peça de Ruth Salles
Baseada num esboço, feito pelo professor Christiano W. Loewens. As duas músicas são em escala pentatônica.
PERSONAGENS: Coro, São Martinho, três meninos de rua, o cachorro; o diabo,
o anjo; o pai e a mãe de Martinho; o velho soldado Marcos;
César, a corte (damas e cavaleiros); os três soldados, o
mendigo; o vento frio.
(As personagens saem do Coro no momento de atuar, depois voltam a ele.)
CORO (fala ou canta):
“São Martinho, tão querido,
homenageamos.
Seguidor de Jesus Cristo,
hoje nós o louvamos!
Seu trabalho dedicou
aos necessitados.
Com bondade e com amor,
eram ajudados.
Ao Senhor ele rezava,
e o doente se curava.
O malvado, a quem falava,
já voltava ao bom caminho,
graças a Martinho.”
CORO (fala, enquanto Martinho encontra o cachorro e cuida dele):
– Pelas ruas da cidade,
São Martinho vinha vindo,
quando, dentro de uma vala,
um cãozinho ouviu ganindo.
São Martinho, caridoso,
limpou logo a ferida,
enfaixando cuidadoso
a patinha dolorida.
1º MENINO (chamando os outros dois e caçoando):
– Olhem! Olhem lá o Martinho,
o protetor dos cachorrinhos!
2º MENINO:
– O curador de cães e gatos!
O aplicador de esparadrapos!
3º MENINO:
– Martinho está ali sentado
com os bichos todos a seu lado!
SÃO MARTINHO (enxotando-os):
– Fora daqui! Fora daqui!
Ah, se eu tivesse um bastão na mão,
dava aos três uma boa lição!
(ao 3º menino, que ficou parado de susto, enquanto os outros fogem):
– Que foi, menino? Que foi?
E por que está olhando
para mim dessa maneira?
Ah, não fique assim chorando.
Eu falei por brincadeira.
3º MENINO:
– É que sou pobre… e mendigo.
Mas, se peço alguma esmola,
todo mundo some.
E eu estou com tanta fome…
SÃO MARTINHO:
– Pois sente-se aqui comigo.
Eu parto em dois o meu pão, (parte o pão e estende a metade ao menino)
e a metade é sua, amigo.
(antes de comer, reza de joelhos):
– São Jorge, faça de mim
um soldado bem valente,
que só luta pelo bem
com a espada reluzente!
(Os meninos e o cachorro voltam ao coro. Destacam-se agora o diabo e o anjo, e depois o pai e a mãe de Martinho.)
DIABO:
– Venha cá, meu bom Martinho!
A fama lhe vim propor:
você será cavaleiro
feroz e dominador.
É a glória que ofereço.
Bom começo!
ANJO:
– Venha cá, meu bom Martinho!
A fama não vim propor.
É muito mais importante
ajudar o sofredor.
É a paz que lhe ofereço.
Bom começo!
SÃO MARTINHO:
– Ouço palavras fortes aqui,
ouço palavras suaves ali.
Responda agora, meu coração:
a qual dos dois darei razão?
E qual dos dois devo seguir?
Para que rumo devo meus passos conduzir?
PAI:
– Veja bem, eu sou seu pai.
Obedeça a mim primeiro.
Siga sempre a lei de César
para ser um cavaleiro.
Segure agora esta espada,
ponha aos ombros esta capa
e vá por aquela estrada!
(São Martinho pega a espada e põe a capa nos ombros.)
MÃE:
– Dê sempre socorro aos outros,
ó querido filho meu!
Na vida, sempre se deve
servir a Deus!
SÃO MARTINHO:
– Conselhos de pai e mãe
eu obedeço.
Vou servir o grande César
como começo.
Onde estaria
o velho soldado Marcos?
Quero sua companhia,
pois com ele aprendo as regras
da cavalaria.
(O velho soldado Marcos se destaca do Coro, e os dois caminham juntos. César, sua corte e os três soldados se destacam também.)
SÃO MARTINHO:
– Salve, César!
É Martinho quem saúda.
Pode contar com minha ajuda.
CÉSAR:
– Martinho, vá para a guerra
com os soldados desta terra.
SÃO MARTINHO (mostrando a espada):
– Não vou ferir ninguém com isto.
Sou soldado de Jesus Cristo.
É sem armas que vou vencer.
E o inimigo vai-se render.
CORO:
– E foi isso que aconteceu.
O inimigo se rendeu.
