Peça de Ruth Salles baseada numa lenda sobre São Francisco
Dramatização de uma lenda encontrada no livro “I Fioretti”, preciosa obra da primitiva literatura italiana, com lendas relativas a São Francisco de Assis. Os dois coros falam junto com cada personagem. São Francisco e os frades usam túnica comprida e cruz. Música em escala pentatônica.
São Francisco e o Lobo de Gubbio
PERSONAGENS:
São Francisco
Dois ou três frades seus irmãos
O lobo
Coro (que também forma a muralha e o povo a quem o santo prega)
Cidadãs e cidadãos
Animais: boi, cabra, carneirinho, cão, gato, passarinho
Coro que faz o piar das andorinhas
Todos estão dentro da cidade, menos o lobo, que pode estar escondido atrás da muralha ou do coro das andorinhas.
TODOS (cantam):
“Na cidade de Gubbio
andava o santo Francisco,
na cidade de Gubbio.
Ao redor das muralhas
vivia um lobo feroz,
ao redor das muralhas.
E todo o povo, com pavor,
o servo pobre e seu senhor,
o boi, a cabra, o carneirinho,
o cão e o gato e o passarinho
pediam socorro a Deus,
pediam socorro a Deus.”
(O lobo começa a rondar a cidade)
TODOS (alarmados):
– Que vamos fazer?
ANIMAIS:
– Esse lobo enorme
come os animais!
CIDADÃOS (aos animais):
– Nem nós, nem vocês
devem ir lá fora!
Ele nos devora
um de cada vez!
CIDADÃS (aos cidadãos):
– Quanto prejuízo!
Nosso gado é morto,
nós somos feridos.
Chamem o senhor!
SENHOR (fugindo do lobo, sorrateiramente, bate na porta da cidade):
– Abram, por favor!
Peço proteção!
TODOS (espantados, depois de deixá-lo entrar):
– Chegou o senhor!
SENHOR (explicando):
– Para o meu castelo
eu ia voltando,
quando veio a fera
e foi me atacando.
Contra tal perigo
que faremos nós?
CIDADÃS (com desespero):
– Que faremos nós?
Muito já sofremos
e pouco podemos.
Que vamos fazer
com um lobo feroz?
SENHOR:
– Mas soube que aqui
veio se hospedar
o mais santo homem
de todo o lugar.
CIDADÃOS:
– É o bom frei Francisco.
Ele vem pregar
para a multidão,
para toda gente
desta região.
(Todos vão em direção a São Francisco e seus irmãos. Ouve-se o piar das andorinhas. Este trecho do sermão e das andorinhas pode ser tirado.)
FRADES:
– Com as andorinhas
voando e piando,
não se ouve nada
que ele está pregando.
SÃO FRANCISCO (fala às andorinhas):
– Minhas irmãzinhas,
eu devo pregar
para a multidão.
Fiquem bem quietinhas
e esperem até
o fim do sermão.
CIDADÃS E CIDADÃOS (vendo que as andorinhas se calaram):
– Elas se calaram!
Que coisa! Que espanto!
Deus abençoou
este homem santo!
SÃO FRANCISCO (fala à multidão):
– Amem-se uns aos outros,
queridos irmãos.
Perdoem ofensas
e uns para os outros
estendam a mão.
Confiem no Pai
e entreguem seus erros
ao Seu coração.
Nosso Pai celeste
lhes dará perdão. (até aqui vai o trecho do sermão e das andorinhas)
SENHOR (aos cidadãos de Gubbio):
– A um homem tão bom,
peçam de joelhos.
Quem sabe nos salva
seu santo conselho. (todos se ajoelham)
CIDADÂS:
– Ó bom frei Francisco,
um lobo terrível
ataca lá fora!
Corremos perigo.
Que fazer agora?
Só dentro dos muros
estamos seguros.
CIDADÃOS:
– Se saímos fora
de nossa muralha,
já nos preparamos
para uma batalha!
SÃO FRANCISCO (aos cidadãos de Gubbio):
– Sosseguem agora.
Nada de temor!
Eu irei lá fora
ver esse feroz
grande malfeitor.
CIDADÃS:
– Oh, não, frei Francisco!
SÃO FRANCISCO (fazendo o sinal da cruz):
– Não se aflijam mais.
Entrego-me a Deus.
Deus é meu Senhor.
(São Francisco vai para onde está o lobo; parte da “muralha” se ajoelha, para que os de dentro assistam a cena)
SÃO FRANCISCO (fala ao lobo, que arreganha os dentes):
– Irmãozinho lobo,
não me faça dano!
É em nome de Cristo
que o estou chamando. (O lobo fecha a boca e se senta aos pés do santo)
Irmãozinho lobo,
você tem causado
muito mal a todos,
devorando homens
destas redondezas
comendo animais,
aves indefesas,
que são seus irmãos,
que são criaturas
do divino Pai.
Você é chamado
de mau, de inimigo,
e isso, na verdade,
é bem merecido.
Mas sei que é a fome
que o faz atacar
qualquer criatura
em qualquer lugar. (O lobo concorda com a cabeça)
E embora o povo
aqui o deteste,
quero ver se a paz
se restabelece,
se todos perdoam
as suas ofensas.
Se você promete
não nos atacar,
ninguém nesta terra
o perseguirá. (O lobo abaixa a cabeça até o chão, concordando)
E eu lhe prometo
que todos aqui
lhe darão sustento
para toda a vida,
com um bom alimento. (O lobo torna a abaixar a cabeça)
Irmãozinho lobo,
se você concorda
em ser nosso amigo,
a cidade toda
lhe dará abrigo. (O lobo torna a abaixar a cabeça)
Porém eu exijo
que sua promessa
seja de verdade.
Estenda-me a pata
para que firmemos
o nosso tratado! (O lobo estende a pata na mão de São Francisco)
E agora me siga
em nome de Cristo! (O lobo o segue)
CIDADÃOS:
– Oh, céus! Que é isto?
O lobo concorda!
Vem acompanhando
o bom frei Francisco!
SENHOR:
– Abramos as portas! (abrem-se as portas; alegria geral.)
ANIMAIS:
– Milagre divino!
Que seja bendito
nosso frei Francisco!
CIDADÃS:
– Foi graças a Deus
que nos socorreu
este santo homem!
SÃO FRANCISCO:
– Agora, irmão lobo,
prometa de novo
que vai ser amigo
de todo este povo. (O lobo lhe estende de novo a pata)
CIDADÃS, CIDADÃOS E ANIMAIS:
– Ó amigo lobo,
nunca deixaremos
você passar fome!
TODOS (cantam):
“A cidade de Gubbio
agradeceu a Francisco,
a cidade de Gubbio.
Como foi combinado,
cuidaram todos do lobo,
como foi combinado.
E todo o povo, com amor,
o servo pobre e seu senhor,
o boi, a cabra, o carneirinho,
o cão e o gato e o passarinho
cantaram louvando a Deus,
cantaram louvando a Deus!”
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