1 de agosto de 2020

Santa Clara e São Francisco

 

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peça de Ruth Salles

peça para 3 personagens e coro cantado

NOTA

Esta peça, feita de início para a Escola Travessia, conta, em quatro cenas, a vocação de Francisco de Assis e Clara. Francisco chamava-se originalmente João Bernardone, mas seu pai, rico negociante de tecidos, ao voltar da França, passou a chamá-lo de “francês”, ou seja, Francisco. De Clara, sabe-se que era de família nobre, mas não se tem notícia de seu sobrenome. Clara e Francisco nasceram no século XII, ele por volta de 1181, e ela talvez em 1194. Ambos ouviram o chamado da senhora Pobreza e abandonaram sua vida de riqueza, para viver simplesmente. Em 1209, Francisco conseguiu fundar a Ordem dos Franciscanos, tendo fundado em 1212 a Ordem das Clarissas, para Clara e as mulheres que a seguiram. Consta que até sua mãe e suas irmãs se uniram a ela, e que ela teve, várias vezes, o dom de cura. A figura de Francisco de Assis impressiona por seu amor a toda a humanidade e a toda a Natureza. Antes de morrer, ele já apresentava em seu corpo o milagre dos estigmas das chagas de Cristo. Francisco de Assis compôs o belíssimo “Cântico do Irmão Sol”. Conta-se que o primeiro presépio foi montado por ele, com um boi e um burro de verdade. Segundo uma lenda, nesse momento ele segurou no colo o próprio Menino Jesus. A música eu mesma fiz.        Ruth Salles

PERSONAGENS

Francisco, Clara e sua ama.
Coro que canta.
O boi e o burro do presépio talvez possam ser representados por crianças de
outra classe.

As cenas se passam em Assis, na Úmbria.

 

CENA 1

Rua e casa de Clara. Porta da casa de Francisco.
Clara e sua velha ama vêm, da janela, Francisco passar pela rua.

FRANCISCO (canta – junto com o coro – enquanto as duas ouvem):
“Estou voltando da guerra!
Meu Deus me mandou voltar.
É pelo amor na terra
que terei de guerrear.
Sou filho de mercador
que ganha muito dinheiro,
mas só a Jesus Senhor
servirei o tempo inteiro!
Estou voltando da guerra!
Meu Deus me mandou voltar.
É pelo amor na terra
que terei de guerrear.
Sou grato à verde grama
por onde segue meu passo.
Às árvores da montanha
eu envio meu abraço.” (ele passa e sai)

CLARA:
– Ouve, minha boa ama!
É Francisco! E como canta!
Fala do amor pelo próximo
e da gratidão às plantas.
Não quis mais sua armadura,
nem a riqueza da roupa.
Deu tudo aos soldados pobres
e veste um saco de estopa.

AMA:
– Tampa os ouvidos, menina!
És filha de gente fina,
de nobres de grande gala! (Francisco já vem passando de novo)

CLARA:
– Mas, ouve como ele fala
dizendo coisas tão belas.

AMA:
– Age melhor quem se cala.
Menina, fecha a janela.

(A ama vai para dentro da casa. Clara continua ouvindo por traz da veneziana.)

FRANCISCO (caminha, exclamando):
– Louvo a Natureza tua,
ó Senhor, o sol, a lua,
as estrelas cintilando,
o rio que vai passando.
Louvo a água preciosa
e louvo o espinho e a rosa.
Todos os animaizinhos
merecem o meu louvor.
Aos ricos e aos pobrezinhos
ofereço meu amor.
Gosto do vento que voa,
do fogo com seu clarão,
e da criatura boa
que oferece seu perdão.
Senhor, o que aconselhaste
eu farei de coração.
Vou restaurar as ruínas
da igreja de São Damião.

AMA (volta e se zanga com Clara):
– Estás aí de vela acesa
ouvindo esta serenata?
Nem pareces a princesa
coberta de ouro e prata!

