La Pedagogía Waldorf
en la escuela publica
historia – desafíos – perspectivas
de Rubens Salles y Rosineia Fonseca
Brasília DF
Movimento TXAI
Chegamos em Brasília em 28/04/2019 para conhecer o Movimento Txai, sua atuação em Brasília e no Centro de Educação Infantil CEI 316 Norte onde a educação é inspirada na Pedagogia Waldorf. Fomos recebidos pela Tereza Marques, em seguida tivemos um encontro com outros integrantes do Txai, Luana Angélica e Eduardo Daniel, para conversar e ajustar o planejamento de nossa estadia lá. Ficamos hospedados na casa do casal Ana Paula e Bruno Vieira, pais da escola, que nos acolheram com muita simpatia.
Destacar
1 – O Movimento Txai é um excelente exemplo de determinação de um grupo de professoras que têm como propósito levar a Pedagogia Waldorf para a rede pública do Distrito Federal. A história do movimento mostra uma série de obstáculos encontrados pelo caminho, e que foram enfrentados e vêm sendo superados ano a ano desde 2012, sem que o grupo esmoreça nos seus objetivos. Criar uma escola Waldorf pública é sempre um caminho longo, que requer muita vontade e dedicação, o tipo de força que possuem as pessoas realmente comprometidas com o bem comum.
2 – Quando existe um movimento coletivo de professores da rede pública que querem atuar com a Pedagogia Waldorf, a chance de sucesso é grande. Neste caso de Brasília, as professoras do Movimento Txai, com apoio da comunidade escolar, estão transformando a escola onde atuam em uma escola inspirada na Pedagogia Waldorf, e existe a possibilidade de ser construída uma escola piloto já planejada para ser uma Escola Waldorf, na Regional Paranoá/Itapoã.
3 – A exemplo do que já vimos acontecer em Nova Friburgo e em Aracaju, o Movimento Txai também se fortaleceu atuando na formação continuada para professores da rede pública local, promovendo uma introdução à Pedagogia Waldorf e ensinando o uso de alguns dos seus elementos. Com isso essa pedagogia vem se tornando mais conhecida no DF, e cada professor que participa destes cursos e se identifica com ela, passa também a ajudar a divulgá-la e fortalece essa corrente dedicada a humanizar a educação no Brasil.
4 – Os cursos para formação integral de professores Waldorf precisam se tornar mais acessíveis para os professores da rede pública. Devem ser planejados em função da disponibilidade de participação destes professores, coincidindo com os períodos em que possam participar, e os seus custos devem ser subsidiados para eles.
Alguns dados básicos do Distrito Federal
Endereço
SQN 316- AE
Contato: [email protected]
Pessoas entrevistadas
Movimento Txai
Luana Angélica Modesto Pimentel
Eduardo Daniel de Souza
Teresa Marqués Cardoso da Silva
Érica Lobato
Daniela Alencastro
Milena Oliveira
Mary Josie de Souza Feitosa
Secretaria de Educação
Isac Aguiar de Castro – Coordenador Regional de Ensino da Regional do Paranoá/Itapoã.
Paloma Tosatti – Orientadora Pedagógica da Regional de Ensino do Paranoá/Itapoã.
Luciana de Amorim Halushuk – apoiadora – atuou na gestão na Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação, e como assessora na Secretaria de Educação.
Humberto Farias – Diretor da Escola Classe 04 do Paranoá
Jardim de Infância CEI 316 Norte
Samantha Herrero – professora
Fabiana Matoso – estagiária
Daviana Barros – mãe e voluntária
Poliana Viana – mãe
Juliana Solorzano – mãe
Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação
Luzia Lavendowski – aluna da EAPE
O Movimento TXAI
O movimento Txai foi criado em 2012 por iniciativa de Luana Angélica Pimentel, Tereza Marques e Cátia Soares (in memorian), professoras concursadas da Secretaria de Educação do Distrito Federal, que fizeram a formação em Pedagogia Waldorf, contando também com um núcleo de apoio formado por outros professores, amigos e interessados.
Hoje, em decorrência de sete anos de trabalho do Txai, 5 professoras formadas na Pedagogia Waldorf, e mais 11 que fizeram um curso de introdução à Pedagogia Waldorf, atuam juntas no Centro de Educação Infantil 316 Norte, que atende 340 crianças no jardim de infância. Recentemente o novo Projeto Pedagógico da escola, inspirado na Pedagogia Waldorf, foi aprovado pela Assembleia Geral da Comunidade Escolar.
