16 de novembro de 2017

Noite santa

 

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peça de Ruth Salles

Peça de Natal baseada num conto de Selma Lagerlöf (1858 – 1940). São José sai à procura de brasa para fazer fogo e aquecer Maria e o Menino Jesus na gruta, mas só encontra um pastor rude e de má vontade. A transformação do pastor.

PERSONAGENS:
Coro dos Pastores que cantam; José, Pastor, Maria; Anjos, Ovelhas (pensar se as portas podem ser representadas por alunos)

O Pastor, com as ovelhas, fica do lado esquerdo da cena; o coro de pastores pode ficar no centro, ao fundo, escondendo o presépio, onde se encontram Maria e a manjedoura; José sai de trás do coro e vai para o lado direito bater às portas pedindo fogo; os anjos também devem estar escondidos atrás do coro de pastores.

JOSÉ (batendo à primeira porta, exclama):
– Boas almas, ajudem-me! Deem-me um punhado de brasas para fazer fogo! A noite está tão fria, e eu nada tenho… (espera um pouco e bate à segunda porta):
– Em nome de Deus, ajudem-me! Só peço um pouquinho de fogo para aquecer minha família!

CORO DE PASTORES (canta, enquanto José bate em mais uma ou duas portas, voltando-se depois, desanimado, para o lado oposto):
“Andava um homem de porta em porta,
pedindo fogo, a dizer
que uma fogueira na noite fria
devia acender.
Uma fogueira na noite fria
para a família aquecer,
pedia o homem, pedia,
ninguém queria atender.”

JOSÉ (olha ao longe, com a mão em pala na testa, e vê no extremo oposto o Pastor, com as ovelhas dormindo enroladinhas à sua frente):
– Vejo uma fogueira lá no campo. É um
pastor vigiando suas ovelhas. (grita):
– Ó de lá! Ó pastor!

PASTOR (levanta-se, zangado):
– Quem vem me aborrecer a esta hora?
(apanha no chão uma pedra):
– Ora, uma boa pedrada vai afastar seja lá quem for!
(levanta o braço e tenta jogar a pedra, mas não consegue; o braço desce e a pedra cai ao chão)
– Mas, como? Que é isso? Que está acontecendo?
(olha surpreendido para José, que vem chegando, e pergunta):
– Que quer você, homem?

JOSÉ:
– Pastor, em nome de Deus, ajude-me! Ceda-me
um pouco desse fogo. A noite está tão
fria, e eu nada tenho…

PASTOR (rindo, com pouco caso):
– Bem, se você conseguir passar no meio das
ovelhas sem assustar nem acordar nenhuma…
eu lhe dou um monte de brasas.
(O Pastor torna a se sentar, mas espia José. José vai passando no meio das ovelhas, e elas nem se mexem.)

PASTOR (para si mesmo, admirado):
– Mas, como? Como ele conseguiu?
(para José): – Afinal, quem é você, homem, e para que quer esse fogo?

JOSÉ:
– Pastor, minha mulher acaba de ter um filho,
e os dois estão enregelados…

PASTOR (ainda mal humorado):
– Está bem. Está bem. Mas eu não tenho
nenhuma pá que sirva para apanhar as brasas.
(sacode os ombros, com pouco caso)
Se quiser, pegue as brasas com as mãos.
(José se abaixa e pega um punhado de brasas com as mãos, sem se queimar.)

PASTOR (admirado):
– Mas, como? Que coisa estranha… Ele não se queimou!

JOSÉ:
– Obrigado, bom homem. (Vai-se afastando.)

PASTOR (indo atrás dele):
– Ei! Senhor! Senhor! Que noite é esta, em
que a pedra não fere, as ovelhas não se
assustam, o fogo não queima, e até as
próprias coisas parecem sentir amor?

JOSÉ:
– Venha comigo, e você verá.
(Os dois andam pela cena, pode-se ouvir flauta ao fundo; terminam sua volta diante do presépio, que agora está à vista. José aponta para o presépio, mostrando-o ao pastor.)

PASTOR:
– Hum… Só vejo aqui uma mulher com uma criança.

JOSÉ:
– Pastor, você está mesmo com os olhos fechados.

PASTOR (olha o céu e esfrega os braços, com frio):
– Que noite! (olha o presépio e começa a se comover):
– Que gruta tão fria… Que mãe tão sossegada… Que menino tão pequeno…
(José se abaixa, põe as brasas no chão e começa a abaná-las para fazer fogo.)

PASTOR:
– Mas, senhor, só essa brasa não vai aquecer ninguém!
(Subitamente resolvido, o pastor se inclina, tira sua grande capa e cobre com ela a mãe e o menino. Quando se ergue, os anjos já estão à vista.)

PASTOR (erguendo os braços e dirigindo-se a José):
– Oh, senhor! Meus olhos se abriram!
Que é isso que estou vendo? Quantos anjos!
(ajoelha-se diante da manjedoura)

TODOS (cantam, inclusive as ovelhas, que se levantam):
“– Andai, andai, ó pastores!
A luz do dia já vem.
Andai a ver o Menino
nascido lá em Belém.
Passai, passai, ó pastores,
por este portal sagrado.
Entrai a ver o Menino
na manjedoura deitado.
Ele vem, por nosso bem,
nascer tão pobre em Belém.
Ele vem, por nosso bem,
nascer tão pobre em Belém.”

 

Fim

 

 

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