peça de Ruth Salles
Nesta peça, as árvores representam os quatro temperamentos. O papel de cada árvore é representado por um grupo de crianças.
PERSONAGENS:
Coro
Meninas
Sol
Chuva
Chorões (temperamento melancólico)
Mimosas (temperamento sanguíneo)
Dombeias (temperamento fleumático)
Pinheiros (temperamento colérico)
As árvores estão abaixadinhas, enquanto o coro canta e o sol e a chuva passam. Aos poucos, elas vão-se erguendo, firmando os pés no chão e agitando os braços para cima, até terminar a música das sementes. Pode-se mesmo tentar uma espécie de dança das árvores.
CORO (canta):
“Semeie a semente
debaixo da terra.
O sol ela sente,
a chuva ela espera.
Para a terra ficar macia,
tenha as mãos cheias de amor.
Devagar brota o broto
e floresce então a flor.
A planta, na terra,
seus pés já espicha,
seu corpo levanta,
seus braços agita.
E as árvores logo crescem
sob o sol que tanto brilha,
são irmãs as mais diversas
dentro da mesma família.
A planta plantada
vai ramificando,
de folhas folhada,
seu fruto mostrando.
E o fruto amadurece
e um dia cai no chão.
E assim mesmo não se esquece
de que tem outra missão.
Pois sua semente
penetra na terra.
O sol ela sente,
a chuva ela espera.
E as árvores logo crescem
sob o sol que tanto brilha.
São irmãs as mais diversas
dentro da mesma família.”
MENINAS (apontam para as árvores):
– Quatro árvores amigas,
farfalhando pelo ar,
a cantar suas cantigas
sua história vêm contar.
O Chorão, pendendo, espia
a Mimosa a balançar.
A Dombeia principia
a dar mel e a cochilar.
O Pinheiro afia a agulha
e sobe alto e atento
a lutar com o ar e o vento.
CORO (fala alto):
– Aqui nesta roda
quem fala primeiro?
Chorão ou Mimosa?
Dombeia ou Pinheiro?
CHORÕES (agitando os braços para baixo):
– Que barulho! Fiquem caladas!
Na noite quieta é que me escondo,
quando há estrelas sossegadas,
e a lua vem cobrir meus ombros
com sua manta prateada.
Dá uma tristeza tão gostosa…
Também na tarde bem nublada
eu digo assim:“Nuvem chuvosa,
mande uma chuva demorada,
mande uma lágrima chorosa!”
Sou o Chorão. Quero chorar…
Se uma criança passa triste,
eu penso assim: “Então existe
alguém como eu, como o Chorão?”
E digo a ela: “Venha cá!
Sou seu amigo! Seu irmão!” (agitam de novo os braços e ficam quietos)
MIMOSAS (agitam os braços para cima e protestam):
– Não gosto disso, não!
Eu gosto é de risada,
eu gosto é da canção
que canta a criançada.
Eu visto-me de ouro!
Sou clara e luminosa,
pois eu sou a Mimosa.
De chuva é que eu não gosto.
Desmancha minha flor.
E ao vento bem disposto
eu digo: “Por favor!
Quer vir dançar comigo?”
E o vento é meu amigo.
Soprando com amor,
sacode e seca a flor.
À noite, que cansaço…
Estrelas a brilhar,
balançam-me em seus braços,
e eu fico a descansar… (fazem um balanço de berço e se aquietam.)
DOMBEIAS (de braços na cintura e pernas um pouco abertas):
– Eu sou a Dombeia.
Sou larga e copada.
De rama bem cheia,
sou bem sossegada.
O verão me trouxe
muitas abelhinhas.
Dei-lhes o mel doce
de minhas florzinhas.
E a abelha descansa
na flor cor-de-rosa.
Gosto de criança,
de pessoa idosa.
Se é quente o verão,
vem gente e se aninha
na sombra fresquinha
que deixo no chão.
Meu perfume alado
faz você sonhar,
e o vento, parado
põe-se a cochilar. (deitam a cabeça de lado nas mãos e se calam)
PINHEIRO:
– Sou o Pinheiro.
Copa espetada,
sou companheiro
da criançada.
“Êh, valentões,
sou seu amigo!
Belos pinhões
trago comigo.
Sabem que enfrento
o vento forte
da tempestade?
Isso é verdade!
Lá vem o vento!
Vem a voar,
sopra na gente!
Mas sou valente!
Espeto o ar
e venço o vento!
Você tem medo?
Venha, menino!
O meu segredo,
minha coragem
eu logo ensino!”
MENINAS:
– E as árvores, farfalhando,
em conversa muito amiga,
nem viram que fui passando
e que ouvi toda a cantiga…
É assim que a gente aprende,
e eu consigo repetir.
Mas, canto e ninguém entende.
Será que eu não soube ouvir?
(As árvores cantam junto com as meninas e o coro.)
CHORÃO:
“Bã-bã, poném, monanã, bem-bem,
padim, pim, boném.”
MIMOSA:
“Rarim-nha-nha-ri, rinhá, alhei,
nhonhô, rarim, nhá, alhei.”
DOMBEIA:
“La-li, mom-mom, lolã, lolã,
ô-mel-ô-meu-mel-li-lo-lã.”
PINHEIRO:
“Tinxá-vessexém, jojô, sim-já-vem,
xa-hei, xa-hei, tá-vessexém.”
Fim