Projeto Político Pedagógico 2019 – pdf
Foi uma longa jornada até esse momento, com muitas dificuldades sendo enfrentadas no caminho. Em 2005 Luana Angélica Modesto Pimentel, a pioneira do grupo, realizou o seminário em Pedagogia Waldorf, e nos contou que foi convidada para trabalhar na escola Moara, mas seu impulso era mesmo atuar na escola pública.
Luana – Fui convidada a trabalhar na Moara, pois a Moara cresceu rápido e sempre quando precisavam de professores eles me chamavam. E eu falava: “Gente, mas agora que eu aprendi uma coisa ótima, eu vou deixar os meninos da rede pública sem essa coisa que já está na elite e vou continuar distribuindo a melhor fatia do bolo para a elite? Esse abismo social que há no Brasil requer atenção.
Então, a partir de 2012, o movimento foi crescendo com a adesão de outras professoras que fizeram o seminário Waldorf, e começaram a buscar maneiras para se viabilizar uma escola pública Waldorf em Brasília, como nos contaram Luana, seu marido Eduardo e Tereza Marques.
Luana – Chamamos pessoas ligadas a esse assunto, antropósofos, psicólogos. Fazíamos reuniões toda semana. O grupo era de aproximadamente vinte pessoas, para acharmos um caminho de se implementar a Pedagogia Waldorf na rede pública. Eu, Tereza e Cátia começamos a fazer o projeto. Eduardo e Cláudia Dansa, então professora da UnB, ajudaram a escrever e focamos na Educação Infantil. Em três meses a gente já estava com o projeto na mão e levamos à Secretaria. A gente chega lá com o esqueleto e eles ajudam. Falaram: “Que lindo ver professor da rede pública querendo isso!” Daí, eles nos ajudaram a elaborar melhor o projeto, de uma forma que a Secretaria entendesse, pois ia passar em várias instâncias.
Projeto Piloto Jardim Waldorf – pdf
O Distrito Federal publicou em 2012, e atualizou em 2018, um currículo próprio, denominado Currículo em Movimento. Há uma versão para o ensino infantil e outra para o ensino fundamental. Dentro do currículo da educação infantil, fala-se do livre brincar e contém várias questões que se adequam à Pedagogia Waldorf. Isso serviu de justificativa na apresentação do projeto piloto. Foi enviado para o Secretário de Educação na época um estudo comparado entre a Pedagogia Waldorf e o Currículo em Movimento.
Currículo em Movimento – Educação Infantil – pdf
Currículo em Movimento – Ensino Fundamental – pdf
Eduardo – Em 2013 a gente conversou com Secretário de Educação, com a Diretoria de Educação Infantil. No desenho deste projeto, previa inicialmente a criação dessa escola e um projeto de pesquisa-ação conduzido pela UNB sobre o projeto piloto. Então a iniciativa já nasceria com esse vínculo com a universidade e os resultados seriam avaliados pela própria universidade. Chegamos com esse projeto de bandeja para o Poder Público, que ao mesmo tempo que tem carência de implementar, tem muita desconfiança quando você apresenta coisas novas. No caminhar do projeto, a gente identificava essas duas facetas. A gente apresentava para alguém, uma autoridade que ocupava um cargo, ela se encantava com a proposta, mas ao mesmo tempo falava: “Olha, é difícil, eu tenho esse entrave, eu não sei como que eu vou colocar todos os professores numa unidade só”. Aqui em Brasília, o Poder Público não diz onde que o professor vai trabalhar. Existe um concurso com pontuação, e você pode se deslocar de acordo com essa pontuação. Uma das dificuldades é: Como é que você vai alocar todo mundo numa mesma escola?
Essa dificuldade de alocação de professores Waldorf em uma determinada escola pública é um problema que encontramos em todos os municípios visitados. Não encontramos ainda nenhum óbice legal para que se realize um concurso público específico para contratação de professores formados ou especializados nesta pedagogia, mas ainda não soubemos de algum município que o tenha realizado. Apenas no caso de contratação temporária já vimos editais que especificam a especialização e experiência em Pedagogia Waldorf.
