A criança de 11 anos
Por Cristina Maria Brigagão Abalos, Dora Regina Zorzetto Garcia e Vilma Lúcia Furtado Paschoa.
A relação da criança de 11 anos com a Natureza é intensificada pela apresentação do mundo das plantas. A partir da observação, o educador pode levá-la a refletir sobre esse universo silencioso que vai além do visível, além da matéria, com suas leis de desenvolvimento, formas geométricas e metamorfoses. Partindo da relação da paisagem vegetal com seu meio ambiente, surge, por exemplo, a percepção da diversidade regional do Brasil. Através desta abordagem, tem-se o caminho para investigar as diferenças naturais e socioculturais.
Os alunos podem ser conduzidos ao ambiente e à atmosfera das culturas antigas – Índia, Pérsia, Mesopotâmia, Egito e Grécia – por meio de relatos sobre essas civilizações e suas respectivas mitologias, e então percebem que os homens daquele tempo não pensavam, sentiam e agiam como nós. Eles veem como os homens foram deixando de ser nômades e se fixaram na terra, criando rebanhos, cultivando plantações e formando pequenas povoações. O educador pode ainda abordar a polaridade entre Esparta e Atenas, tanto na geografia, quanto em legislação, educação, costumes etc. e contar sobre a organização dos afamados jogos Olímpicos, que chegaram até nossos dias. É de sua responsabilidade orientar o anseio pela veneração de heróis, tão forte nessa fase, a fim de que os alunos não se fixem em ídolos artificiais. A poesia, quando associada às narrações históricas, enriquece-as e as preenche de significado. O vigor da linguagem cresce na fala em coro, onde ritmos variados, tais como dáctilos, anapestos* e outros, têm efeitos harmonizadores.
* Ver sobre esses ritmos no livro Aprendendo com Poesia, páginas 55 a 67.
Nesta faixa etária do desenvolvimento, a meta da linguagem é sedimentar cada vez mais a relação da criança com o tempo e o espaço. Procura-se despertar a sensibilidade para o estilo. Estimula-se a expressão individual, seja oralmente ou por escrito.
O TEATRO PARA CRIANÇAS DE 11 ANOS
A escolha da peça para uma criança de 11 anos abrange novos e variados elementos, tais como: texto mais longo, diálogos maiores, maior número de cenas em que as personagens contracenam e se movimentam mais.
Como exemplo prático, foi escolhida a peça “Deméter e Perséfone”. A experiência se inicia quando o professor conta a história da peça baseada no antigo mito grego. Os versos do coro podem ser ditos todos os dias, no início dos ensaios. Paralelamente, os alunos podem fazer desenhos, pinturas e redações, projetando suas vivências. Em seguida, de posse do texto, os alunos, em pequenos grupos, vão montando partes de cenas a serem apresentadas no grupo maior, como sugestões. O professor interfere fazendo as devidas correções e adequações. Observa-se que o aluno aos 11 anos é capaz de ser um colaborador mais efetivo e engajado no processo de montagem de uma peça. Mesmo assim, em ultima instância, é o professor quem define os papéis, uma vez que, por sua experiência, pode perceber qual o papel mais adequado a um aluno.
No texto “Deméter e Perséfone”, a linguagem é teatral, ritmada e poética, a ponto de parecer uma melodia. Existe uma cadência que flui da fala para o gesto, para o andar, para a movimentação no palco, que pode ser intensamente aproveitada. No trecho falado em coro “Salve Deméter, Mãe-Terra que cuida de todas as plantas”, as crianças podem movimentar-se no ritmo do hexâmetro, formado pelos pés métricos chamados dáctilos (longo-curto-curto), em que se dá um passo longo seguido de dois curtos. O passo longo recai sobre as sílabas tônicas e reforça as consoantes. Tal ritmo aumenta a concentração e a compreensão do texto. Assim, a criança pode vivenciá-lo com todo o coro, o que atua mais profundamente.
Além das músicas sugeridas na peça, podem-se utilizar melodias e efeitos sonoros que acompanhem o clima, através de instrumentos como flautas, címbalos, pequenas harpas, cítaras etc., desde que seu som não interfira com as vozes das crianças.
No processo de montagem de uma peça como esta, é fundamental que se deixe transparecer para o aluno a relação e a interação do homem dessa época com a natureza e sua vivência de polaridades: luz e sombra, expressas por Zeus e Hades, fartura e escassez, fertilidade e esterilidade, interiorização e exteriorização, inverno e verão.
Há inúmeras possibilidades de vivenciar tais polaridades. Sugerem-se aqui algumas práticas que poderão ser o ponto de partida para a criação de novas experiências.
Através da música, por exemplo, usando tons maiores e menores, agudos e graves, diferentes ritmos e instrumentos, os alunos podem perceber esses contrastes.
Outro recurso é fazer os alunos, envoltos em tecidos leves e claros, vivenciarem o texto que fala das ninfas e das plantas. Já com tecidos pesados e escuros, podemos sensibilizá-los para a atmosfera da terra sem Deméter: “Duro é o destino da terra…” Em ambas as situações, deixar que os alunos expressem livremente, através dos gestos, do caminhar e da mímica, seus sentimentos, ora de alegria e leveza, ora de desconsolo e profundo pesar. Também com tecidos escuros, caminhar arrastado, gestos pesados, cabeças inclinadas, semblantes tristes, pode-se vivenciar a dor de Deméter ao perder sua filha.
A partir daí, têm-se os elementos básicos para compor o figurino à moda grega, com poucos adereços, talvez coroas de flores ou folhas para caracterizar as “plantas”, tiaras prateadas para as ninfas, uma braçada de espigas de cereais para Deméter e duas capas diferentes para Perséfone, mostrando o tempo que passa com Hades (inverno) e o que passa com sua mãe Deméter (verão).
Não há necessidade de um cenário propriamente dito. O ambiente pode ser criado com a utilização de tablados de madeira: num nível mais alto, erguem-se de modo irregular panos claros formando pregas, volumes e transparências, caracterizando assim o Olimpo; num canto do palco, usam-se os mesmos recursos para compor o mundo de Hades, mas utilizando cores mais escuras. O plano intermediário, a Terra, pode ficar abaixo e na frente do Olimpo. Alguns efeitos de luzes podem realçar os contrastes de um cenário simples.
Com outras peças desta faixa etária, procure realizar a montagem usando uma ideia apenas semelhante a este exemplo dado. Mas, não se prenda à da peça escolhida aqui como exemplo.