7 de novembro de 2017

O estranho som

 

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poema de Ruth Salles

No mundo ao meu redor a onda corre:
partículas de ar que vão seguindo,
empurradas por tudo que se move
e que se choca ao ar e vibra, infindo;
e, nesse encontro, o estranho som vem vindo,
num ondular que nunca se dissolve.

Ninguém vê a energia assim rolando.
Um chiado, um ranger, tanger de sino,
um sopro leve, folhas farfalhando,
um alto brado, um riso de menino,
um surdo ribombar, um choro fino,
até nossos ouvidos vêm chegando.

Desde o primeiro movimento, um dia,
quando o Verbo de Deus girou os mundos,
sóis em chamas, planetas, luas frias,
pedras rolando em seu dormir profundo,
plantas nascendo fazem, num segundo,
correr rumores por eternas vias.

E o som dos animais, em várias gamas,
em urros, mios, trinos e assobios,
batendo as asas, tremulando escamas,
patinhando no mato ou junto aos rios,
criam ruídos leves ou bravios,
da ovelhinha que bale ao boi que brama.

E o homem vem e, em seu aprendizado,
sente brotar do fundo da garganta
o som do seu pensar elaborado,
e solta então a própria voz, e é tanta
a força desse som que o ar levanta,
que nele, enfim, o Verbo é renovado!

 

 

***

 

 

 

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