Luana – O projeto passou em mais de dez instâncias dentro da Secretaria. Todas elas gostando, aprovando e falando: Pedagogicamente, está tudo certo, vocês podem implementar tudo isso na rede pública, mas a gente não tem dinheiro. Aí, passa uma gestão, perde-se a eleição e saem essas pessoas. Em 2014 voltamos à estaca zero. Começamos a apresentar tudo de novo. Um novo governo, que também já perdeu a eleição de novo…
Eduardo – Como ficou muito difícil esse caminho, com muitas mudanças e interrupções, daí elas começaram nesta abordagem prática, de irem todas para a mesma escola e começarem da base, do funcionamento prático. Mesmo assim, enfrentam muitas resistências dentro da própria escola. Não é um caminho muito simples.
Em Brasília, pela legislação vigente, o diretor de cada escola é eleito pela comunidade escolar, de três em três anos, e as famílias, os professores e os funcionários da escola têm autonomia para definir o Projeto Político e Pedagógico da escola. Assim, é possível a comunidade escolar transformar uma escola em escola inspirada na Pedagogia Waldorf, de forma democrática.
Antes de conseguirem se estabelecer no CEI 316 Norte, o grupo passou por outras escolas, onde as condições não favoreceram o projeto. Em 2016 começaram a lecionar na Escola Classe Natureza, mas no fim do ano as professoras envolvidas com o projeto não conseguiram permanecer porque não pertenciam ao quadro oficial de professores da escola. Em 2017 lecionaram na Escola Classe Varjão, mas era uma escola com 40 turmas, muito grande para que pudesse ser transformada em uma escola Waldorf e foram extintas as classes de jardim de infância. Uma das professoras do grupo, Amaiza F. de Sousa Medeiros, também lecionou na Escola Capão Seco. Então em 2018 o grupo se transferiu para o CEI 316 Norte, que é uma escola menor, só de jardim de infância, e fica no Plano Piloto de Brasília.
O grupo tem as cabaninhas e outros materiais naturais próprios para o jardim de infância Waldorf, muita coisa feita pelo Eduardo, e a cada mudança de escola levavam todo seu “enxoval”. Hoje, no CEI 316 Norte, todas as salas têm suas cabaninhas para as crianças. A escola atende crianças da periferia, onde faltam vagas e que vão de transporte escolar, e crianças de classe média, muitas estão ali por causa da Pedagogia Waldorf.
Tereza – Não pode ser só quem tem dinheiro que possa ter acesso a essa pedagogia, os alunos da rede pública também têm o direito de ter acesso a essa coisa bonita que é a pedagogia. Por isso o nome Txai*. A princípio era para ser uma escola piloto construída, com direção, com todo mundo trabalhando nessa linha pedagógica, com o nome mesmo de Pedagogia Waldorf, porque aqui em Brasília já têm projetos pilotos que trabalham com uma linha filosófica com que as pessoas se identificam. Agora estamos na 316 Norte, e é a primeira escola em que estamos tendo a participação das famílias. Começou uma coisa pequena, esse é o segundo ano que a gente está nessa escola, e a quantidade de famílias que está procurando a escola por causa da Pedagogia Waldorf é maravilhoso.[..] Eu projeto da gente não ficar só no jardim, eu projeto da gente ir até o ensino médio. Acho que o jardim é só um começo, mas eu acredito, não sei se eu vou ver, mas vou trabalhar até o fim dos meus dias para que isso aconteça. E que não seja só no DF, e que não seja só uma escola. Embora o momento político seja contraditório, eu sinto essa força de tanta gente querendo, esses jovens e as crianças estão buscando isso. Essa pedagogia está aí há 100 anos, mas se olharmos bem, estamos só começando. O que o Steiner trouxe é muito grandioso para a gente viver isso na plenitude, mas o projeto da Pedagogia Waldorf na rede pública ,eu acredito que vamos conseguir chegar até o ensino médio.
* TXAI significa, na língua dos índios Kaxinawá, do Acre, “mais que amigo, mais que irmão, a metade de mim que habita em você, a metade de você que habita em mim”
Assista a entrevista completa
Durante esse período de peregrinação em busca de viabilizar a implantação de uma escola pública Waldorf em Brasília, surgiu a oportunidade do grupo começar a ministrar cursos de formação continuada para professores da rede pública sobre introdução à Pedagogia Waldorf, e também sobre elementos desta pedagogia, com abordagem teórica e prática.