CLARA:
– Ama, nada disto vale.
Só esta grande certeza
do meu coração.
Francisco deixa a riqueza,
prefere a dona Pobreza.
E vai restaurar a igreja
de São Damião.

 

CENA 2

Rua e casa de Clara. Porta da casa de Francisco, por onde ele sai.
Clara e a ama continuam à janela.

FRANCISCO (fala para a porta aberta, como se falasse com o pai):
– Pai, peguei teus ricos panos
para agasalhar os pobres.
O inverno os está matando,
e temos pano de sobra.
Fica com tudo o que tens,
pois isso foi teu trabalho.
Sou, para ti, só alguém
que teu negócio atrapalha.
E eu não quero esse tanto,
que tu me ofereces, pai!
O bispo me deu seu manto.
Eu não quero nada mais.
Adeus! Estou indo embora.
Vou viver na singeleza.
Agradeço a Deus agora
e à minha irmã Natureza.

AMA (enquanto Francisco vai indo embora de casa):
– O pai de Francisco se enfureceu,
porque ele o desobedeceu.
Sem nada levar consigo,
ele já está indo embora.
Como vai viver agora?

FRANCISCO (caminha falando):
– Senhora dona Pobreza,
minha irmã de mais beleza…
Eu como o que acho no monte
e bebo a água da fonte.
Lá na solidão do campo
ouvirei as andorinhas,
e eu agradeço o canto
de tão boas irmãzinhas.
A árvore é bom abrigo.
Suas folhas são as telhas.
Farei do lobo um amigo.
Conversarei com as ovelhas. (Francisco vai andando e saindo)

CLARA (sai da casa com a ama; ouvem-se sons de vozes):
– Não estás ouvindo, ama,
as vozes dos que padecem?
Francisco já os consola.
São vozes que agradecem
por todo o bem que ele faz!
São tantos seus seguidores,
são tantos… Cada vez mais!

AMA:
– Menina, estás sempre a sonhar, a sonhar…
Teu pai procura um noivo para ti.
É um casamento o que ele quer propor.

CLARA:
– Ai, minha ama, eu não vou aceitar.
Acho que nem posso continuar aqui.
Eu só quero servir a Deus Nosso Senhor.
Vou procurar Francisco e ver se consigo
o seu conselho amigo.
Ama querida, adeus por agora! (Clara sai correndo)

AMA:
– Nada posso fazer… Lá vai ela embora!

 

CENA 3

Campo perto da porta da igreja de São Damião
Encontro de Clara com Francisco.

FRANCISCO:
– Queres deixar tua riqueza antiga
e viver de esmolas como uma mendiga?

CLARA:
– A pobreza é rica. É a melhor amiga.

FRANCISCO:
– Queres que te corte esta linda cabeleira
que deixaste crescer a vida inteira?

CLARA:
– A vaidade nunca foi minha conselheira.

(Se houver possibilidade de uma espécie de peruca, o cabelo é cortado curto.)

FRANCISCO:
– Vais viver sozinha em São Damião.
Todo dia virei trazer teu pão.

CLARA:
– Logo outras amigas também virão.

FRANCISCO:
– Eu já tenho a Ordem da Irmã Pobreza…

CLARA:
– … onde só se vê alegria e beleza.

FRANCISCO:
– Teremos agora a Ordem das Mulheres Pobres…

CLARA:
– … onde os sentimentos serão os mais nobres.

 

CENA 4

Campo perto da porta de São Damião.
O presépio com boi, burro, José, Maria e a manjedoura.

CORO (canta):
“O primeiro presépio quem foi que montou?
Francisco de Assis, Francisco de Assis.
Com um boi e um burro que perto encontrou.
Francisco de Assis, Francisco de Assis.
O Francisco é José, e a Clara é Maria,
com tanta alegria, com tanta alegria.

Os irmãos e irmãs assistem contentes,
e muito mais gente, e muito mais gente.
Mas, na manjedoura se vê um clarão.
Francisco se curva e o pega na mão.
E ele vê que carrega o Menino Jesus,
repleto de luz, repleto de luz!”

 

F I M

 

 

 

 

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