peça de Ruth Salles
Lenda Carajá
Jogral com algum movimento
PERSONAGENS:
Coro
Imaherô (a letra agá tem som aspirado), depois se transforma no urutau, ave noturna, do tipo do bacurau, que solta um grito melancólico.
Denakê, sua irmã
Seu pai
Tahina-Can, moço, aparece primeiro como velho. (letra agá aspirada)
TODOS:
– Tahina-Can, a Estrela Vésper do carajá,
Tahina-Can, a tua lenda quem vai contar,
quem vai contar?
IMAHERÔ (destaca-se do coro com seu pai e aponta o céu):
– Meu pai, eu quero aquele astro, Tahina-Can,
que ainda brilha depois da noite, pela manhã.
PAI:
– Imaherô, Imaherô, não pode ser!
Se ele mora no céu tão longe, não vai descer.
CORO (fala):
– Mas, noite alta, Imaherô, bem a seu lado,
viu um velhinho de barba branca, todo enrugado.
TAHINA-CAN (destaca-se do coro):
– Eu sou o astro Tahina-Can. Casas comigo?
IMAHERÔ (fala e vai fugindo):
– Eu, não! Eu, não! Eu quero um moço para marido!
CORO (enquanto Denakê se destaca do coro):
– Mas Denakê, a irmã menor, se aproximou.
Compadeceu-se do bom velhinho e se casou.
(Andam de braço dado, depois ele vai para a roça.)
CORO (continua):
– Tahina-Can, para o sustento da linda moça,
foi ensinar o carajá a fazer roça.
Porém, não quis que Denakê fosse espiá-lo.
Mas Denakê, preocupada, foi procurá-lo.
(Tahina-Can já como um moço)
DENAKÊ:
– Quem está aí?
TAHINA-CAN:
– Tahina-Can!
DENAKÊ:
– Não pode ser!
Ele era um velho, e eu vejo um moço aparecer!
CORO:
– Imaherô também o viu. Pôs-se a gritar!
IMAHERÔ:
– É meu! É meu! É só com ele que eu vou
casar!
PAI:
– Agora é tarde. Foi Denakê quem se casou.
E, com carinho, do bom velhinho ela cuidou.
CORO:
– Imaherô, de tanta inveja, subiu num pau,
soltou um grito, se transformou no urutau.
(Ela se transforma.)
TODOS:
– E assim o povo dos Carajás foi ensinado
a plantar milho e mandioca num bom roçado.
***