Eduardo – Em 2015 eu estava nessas reuniões para implementar nosso projeto piloto. Num determinado momento, tem uma audiência com o secretário da Educação e ele diz o seguinte: “ Como é que eu vou implementar uma escola, se eu não tenho formação e os professores não se formam? Vocês têm que oferecer cursos.” Então, apesar das resistências, abriu-se uma brecha que trouxe para dentro da EAPE (Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação) uma cadeira voltada para a Pedagogia Waldorf.
Luana – Esse Secretário era novo. A gente fazia reunião com senador, deputado distrital, deputado federal. A gente ia fazendo reuniões até conseguir uma reunião com o Secretário de Educação. Daí pedimos e ele falou: “O projeto é lindo, mas eu não tenho dinheiro para construir a escola de vocês. Vão formando professores, que vocês só têm dezenove e isso é muito pouco para uma escola. Vocês vão precisar de, pelo menos, vinte e cinco professores formados.”
O movimento já promoveu vários cursos de Pedagogia Waldorf para professores da rede pública, pela EAPE, tanto cursos de introdução à Pedagogia Waldorf, como sobre elementos da pedagogia. Tivemos a oportunidade de participar de uma tarde de aula num destes cursos, em 30/04/2019.
Tereza – O movimento teve uma professora da UNB – Universidade de Brasília, Cláudia Dansa, que facilitou a criação de um curso de extensão universitária sobre a Pedagogia Waldorf na UNB. Agora tem a Sandra que também dá essa disciplina lá e o Donald também. Ela apoia, mas não fez o seminário. Ela abre espaço na aula dela pra gente organizar e dar a aula lá, arte, teoria, pois a gente tem mais experiência para dar aula sobre Pedagogia Waldorf, pois fizemos o seminário. No último curso dela a gente fez uma reunião com ela, junto com a Karla Neves, para ajudar a elaborar como é que seria.
Durante este período em busca de viabilizarem uma escola pública Waldorf, o grupo teve o apoio de algumas pessoas atuantes na área pública. Uma delas foi Luciana de Amorim Halushuk, que trabalha há 24 anos na rede pública no DF, e atuou na Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação e como assessora na Secretaria de Educação. Luciana e Luana se conheceram como mães na Escola Waldorf Moara. Como já conhecia a Pedagogia Waldorf, tendo inclusive trabalhado com cantoterapia no atendimento de jovens em conflito com a lei, Luciana ajudou na criação do primeiro curso de Introdução à Pedagogia Waldorf na EAPE e ajudou o grupo nas suas relações com a Secretaria de Educação.
Luciana – Uma dificuldade que eu vejo quando a gente vai falar institucionalmente da Pedagogia Waldorf dentro da rede pública é a questão da laicidade. Uma das grandes demandas que a gente tem hoje no Governo do Distrito Federal, em termos de gestão, é garantir que a Pedagogia Waldorf não tem ligação com uma determinada religião, com determinados seres espirituais, separar religião de religiosidade. No ano passado as meninas tiveram muitos problemas na escola nessa questão da religião, de ritual. Tiveram até perseguição, pois tinha muitos professores evangélicos na escola e eles acreditavam que acender uma vela, contar a história, apagar a vela, tudo aquilo era ritual profano. Então começaram uma série de perseguições com elas lá e eu pude agir institucionalmente para amenizar a situação. A gente teve que chamar a diretora da escola, fazer uma intervenção. Mas isso só foi possível porque eu conhecia a pedagogia. Eu vou ajudando assim, de onde estou.
Como a Escola Waldorf Moara atua em Brasília desde o ano 2.000, já existe um pouco mais de conhecimento sobre essa pedagogia na região e sobre a Antroposofia, o que permite encontrar mais pessoas que conheçam e possam dar seu apoio ao objetivo principal do Txai, de conseguir constituir uma escola Waldorf pública. No entanto, a pedagogia ainda precisa ser muito mais conhecida para que seja mais facilmente aceita.
Luciana – Hoje eu estou numa diretoria de qualidade de vida e bem-estar no trabalho. Então, eu levo a pedagogia para dentro do meu trabalho, já fiz várias atividades e as pessoas perguntam. O que é isso? De onde que vem? Eu estou dentro de um programa de preparação para a aposentadoria, onde eu levo a cantoterapia. Aí eles perguntam: Quem criou? Respondo: Rudolf Steiner. Vou resgatando e falo da Pedagogia Waldorf. A gente tem ido muito pelas beiradas, mas institucionalmente a gente ainda não tem um aporte de estrutura para poder trabalhar.
