde-Korn und Brot”. É a história do grão de trigo e de todos os que colaboram para que ele cresça. Da peça não consta música, mas Ruth Salles fez melodias para dois poemas do livro, que podem ser cantados, um no começo e outro no fim da peça, cabendo ao professor essa opção de incluí-las ou não. As personagens vão-se destacando do coro e voltam a ele ao terminarem suas falas.

PERSONAGENS:
Coro / Grãos de trigo / Lavradores / Cavalos / Minhocas / Vacas e Bois / Arados / Rolos / Grades / Campo / Lua / Gotas de chuva / Vento / Sol / Cotovias / Menino.

 

CORO DE TODOS (canta):
“A chuva desce
e se derrama,
e a haste cresce
e a flor e a grama
Ah…
O vento passa,
as flores bolem,
já esvoaça
o louro pólen.
Oh…
Como cintila
seu tom dourado
na luz do dia
ensolarado!”

GRÃOS DE TRIGO:
– Eu sou um grãozinho e dormi sossegado,
até que de Deus escutei um chamado:
“Aos homens que vivem sua vida na terra
dê o alimento que seu corpo encerra.”
E aqui estou sozinho, e foi do céu que vim.
A terra é tão dura e difícil pra mim…
Mas, se foi mandado, farei de bom grado.

CORO:
– Ó grão, você nunca ficará sozinho.
Seremos os seus ajudantes, grãozinho.
Grandes e pequenos, sempre ajudaremos.

LAVRADORES:
– Somos lavradores, muita força temos.
Trabalhando o campo, nós ajudaremos.
Bem fundo na terra puxamos o arado,
e pelo cavalo somos ajudados.

CAVALOS (com ritmo, talvez saltando):
– Ao ver o trabalho do bom lavrador,
lhe dou minha calma e lhe dou meu vigor.
Bem firme meu peito, bem forte o cachaço,
puxando o arado seus sulcos eu traço.
Sou filho de longe, da estepe selvagem,
da terra onde o vento percorre a pastagem.
E aqui, quando arrasto esta carga pesada,
na terra esforçando meu corpo cansado,
ao homem eu sirvo, e depois me abandono
ao livre galope sem freios, sem dono.

CORO:
– No fundo da terra ainda está escuro.
Quem dará a ela um pouco de ar puro?

MINHOCAS (andando de um modo meio ondeado):
– Isso é o que fazem, pela vida inteira,
as fiéis minhocas, tão trabalhadeiras;
pois, se brilha o sol ou se a chuva chove,
quem anda na terra e a terra revolve?

CORO:
– Dos bichos da terra, a terra quer mais dois.
Quem dá sua ajuda?

VACAS E BOIS (falando devagar):
– As vacas e os bois!…
Somos sossegados, comemos capim
e, a quem chega perto, dizemos assim:
“Muuu!” Aos lavradores bom leite daremos
e, com nosso esterco a terra adubaremos.

LAVRADORES:
– Nós temos mãos grandes e fortes, grãozinho,
mas não damos conta de tudo sozinhos.
Pedimos ajuda e juntos chamamos
toda ferramenta que nós fabricamos:
“Que venham o rolo, a grade, o arado,
e levem avante o que foi começado!”

ARADOS (com gestos sugestivos):
– Vou rasgando o campo em sulcos bem profundos;
viro para cima a terra lá do fundo.
E esses sulcos longos mostram o caminho
onde vidas novas nascem de mansinho.
Que perfume tem a terra bem arada!
Como o lavrador se sente encorajado!

ROLOS (andam arrastando os pés com força):
– Torrões despedaço, desmancho e desfaço.
Aperto e disperso o mais duro pedaço.
Que a terra se torne fina e delicada,
pois logo a semente lá será lançada.
Cumpro com empenho minha obrigação.
Venha à luz do dia, ó querido grão!

GRADES (gestos de garfos, com as mãos e os dedos):
– As pontas dos dentes eu ferro na terra.
Pareço uma fera, mas trabalho tanto!
Se eu arranho e lanho, fica fino o campo.
Para que o grãozinho possa penetrar,
terra bem macia devo preparar.

