Conto de tradição oral coletado por Ruth Salles
Certa vez, num dia em que São Pedro viera até à terra ver como andavam os homens, encontrou-se com um pobre e um rico que se queixavam da vida amargamente. O pobre se queixava daquilo que não tinha, e o rico daquilo que ainda queria ter.
Disse-lhes São Pedro:
– Não se lamentem assim, meus filhos! Queixas amargas tingem de escuro toda a doçura dos corações que estão à sua volta. Entreguem a Deus suas dores, e procurem tingir os corações que os rodeiam com as cores da aceitação, do contentamento, da esperança, da alegria simples, da generosidade, que são cores claras e belas. Quando seu tempo terminar aqui na terra, vocês verão que obra linda terão edificado com esses pensamentos de amor.
O pobre ouviu o que disse São Pedro e seguiu fielmente seus conselhos. O rico, porém, inquieto demais por tudo o que sonhava possuir, não tinha tempo nem vontade de pensar no que girava à sua volta, e assim foi vivendo de queixa em queixa.
No fim de seu tempo aqui na terra, encontraram-se os dois no céu, e o rico perguntou ao pobre onde é que estava morando. O pobre apontou-lhe bela mansão no alto de uma colina.
– Mas como? – reclamou o rico. – Então você mora aí tão confortavelmente, e eu, rico e importante que fui, vivo apertado num cubículo naquele grotão?
E, assim dizendo, foi queixar-se a São Pedro. O santo ouviu-o pacientemente e respondeu: – Ah, meu filho, todos os dias de sua vida o pobre me mandava um tijolinho aqui para o céu, só com sua atitude generosa, ao passo que, de você, só recebi o que deu para construir esse cubículo no grotão.
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