Hoje, o Movimento Txai tem quatro frentes de atuação. Uma é o CEI 316 Norte, onde lecionam atualmente. Outra, são os cursos ministrados na EAPE (Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação), que são no horário de trabalho e os professores recebem pontuação e certificado. Há também o curso de extensão da UNB, e o projeto-piloto de uma escola inteira, a ser construída para a Pedagogia Waldorf. Segundo Luana, nas reuniões do Txai, participam em média umas 13, 14 pessoas.
Assista neste VÍDEO Luana Angélica apresentando o trabalho no Jardim da 316 Norte
Daniela Alencastro – movimento Txai
Daniela faz parte do Txai há bastante tempo, é professora da rede há 7 anos e atualmente é Coordenadora pedagógica no CEI 316 Norte. Esse cargo é eletivo pelo próprio corpo docente anualmente. Neste vídeo ela conta sobre as relações com os pais da escola, sobre os desafios enfrentados e fala também sobre o uso da Pedagogia Social no organismo social que é a escola.
Assista a entrevista completa
Quando lecionaram na Escola Classe Natureza, que fica na região administrativa de Paranoá, o trabalho realizado pelas professoras do movimento Txai encantou algumas pessoas, entre elas Isac Aguiar de Castro, Coordenador da Regional de Ensino do Paranoá. Isac foi o responsável pela construção e implantação de uma escola para atuar com o método da Escola da Ponte, desenvolvido por José Pacheco e que foi inaugurada em 2018. Ele agora tem a pretensão de implantar também uma escola inspirada na Pedagogia Waldorf, a partir do projeto piloto do movimento Txai.
Entrevista com Isac Aguiar de Castro
Coordenador Regional de Ensino
Isac – Eu estive em vários eventos, várias programações e várias aulas lá na Escola do Capão Seco, e a gente via como as crianças eram felizes estudando daquela forma, vivendo naquele espaço cotidiano que a Pedagogia Waldorf traz para as crianças. Então, o que eu pude extrair desse contato que eu tive com as crianças: Elas eram muito mais à vontade no espaço escolar, elas se sentiam parte integrante. A forma como elas circulavam entre os espaços da escola eram muito interessante, parecia que elas estavam mais apropriadas do espaço físico do que as outras crianças do ensino regular comum. Chegamos a conhecer uma escola que desenvolve a Pedagogia Waldorf na iniciativa privada, foi muito interessante a experiência também, através da orientadora Paloma. Temos esse contato com a Pedagogia Waldorf desde 2015 e de lá para cá a gente tem trabalhado, mas não foi com tanta consistência como desejávamos. Temos uma proposta inovadora de criar uma escola que venha a atender essa expectativa, não só desse grupo de profissionais, mas nossa e de nossa comunidade, de apresentar para eles uma nova opção de educação. A nossa comunidade precisa disso. Então, eu acho que essa proposta da Pedagogia Waldorf tem muito a acrescentar à nossa realidade de hoje, principalmente na educação infantil e ensino fundamental I.
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Com o intuito de preparar professores para atuarem em uma nova escola, que Isac planeja construir na região administrativa do Paranoá/Itapoã, o grupo do Movimento Txai pretende realizar um curso de formação na própria regional, a partir de 2020.
Entrevista com Paloma Tosatti
Orientadora Educacional
Paloma é orientadora educacional da Regional de Ensino do Paranoá há 11 anos e também teve a oportunidade de conhecer e acompanhar o trabalho das professoras do movimento Txai. Era a orientadora quando o grupo atuou na Escola classe Natureza e nos relatou como conheceu a Pedagogia Waldorf.
