23 de maio de 2017

As Aventuras da Gotinha D’Água

 

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Peça de Ruth Salles sobre o ciclo da água

Aquarela de Mônica Stein

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As Aventuras da Gotinha D’Água é um poema de Ruth Salles sobre o ciclo da água, baseado em um conto de Walther Pollatschek. Há muitos anos que esse poema é declamado pelas crianças das escolas Waldorf, e as ajuda a aprender sobre o ciclo da água de forma lúdica e poética.

Também disponibilizamos um lindo livro com este texto ilustrado em cores por Mônica Stein Aguiar, e disponível na LOJA.

As Aventuras da Gotinha D’Água

Que fazia a gota d’água
balançando pelo ar,
numa nuvem bem sentada,
bem contente a passear?

“Como é lindo”, ela pensava,
“ver o céu azul anil!”
E o sol que ali raiava
bom calor lhe transmitiu.

Lá de cima o que ela via?
As florestas, as campinas;
e as estradas pareciam
umas fitas pequeninas.

Lindas asas rumorejam.
“De onde vem, ó passarinho?”
“Venho lá da terra verde.
Vim voando de mansinho.

Esta nuvem muito gorda
bem escura está ficando.
Já vou indo, dona gota.
Vou voando, vou voando.”

“Também quero, passarinho!
Logo atrás irei seguindo!”
E saltou devagarinho:
“Já vou indo, já vou indo!”

E, pulando ao lado dela,
muitas gotas vão também.
“Que será que há lá na terra?
Que surpresas ela tem?”

Lá embaixo, toda gente,
vendo as gotas que caíam,
levantavam de repente
guarda-chuvas que se abriam.

E já grita a criançada:
“Como chove lá do céu!
Vou pisar na poça d’água,
vou molhar o meu chapéu!”

Um menino ria, ria.
Nem se entende o que ele diz,
pois caiu uma gotinha
logo ali no seu nariz.

Era a gota nossa amiga.
Do nariz caiu ao chão
e entrou num buraquinho
que era só escuridão.

Tantas gotas, tantas gotas
já cercavam a gotinha…
E a terra ficou fofa
no lugar onde escorriam.

As raízes de uma planta
lhes pediram de beber,
e umas gotas – pois são tantas –
as raízes vão sorver.

E onde foi nossa gotinha?
“Quero ver a luz do dia!”
E, avistando um buraquinho,
bem depressa escapulia.

Desse túnel onde estavam,
quantas gotas vêm saindo!
Uma fonte já formavam.
“Aqui fora como é lindo!”

Tantas gramas, tantas flores,
no caminho tanta gente!
Borboletas multicores
vão voando reluzentes.

Quantas gotas vêm chegando!
Já chegou uma porção.
E as crianças vêm em bando
se banhar no ribeirão.

Há peixinhos dentro dele,
há libélulas no ar,
há conchinhas nas areias,
caracóis a rastejar.

Vem um outro riachinho
se juntar ali também.
Vão formando um grande rio.
Quantas gotas ele tem!

Um barulho de repente.
“Que será essa surpresa?
Será vento, será gente?”
São as águas da represa!

Como é grande o burburinho
no canal onde ela está!
É a roda do moinho:
pam, pam, pam e plá, plá, plá.

Pois a água move a roda
presa em ripa de madeira,
e a ripa, a cada volta,
move as pedras do moleiro.

Essas pedras são as mós.
Moem trigo o tempo inteiro.
E a farinha, logo após,
fica pronta pro padeiro.

Mas a gota saberá?
Qual o quê! Não sabe nada.
Ela pula numa pá
e vai indo em disparada.

Muitas gotas se separam.
Vão pras casas das pessoas.
E as mulheres cozinharam,
comidinhas muito boas.

Como o rio é largo e fundo!
De mil rios é formado.
Vai rolando pelo mundo,
banha agora um povoado.

Diz a gota a murmurar:
“Ai, que peso estou levando!
Venham todas ajudar!”
E o navio vai passando.

“Vão gotinhas, vão rolando!
Outras águas já souberam
que vocês estão chegando.
Numa praia elas esperam!”

“Nossas margens onde estão?”,
diz a gota a se espantar.
“Há só água e amplidão?”
Essas águas são do mar.

Quanta espuma, quantas ondas,
quanta praia, quanto céu!
E as gotinhas vão redondas
a brincar de déu em déu.

“Eu cheguei até a areia
e de novo aqui estou.”
“E eu entrei numa baleia
que de volta me esguichou.”

“Olhe o sol como está quente,
e que leve estou ficando!
Vou subindo, minha gente,
para o céu estou voltando!”

“Eu bem que senti saudade,
no fundo do coração,
daquela nuvem branquinha
parecendo um algodão.”

E de novo a gota d’água,
balançando pelo ar,
numa nuvem bem sentada
lá se foi a passear.

E, num dia muito frio,
com seu casacão de neve,
novamente essa gotinha
desce, desce bem de leve.

E um menino, aqui na terra,
avisou: “Está nevando!”
Quantas gotas elas eram,
nos casacos se embrulhando?

E cobriram toda a grama
com a neve assim quentinha,
e dormiram nessa cama
muito tempo bem quietinhas,

até vir a primavera
e o degelo começar.
E agora, pela terra,
uma fonte vão formar.

E depois um riachinho,
e depois um ribeirão,
e um rio com navios,
e o mar na imensidão.

“Olhe o sol como está quente,
e que leve estou ficando!
Vou subindo minha gente,
para o céu estou voltando!”

“E agora, gota d’água,
esta história acaba assim?”
“Quem lhe disse que ela acaba?
Essa história não tem fim!”

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