peça de Ruth Salles
Esta peça se baseia na lenda tal como foi contada por Armando Moore10, em seu livro “Irmão Lobo, Irmã Cigarra”. Ela pode terminar com todos cantando o “Cântico de Louvor”, de Alois Kunstler e Clemens Brentano.
PERSONAGENS:
Coro 1, Coro 2, Frei Leão, São Francisco, A velha e o coelhinho
Os coros ficam ao fundo, em semi-círculo. As personagens vão-se destacando do coro e se movimentando na frente, à medida que for chegando sua vez.
CORO 1 (enquanto Francisco e frei Leão vão caminhando):
– Francisco, o bom irmão,
na estrada caminhava.
O amigo frei Leão
ali o acompanhava.
Mas foi escurecendo, (os dois andam mais devagar olhando o céu)
e a noite já caía,
e o frade, percebendo,
ao santo assim dizia:
FREI LEÃO E CORO 2:
– Que escuro de repente!
É bom que nós paremos.
Não vejo nada à frente.
Paizinho, descansemos!
FRANCISCO E CORO 2:
– Meu filho tem razão.
Aqui nesta paragem,
naquele casarão
teremos hospedagem.
(Os dois batem a uma porta invisível. O barulho pode ser feito pelos coros batendo os pés no chão. Aparece a velha.)
VELHA (zangada):
– Quem foi que me chamou?
Eu estava já deitada!
FREI LEÃO, FRANCISCO E CORO 2:
– A noite nos pegou.
Pedimos por pousada.
VELHA E CORO 2:
– A casa é apertada.
Não cabem dois nem três.
Não tenho nesta casa
lugar para vocês.
CORO 1:
– E a velha lhes dizia,
zangada e sem ter dó:
VELHA E CORO 2:
– Empresto a estrebaria
por uma noite só!
CORO 1 (enquanto Francisco e frei Leão se recolhem num canto e se ajoelham):
– Ali se recolheram
os dois com alegria,
e a Deus agradeceram
a humilde estrebaria.
Bem perto, num cantinho,
estava uma gaiola
prendendo um coelhinho (aparece o coelhinho agachadinho)
que nunca se consola.
O dia foi raiando… (Francisco e frei Leão se levantam)
Francisco e frei Leão,
saindo, vão louvando
a Deus e à Criação.
CORO 1:
– Agradecendo à velha,
perguntam com jeitinho:
FREI LEÃO, FRANCISCO E CORO 2:
– Por que está na gaiola
o pobre coelhinho?
VELHA E CORO 2:
– Porque, se a gente solta,
escapa e vai embora!
FRANCISCO E CORO 2:
– Prometo que ele volta
pra junto da senhora!
VELHA E CORO 2:
– Então eu vou soltar,
embora não convenha.
Mas se ele não voltar,
os dois vão rachar lenha!
CORO 1:
– E a velha libertou (ela faz gesto de abrir gaiola)
o pobre coelhinho.
Francisco o alisou (gesto de Francisco)
de leve… de mansinho…
Depois ele o deixou
no meio do gramado.
O coelho farejou
a grama com cuidado.
E logo foi saltando, (o coelhinho sai saltando)
correndo sem parar.
VELHA E CORO 2:
– Lá vai ele escapando!
E nunca vai voltar!
CORO 1 (enquanto o coelhinho volta e se põe aos pés de Francisco):
– Que nada! Vem voltando!
Bichinho tão arisco,
não é que foi deitando
aos pés de São Francisco?
CORO 1 E 2 (enquanto a velha abraça os dois):
– E a velha tão ferrenha
dá graças ao irmãos.
E os dois vão rachar lenha
de todo o coração.
TODOS (cantam o “Cântico de Louvor”):
“Qualquer animalzinho
pertence a ti, Senhor,
pois vive do carinho
de teu imenso amor.
Em teu louvor clamando vêm
a ave a cantar, o peixe a saltar,
a vespa a zumbir, a abelha a zinir;
e o camundongo a chiar
também te vem, ó Deus louvar.
Revoam mosquitinhos
nublando a luz do ar
e, mesmo pequeninos,
recebem teu olhar.
Em teu louvor… etc.
E vêm o sol e a lua
tão belos a luzir,
mas cada coisa tua
é igual diante de ti.
Em teu louvor… etc
Não cai um cabelinho
sem um desejo teu.
De todos os perigos,
resguarda-nos, ó Deus!
Em teu louvor… etc.
Fim