Paloma – A disposição das mesas era diferente, a forma de contar a história era diferente. Aquilo ali começou a despertar o interesse. “O que está acontecendo? Como é que funciona isso?” Elas começaram a explicar como era todo o processo, a rotina e nós começamos a perceber diferença nessas crianças. O olhar dessas crianças não era o mesmo das outras, a interação delas, o respeito entre elas, o respeito com o professor. Aquela coisa de antigamente que você idolatrava o seu professor a gente não vê hoje, e os alunos olhavam para as jardineiras como se fossem deusas na vida deles, tinham muito respeito. Eu, como orientadora, percebi uma aproximação muito grande daquelas famílias, porque os professores tratavam essas famílias de forma diferente. Não era aquela reunião formal de reunião de pais, ler um relatório, falar onde seu filho está bem, onde não está, onde evoluiu, onde não evoluiu. Era diferente. O atendimento a essas famílias era diferente. Elas se sentiram mais acolhidas e elas ficaram mais próximas da escola, mesmo sendo uma região de zona rural com acesso não tão fácil, a gente percebia que essas famílias estavam mais abertas ao diálogo do que as das outras classes.
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Entrevista com Humberto Farias
Diretor da Escola Classe 04 Paranoá
Humberto é esposo de Paloma, e atuava como Coordenador na Escola Classe Natureza quando as professoras do movimento Txai lecionaram lá. Ele nos contou como foi que conheceu a Pedagogia Waldorf e a Antroposofia.
Humberto – Em 2015 eu trabalhava na escola classe Natureza, que é na zona rural do Paranoá, e chegou lá a professora Cátia. Ela executava a Pedagogia Waldorf, mas não falava que era a Pedagogia Waldorf. Eu me lembro que me chamava muito a atenção as brincadeiras de roda, a ciranda, o resgate da nossa infância. Eu me lembro de que eu achava muito legal ver ela brincar com os meninos de Corre Cutia, que a gente não vê mais. Em 2016 chegam a Luana, a Maísa, a Daniela e efetivamente implementam a Pedagogia Waldorf nas séries iniciais. Eu estava na coordenação. Eu tinha um certo distanciamento no começo, porque a gente ficava um analisando ao outro. Será que vai dar certo? Teve muita resistência por parte da direção porque é muito diferente a maneira de trabalhar. E daí, aos poucos fomos conhecendo as meninas, fomos conversando e fomos tomando gosto pela Pedagogia Waldorf. A Maísa me falou sobre a Antroposofia, daí eu fui estudar Antroposofia. E eu me lembro de que eu falei para a Maísa uma vez: “Maísa, eu não sabia que existia uma ciência que resumia tudo o que eu acredito.” Daí eu li alguns textos, alguns livros da Antroposofia. Fui para a UNB, fiz o curso de extensão, aí eu fui fazer o Germinar, que foi muito interessante. A gente aprende a se gerir, e o Germinar é baseado na Antroposofia. Eu falo que foi Deus que me levou para lá. Foi em 2017. E eu apliquei aqui muita coisa que eu vi no Germinar. Tinha a Madalena que deu o curso na UNB relatando algumas experiências dela. Eu falei pra ela assim: “Isso não existe, isso não acontece, você está falando isso pra me convencer.” Ela falou assim: “Humberto, existe, funciona e tal dia nós vamos começar um curso. E é impressionante! Eu me encanto pela Antroposofia. É claro que eu tenho questionamentos. Tenho questionamentos também em relação à Pedagogia Waldorf, mas ela precisa chegar para a massa. Não pode ficar num canto, pois se fosse ruim a elite não estaria lá. Como é que você que defende a Pedagogia e não tem condição de colocar os seus filhos? Pra mim, isso é inconcebível. Deve-se fazer como as meninas do Txai fizeram, a conta-gotas, até que tome conta do todo. Isso eu acho importante.
Entrevistas com professoras e mães do CEI 316 Norte
Entrevista com Milena Oliveira – Movimento Txai
Milena – Eu conheci a Pedagogia Waldorf no meu último ano de faculdade. O meu marido estudava comigo na faculdade e ele conhecia a Pedagogia Waldorf. Ele era pai de alunos da escola Moara e muitos anos estudando antroposofia. Ele sempre falava e todo mundo ficava curioso. Eu fazia muitas perguntas e ele me levou para conhecer a Moara, a mais antiga escola Waldorf aqui de Brasília. Eu fiquei muito encantada porque como estudante, eu já estava em vias de realizar estágios. A gente via a teoria na faculdade e quando chegava em sala de aula para acompanhar as professoras, era tudo diferente daquilo que a gente ouvia. Via muitas práticas tradicionais, muito arraigadas, sem o olhar para a criança. Então, quando eu vi aquela escola, eu disse: “Tem salvação!” Essa foi a área que eu escolhi. Foi um alento no meu coração. Fiz a formação e terminei no ano passado. Daí conheci as meninas do movimento Txai. A gente se reunia para estudar, procurar maneiras de como isso poderia acontecer. Escrevemos o projeto, fomos apresentar em várias instâncias, em vários órgãos, no Congresso, com os deputados, eu estava nesse movimento com elas. Elas começaram no Paranoá e em 2017 elas vieram para Escola Classe Varjão e eu me juntei a elas. Foi bem especial vivenciar essa força do grupo.
