poema de Ruth Salles
cúmulo, nimbo, estrato e cirro
Aquarela de Mônica Stein Aguiar
CÚMULO
– Bem de manhã,
lá no horizonte,
eu me acumulo
formando um monte;
e subo e cresço
longe do chão,
tomando formas
na imensidão.
Quem é aquele
rei lá em cima,
com uma coroa
que pinga… pinga…
e se desmancha
devagarinho
e já virou
um carneirinho?
E o rei, agora,
é um navio
com vela e tudo
no mar bravio
cheio de espumas
que vão e vêm.
Que sou agora?
O quê? Ou quem?
NIMBO
A nuvem bojuda,
bem gorda e graúda,
que sobe e que cresce,
no céu escurece.
Está tão aguada
que fica pesada.
Por tudo ela avança,
se espalha e desmancha.
Que céu cor de chumbo!
Que escuro é o mundo!
Com raios ou sem,
é chuva que vem.
Menino ao relento
brincou que era vento,
e aquela garota
fingiu que era gota:
“zum-zum!” e “plim-plim!”,
vão eles assim.
– Pra dentro, depressa,
que a chuva começa!
É a mãe a chamar,
e os dois a pular.
Mas soa o trovão:
“Fujona!” “Fujão!”
E os dois vão entrando,
brincando e brigando.
– É o sol que se acaba!
E a chuva desaba.
ESTRATO
– Quem me vê lá no horizonte
bem comprida?
Passo até por trás do monte
de corrida.
E me espicho bem bonita
no horizonte.
Formo faixa, formo fita,
formo ponte.
E, se o sol já vai chegando
ou partindo,
quantas cores vou pintando!
Oh, que lindo!
CIRRO
– Lá no alto, bem no alto,
uns novelinhos de lã
correm uns atrás dos outros
à tardinha ou de manhã.
E, de noite, até a lua
fez de conta que corria.
Eu olhei da minha rua,
e era assim que parecia.
O meu pai disse que são
cristais de gelo no céu.
Sei que lá correndo vão
parecendo um carrossel.
Minha mãe disse: “Menino,
olhe a chuva! Tome tento!
Olhe o ar como está fino!
Céu pedrento, chuva ou vento!”
***