Conto de Ruth Salles
De como um coelhinho, e outros bichinhos, fizeram para Jesus ovos de chocolate…na Páscoa!
Imagem: Professora Ana Maria, da Escola Sabiá, apresenta um teatro de mesa com a história ‘O coelhinho e o pé de cacau’.
No tempo em que Jesus, o Filho de Deus, andava ainda aqui na terra, achou-se Ele num vasto campo em pleno domingo de Páscoa. Sentindo fome, viu que nada havia ali que pudesse comer. Nisto, passou pulando um coelhinho, que corria e parava, corria e parava, abanando as orelhas e fuçando a terra, em busca de alguma cenoura dourada. Jesus, vendo-o, chamou:
– Coelhinho amigo, não tem você um ou dois ovos com que eu possa saciar minha fome? Andei muito, e meus pés estão cansados – disse e sentou-se numa pedra que ali havia.
O coelhinho, admirado com o esplendor da figura do divino Mestre, respondeu:
– Ah, Senhor, eu não ponho ovos, mas vou até o bosque bem depressa e logo lhe trago alguns.
E lá se foi apressado em direção aos primeiros arbustos. Encontrando então uma corça, que mastigava umas folhinhas macias, perguntou:
– Ó linda corça, você não tem aí uns ovos com que o Senhor Jesus possa saciar sua fome?
– Ah, coelhinho – respondeu a corça – eu não ponho ovos, mas corra pelo bosque adentro que você com certeza os encontrará.
O coelhinho embrenhou-se na mata, arranhou-se nos espinhos, tropeçou nas pedras, escorregou no limo, mas não esmoreceu. Perguntou daqui, perguntou dali, ao rato-do-campo, ao esquilo, à raposa, a uma vaquinha que pastava na orla do fim do bosque, até à minhoca saltadeira e fujona, mas a resposta era sempre a mesma. Ninguém tinha ovos para oferecer. Com as aves ele não pôde falar, tão alto elas voavam; com os peixes também não, tão fundo eles nadavam no rio que cortava a mata. O coelhinho estava já desanimado e aflito quando, de repente, deparou com uma arvorezinha cheia de ovos pendurados em seus ramos. Eram uns ovos marrons, cascudos, mas assim mesmo o coelhinho encheu-se de coragem e exclamou:
– Ó árvore amiga, o divino Jesus me pediu uns ovos para saciar sua fome. Você me pode dar os seus, para que eu os leve até ele?
A arvorezinha achou tanta graça que começou a rir, farfalhando as folhas, rangendo as raízes, balançando os galhos, até que seus ovos marrons bateram uns de encontro aos outros, fazendo “cloc, cloc, cloc”.
– Mas, coelhinho – ela disse – eu não ponho ovos!
– E esses aí que você leva nos braços?
– Ah, estes são meus frutos. Eu sou um pé de cacau, e cada ovo que você pensa ver é apenas um cacau.
– Oh! – disse o coelhinho, muito triste. – Que farei agora? Nenhum animal do bosque tem ovos para oferecer. Com as aves não pude falar, tão alto que voavam. Com os peixes também não, tão fundo eles nadavam no rio.
– Ora, não se aflija – disse a árvore. – Havemos de dar um jeito. Já que você quis meus frutos, eu os darei.
Assim disse; e sacudiu com tanta força e energia seus ramos, que os cacaus caíram na terra.
– Agora – ela continuou – corra a chamar todos os animais que puder, e eu lhes ensinarei a fazer uma mistura dentro dos meus frutos.
Num instante, ali se reuniram muitos animais do bosque e, ouvindo os ensinamentos da árvore amiga, cozinharam e moeram as sementes do cacau, misturando mel, baunilha e quanta coisa mais, fazendo assim, pela primeira vez na terra, o chocolate. Depois, meteram essa massa de novo dentro dos frutos. A árvore, então, estendeu para o céu seus ramos mais leves e apanhou coloridos raios de sol, com que os animaizinhos pintaram a grossa casca de cada cacau. Os peixes, subindo à tona d’água e vendo o que se passava, sacudiram suas brilhantes escamas e salpicaram de luz prateada todos os ovos. Os passarinhos, olhando aquela cena, desceram das alturas, apanharam quantos gravetos encontraram e teceram um lindo cesto, onde foram postos os ovos coloridos. Depois, com a ajuda de todos, o cesto foi amarrado nas costas do coelhinho e enfeitado com folhas e flores de muitas árvores.
– Obrigado! – exclamou o coelhinho. – Obrigado a todos!
E saiu correndo feliz pelo bosque afora, até chegar aos pés de Jesus. Este sorriu com muito amor e agradeceu, afagando-lhe as orelhas pontudas.
O coelhinho, que não cabia em si de contente, corria e pulava ao redor do Mestre, e tanta algazarra fez que atraiu uma porção de crianças, filhas dos camponeses que trabalhavam naquele campo. Com elas o divino Mestre repartiu os ovos coloridos, enquanto o coelhinho, arrebitando as orelhas, pensava:
– Como foi difícil procurar esses ovos pelo bosque adentro… Mas valeu a pena! Quando eu pensei que tudo estivesse perdido, tudo foi conseguido.
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