Martinho, em nome de Jesus,
fez o sinal da cruz.
E nenhuma arma se ergueu,
e ninguém ali morreu. (César e a corte voltam para o Coro)
CORO (fala, enquanto Martinho, Marcos e os três soldados caminham, o vento
passa, e surge o mendigo):
– Lá vão os cinco:
os três soldados,
o velho Marcos
e São Martinho.
Um vento frio
já esvoaça
e gela tudo
por onde passa.
Pobre mendigo,
morto de frio,
pede uma ajuda
a São Martinho.
MENDIGO:
– Ó cavaleiros piedosos,
o frio me causa muita dor.
Venho pedir pequena esmola
em nome de Nosso Senhor…
SÃO MARTINHO:
– Não tenho dinheiro, nem mantimentos
para acabar com seu sofrimento.
Mas vou partir meu manto em dois.
Você se cobre com ele depois. (tira o manto para parti-lo com a espada)
1º SOLDADO (os três tentando impedir):
– Espere, Martinho, e guarde essa espada!
Uma capa tão boa não deve ser rasgada!
2º SOLDADO:
– Não temos nada a ver com esse mendigo!
3º SOLDADO:
– Queremos só a glória de vencer o inimigo!
SÃO MARTINHO (aos soldados):
– Para trás, para trás! Ouçam o que eu digo!
Vou dividir a capa com este mendigo!
(Ele puxa da espada, corta a capa e dá a metade ao mendigo, que se cobre.)
SÃO MARTINHO (ao mendigo):
– É presente modesto,
mas dado com carinho.
E que Deus o abençoe
em todo o seu caminho.
1º SOLDADO:
– Martinho bobo!
2º SOLDADO:
– Martinho tonto!
3º SOLDADO:
– Está um assombro
só com a metade
da capa ao ombro!
VELHO MARCOS (aos três soldados):
– Pois pensem no frio
que este pobre sente!
MENDIGO (saindo):
– Muito obrigado!
Que Deus lhe acrescente!
SÃO MARTINHO (a Marcos):
– Ah, eu deveria
lhe dar alimento
e mais roupas quentes…
Essa meia capa
quase não cobre
homem tão pobre.
Marcos, procure
por ele agora!
MARCOS (depois de procurar e não achar):
– Já foi embora…
Que noite fria!
Vamos agora
à hospedaria! (ele e os três soldados se afastam)
SÃO MARTINHO (sozinho, ajoelha-se e reza):
– Ó Jesus Cristo Salvador,
por nós na terra aqui nascido,
para que o homem aprendesse
mais a servir que ser servido.
Deixe que eu sirva os pobrezinhos!
Acho que é esse o meu caminho…
(Ele se deita e dorme. Ouve-se a música na flauta. Luz. Martinho acorda.)
SÃO MARTINHO:
– É noite escura, mas que esplendor!
Que som é esse ao meu redor?
Será que ainda estou sonhando?
ANJO:
– Martinho, você não está sonhando.
Acorde e veja! Veja a luz!
É a luz celeste manifestada,
e os sons celestes revelados.
Tanto nos sons como na luz,
veja o que brilha, ouça quem fala!
SÃO MARTINHO:
– Vejo uma luz bem forte e clara
que se irradia de um coração,
e dois olhos, num rosto sereno,
que têm um brilho profundo e ameno.
É Jesus Cristo, o Ser Supremo,
quem eu vejo se aproximando.
ANJO:
– E você também vê, Martinho,
a roupa que ele está usando?
SÃO MARTINHO:
– É um pano estreito e esquisito.
ANJO:
– Pois ouça o que está sendo dito!
CORO (fazendo a voz do Senhor):
– Martinho, eu era aquele pobre,
e você me agasalhou.
Foi na metade do seu manto
que seu amor se revelou.
– Ó coros de anjos, olhem o manto
e olhem também este homem santo.
Por seu sacrifício tão puro,
seja louvado nas alturas!
Martinho, o humilde cavaleiro,
a partir de agora será
meu guardião mais verdadeiro,
e as almas todas guardará.
Dando o exemplo mais luminoso,
há de mostrar ao mundo todo
como servir ao seu Senhor
com simplicidade e amor.
TODOS (cantam):
“Ó Senhor dos mundos,
deixa tua meiga luz
em meus olhos vir pousar.
Como as lindas flores
abrem as corolas
para a luz do sol entrar,
deixa, ó Deus, teu calor, tua luz,
teu amor até mim chegar.”
F I M