peça de Ruth Salles
Jogral com algum movimento
PERSONAGENS:
1ª Sumaúma / 2ª Sumaúma / Bromélias / Orquídeas / Parasitas / Cipós.
CORO (bromélias, orquídeas, parasitas, cipós):
– Só por vocês, Sumaúmas,
a Amazônia é uma festa.
Suas copas ramalhudas
valem por uma floresta.
Somos plantas que se instalam
em seus troncos e os escalam,
enrolando-se em seus nós.
Somos bromélias, orquídeas,
parasitas e cipós.
ORQUÍDEAS (em coro):
– Mas, por causa de um assunto,
eu, a Orquídea, lhe pergunto:
Por que é que em toda a mata
vocês são tão diferentes?
Pois, no tempo da florada,
desfolham-se totalmente.
BROMÉLIAS (em coro):
– Antes, as flores brotavam,
sua sombra era tão bela…
Mil bichinhos se abrigavam
e se refrescavam nela.
E, como eu sou a Bromélia,
com a água que eu guardava
sua sede eu saciava.
1ª SUMAÚMA:
– Ó plantas que eu abrigo! Eu, Sumaúma,
quase tive a existência terminada,
pois as minhas frutinhas, uma a uma,
eram comidas pela bicharada
bem antes de soltarem as sementes
que me dariam vida novamente.
Aflita, procurei Mãe-Natureza,
que nos dá sua ajuda, com certeza.
E ela disse que, sempre que floresço,
devo soltar as folhas. Obedeço.
2ª SUMAÚMA:
– Pois, sem o abrigo deste verde manto,
os bichinhos do mato não vêm tanto.
E as sementes, que são uns carocinhos
metidos em pequenos capuchinhos
de paina muito leve, vão voando,
vão no vento que vem aqui passando.
E, ao passar entre os ramos sem folhagem,
o vento faz mais rápido a viagem,
e as sumaúmas brotam novamente,
porque podem salvar suas sementes.
CORO (bromélias, orquídeas, parasitas, cipós):
– Ó Sumaúmas, riqueza
que a mata recuperou,
a sábia Mãe-Natureza
em vocês nos abrigou.
Recebam o nosso amor,
ó Sumaúmas queridas!
Perdendo as folhas com a flor,
sua vida nos dá vida!
(Nota: a palavra indígena “sumaúma” quer dizer “árvore com cordas”, talvez por ela ser tão nodosa, tão cheia de nós para as outras subirem.)
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