CAMPO (dois ou três alunos):
– Com prazer aceito ser despedaçado,
pelo arado e o rolo e a grade ser passado.
Revolvam-me bem! Já sinto o ar e o vento!
O grãozinho pode dormir muito tempo.
– Venha logo, amigo! Na terra amanhada,
a sua caminha já está preparada.

GRÃOS DE TRIGO:
– Todos me chamaram, e eu já vou chegar!
Do reino da terra começo a gostar.
Meus bons ajudantes como trabalharam!
A terra, tão dura, eles transformaram.
(os grãos se deitam, bem quietos)

LAVRADORES:
– Com a força que temos e a dos animais,
trabalhando juntos, trabalhamos mais.
Agora o grãozinho deve descansar,
e o céu, lá de cima, vai-nos ajudar.

LUA (passa, bem calma, e fala ajudada pelo coro):
– Calma cresce a lua, diminui e brilha;
olha os lavradores, que seguem sua trilha.
Sim, tudo o que existe segue a trilha sua.
O grande relógio do céu é a lua.
E os grãos e as hastes, vagarosamente,
vão crescendo junto com a taça luzente.
(os grãos começam a se espreguiçar)

CORO (enquanto as gotas de chuva passam correndo, com gestos):
– Ah, que chuva boa! É o céu que abençoa!
(os grãos já se sentam)

GOTAS DE CHUVA:
– Amo os lavradores, que gostam de mim.
Homens da cidade não pensam assim.
Deixo-os se queixarem e as chuvas chegarem!

VENTO (dois, passam dando voltas):
– Zune o vento, e venta nos verdes trigais.
O vento se agita e agita tudo o mais.

CORO:
– Lá vem vindo o sol! Dourado, reluz!
Vem para nos dar o calor e a luz.

SOL (com ajuda do coro):
– Ah, todo o seu verde transformo em dourado.
Você, em meu fogo, será transformado,
será bem cozido, grãozinho querido.

CORO:
– Que bênçãos trouxeram a água, o sol e o vento!
Oh, quem agradece ao céu neste momento?

COTOVIAS (passam correndo):
– São as cotovias! Voando elas vão,
levando em seu canto toda a gratidão.

GRÃOS DE TRIGO (erguem-se):
– Ah, quando eu entrei neste mundo, sozinho,
logo percebi que não estava sozinho.
Todos são amigos, querem me ajudar.
Lá vem um menino.Vem falar comigo.
Darei as respostas ao que perguntar.

MENINO (dois, ou um com ajuda do coro):
– Você é bem pequeno, grãozinho de trigo!

GRÃOS DE TRIGO:
– Mas um dia eu cresço e te alcanço, amigo.
Vejo a luz brilhar. Que delícia é crescer!
Do tamanho do sol é que eu queria ser.

MENINO:
– E quem o ajudou a crescer neste campo?

GRÃOS DE TRIGO:
– O homem que trabalha com bom ou mau tempo,
a terra, as minhocas, o sol e o vento,
a chuva, o cavalo, o boi e a cotovia.

MENINO:
– Mas, grãozinho, por quem você cresceria?

GRÃOS DE TRIGO:
– Por você, menino! Para irmã e irmão!
Apresso-me e cresço e a todos dou o pão!
(A peça pode terminar aqui. Ou então o coro canta, enquanto os outros dançam a dança da colheita.)

CORO (canta, durante a dança):
“– Ceifar não é fácil,
dançar também não.
Mas tudo isso eu faço.
Dancemos então!
Aqui não há briga,
só há gratidão.
Dancemos, amiga,
depois faço pão.
Com trigo e centeio
eu compro um anel.
Dou sete volteios
com minha Isabel.
– Seu passo é de vento,
desata meu laço.
Mamãe está vendo
que giro em seus braços.
Nós vamos juntinhos
atrás a saltar.
Teremos bolinhos
que estão a fritar.”

 

Fim

 

 

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