3 de fevereiro de 2019

Teseu e o Minotauro

 

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peça de Ruth Salles

Esta peça, feita a pedido da professora Melanie Mangels Guerra, é um coro grego, composta em hexâmetros, e que deve ter bastante movimento e leveza, além de força no momento da luta de Teseu com o Minotauro. No início, em vez de pedir que a Musa cante, peço que ela se mova na voz dos aedos, pois quis citar esses poetas da Grécia antiga, que recitavam ou cantavam ao som da lira, numa época em que todas as histórias eram transmitidas por via oral. Dois alunos podem representar os aedos, sentados de um lado com uma lira nas mãos ou um outro instrumento semelhante. A música que houver deve ser, se possível, em estilo modal grego.


CORO DE MENINOS:
– Move-te, ó Musa, na voz dos aedos contando e cantando!
Cantam na lira a ira que arde no deus do Oceano.
Ele, Poseidon, traído por Minos, que reina em Creta,
sente uma sombra rolar em seu peito: vingança secreta.

CORO DE MENINAS (que exclamam, assustadas):
– Oh, nesta ilha tão bela se atrela um destino funesto…
Para o rei Minos um filho nasceu com cabeça de touro!
Se ele tem fome, só come os humanos! Atroz Minotauro!

MINOS (chama Dédalo):
– Dédalo!

DÉDALO (aparece rápido): – Sim, ó rei Minos!

MINOS: – Tu és meu melhor engenheiro.
Ergue-me um bom labirinto. Ali ficará prisioneiro
o Minotauro feroz. Que meus servos o ponham lá dentro!

(Dédalo constrói o labirinto. Música. Movimentação.)

MINOS (proclama):
– Eis minha nova exigência aos gregos que pagam tributos:
quero que, todos os meses, em vez de riqueza e produtos,
mandem-me sete donzelas e sete robustos rapazes
como alimento do meu Minotauro de fomes vorazes.

DÉDALO (horrorizado):
– Rei, é assim que usarás o que teu engenheiro projeta?
Oh, é terrível demais. Eu desejo ir embora de Creta.

MINOS:
– Dédalo, isso jamais deixarei. Obedece ao teu rei. (Avisa alto):
– É proibido aos veleiros levar meu melhor engenheiro! (sai)

DÉDALO (consigo mesmo):
– Hei de escapar. Se as aves têm asas e podem voar,
asas irei coletando, com cera juntando e colando
umas nas outras, e faço uma tira de couro bem forte,
para prender essas asas em mim. É meu novo transporte.
Levo meu filho na fuga comigo. (chama Ícaro) – Vem, Ícaro! Vem!

ÍCARO:
– Pai! Eu ouvi tua trama. Estou pronto e quero ir também! (saem)

CORO DE MENINAS:
– Ah, desejamos que Dédalo e Ícaro voem no ar.

CORO DE MENINOS:
– Ícaro é jovem demais. E será que obedece a seu pai?
Não deverá chegar perto do sol, pois a cera derrete.
Não deverá chegar perto do mar, pois a cera se molha.

CORO DE MENINAS (olhando ao longe):
– Ah, um dos dois conseguiu! Escapou esse audaz viajante!
Dédalo! É ele! E pousa com as asas na Grécia distante!
Chora ao ver que nas águas se afoga o filho imprudente:
“Ícaro, Ícaro, a cera derrete-se ao sol escaldante!”

MINOS (entra, furioso):
– Como será que fugiu o melhor engenheiro de Creta?
Ele não estava no barco que hoje partiu pelo mar
para levar minhas ordens à Grécia. Ousou escapar!

CORO DE MENINAS:
– Ordens terríveis! As sete donzelas e os sete rapazes!
Eles serão alimento do monstro de fomes vorazes!
Choram os gregos de todas as partes em triste lamento.
Esse rei Minos da ilha de Creta não tem sentimento.

CORO DE MENINOS:
– Há salvação! Em Atenas, Teseu, o herói, se apresenta!
Já decidiu ir com os jovens, porém o seu pai argumenta.
Ele é Egeu, rei de Atenas. O filho o escuta calado.

EGEU:
– Ouve, Teseu! Se partires com os jovens, serás devorado.
Sim, é terrível o monstro de Creta, o feroz Minotauro!

TESEU:
– Fica tranqüilo, meu Pai, pois eu hei de vencer o inimigo.
Olha estas jovens chorando. Não posso fugir ao perigo.

EGEU:
– Creio, Teseu, que os deuses me ouvem. Darão seu auxílio.
Leva esta bênção de um pai que confia na sorte do filho.

CORO DE MENINOS:
– Segue o veleiro nas ondas e aporta na ilha de Creta.
Descem os jovens e são recebidos com lauto banquete.

(Aqui pode haver uma dança.)

CORO DE MENINAS (enquanto a ação se passa):
– Leva a princesa Ariadne os jovens a seus aposentos.
E finalmente o valente Teseu se recosta em seu leito.

TESEU (ouve alguém bater na porta):
– É noite alta, e batem à porta? (abre e se surpreende) – Princesa Ariadne!
Com tua grande beleza, esta cela parece que brilha!

ARIADNE:
– Nobre Teseu, sei que és um herói. Vim propor meu auxílio.
Trouxe esta espada, que é mágica, e este novelo de fio.
Prende uma ponta na entrada daquele fatal labirinto.
E, desfiando o novelo, aos poucos alcanças o centro.
Lá, com a espada, enfrenta e vence o feroz Minotauro.
Volta depois enrolando o novelo que foi desfiado,
pois só assim acharás novamente o local da entrada.

TESEU:
– Ah, ofereces aos gregos, princesa, um socorro bendito.
Eu te agradeço.

ARIADNE: – E eu imploro, Teseu, que me leves contigo,
quando voltares a salvo com os jovens à terra da Grécia.
É tão cruel o rei Minos…

TESEU: – Ariadne, viajas comigo!
Fica à espera e dá meu aviso aos jovens que eu trouxe.

CORO DE MENINAS (assistindo a cena que se passa):
– Corre Teseu, sorrateiro, chegando ao fatal labirinto.
Prende na entrada uma ponta do fio e desfia o novelo.
Dá muitas voltas o herói. E mais voltas. Domina seu medo.
Leva a espada encantada empunhada bem junto do peito.

CORO DE MENINOS (assistindo a cena que se passa):
– Olha, Teseu! Já pisaste no centro. Eis o monstro! Ele agride!
Põe o novelo no chão! Tem cuidado! Agarra seu chifre!
Dobra-lhe a grande cabeça! Assim! Com a espada em riste,
corta-a e mata o feroz Minotauro! Venceste, Teseu!

CORO DE MENINAS:
– Volta o herói. Vem correndo, enrolando o novelo de fio.
Ah, se não fosse a princesa lhe dando um socorro bendito…

CORO DE MENINOS:
– Vão para a Grécia voltando Teseu e a bela Ariadne.
Juntos velejam as sete donzelas e os outros rapazes.

CORO GERAL:
– Glória aos deuses que assim inspiraram princesa tão linda!
Glória a Teseu que livrou tantos jovens de um triste destino!

 

F I M

 

 

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