Entrevista com Mary Josie de Souza Feitosa – Movimento Txai
Josie é formada em História, está cursando pedagogia e está fazendo a formação Waldorf desde janeiro de 2018. Já fez seis módulos dos 16 que o curso tem. Trabalha na região administrativa Ceilândia, na periferia do DF, numa escola de séries finais e atende a Comunidade do Sol Nascente, uma grande favela que há em Brasília. É uma região bem grande que não tem escola de séries finais e os alunos têm que se deslocar.
Josie – É um percurso bonito, interessante, cativante, e eu sinto que melhorou muito a minha prática como educadora. Muitas coisas eu reaprendi. E, ficar de novo nesse lugar de aluno é importante para quem está dando aula. A gente entende de novo como é o processo de aprender. Pra mim, tem sido um momento rico de vida. Lógico que eu encontro alguns problemas na formação e na prática, que eu acho que a gente precisa superar juntos, mas achei que realmente deu uma enriquecida na minha formação como professora, como educadora. Me sinto uma profissional bem melhor do que eu era antes de conhecer. Está contribuindo de uma forma bem positiva.
Uma coisa que eu achei positiva aqui em Brasília, tanto no movimento Txai quanto o do José Pacheco, é que são iniciativas dos professores, não foi uma iniciativa do Estado. A do José Pacheco foi inaugurada no ano passado. Eles já tinham um grupo de estudos de uma professora da UNB que trouxe ele para participar. Chama-se Fórum Autonomia. Tem essa questão da própria LDB que defende a autonomia pedagógica, administrativa e financeira das escolas.
Uma questão importante levantada pela Josie foi a dificuldade que os professores da rede pública do Distrito Federal têm para cursar o seminário de formação na Pedagogia Waldorf. Esse curso é ministrado em quatro encontros anuais de imersão, e apenas um destes encontros coincide com um período de férias destes professores. Ela nos informou que na turma atual, que tem mais de 40 alunos, apenas 5 ou 6 lecionam na rede pública. Há ainda um outro problema: esse curso não é reconhecido pela Secretaria de Educação.
Josie – Esse curso não é reconhecido pela Secretaria da Educação para uma dispensa. Dentro do nosso plano de carreira, a gente pode pedir uma licença para participar de congressos, seminários, cursos, e quando o curso é reconhecido pelo MEC, pela Secretaria de Educação, isso pode acontecer. Atualmente a coordenação do seminário se propôs a formalizar o curso para ver se a gente consegue esse recurso.
Entrevista com Daviana Barros – mãe de aluna do CEI 316 Norte
Daviana é formada em Arte-educação, está na 5a turma do seminário de formação Waldorf em Brasília, e está estudando pedagogia, fazendo curso de complementação, e pretende atuar também como professora, futuramente.
Daviana – É maravilhoso a gente saber que a Pedagogia Waldorf pode estar na rede pública e ter esse espaço, um discurso aberto por parte do governo para esse acolhimento. Mas a gente sabe também que é um enfrentamento com um sistema que já existe, com uma ideia aceita pela maior parte das pessoas que trabalham na educação no estado. Então, é um desafio a cada dia […] Hoje já existe um diálogo mais aberto, já existe uma harmonia maior, e a gente sente que ainda tem um caminho a percorrer, mas que a gente sabe que toda escola Waldorf tem.
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Entrevista com a professora Samantha Herrero
Samantha é professora da rede pública há seis anos, e conheceu a Pedagogia Waldorf na Escola Classe Varjão, em 2017, onde teve a oportunidade de trabalhar com algumas integrantes do Movimento Txai. Começou então a se informar com as colegas e leu vários livros para conhecer um pouco sobre a Antroposofia e a Pedagogia Waldorf. Hoje atua junto com o grupo do CEI 316 Norte e está fazendo o curso na EAPE.
Samantha – A partir daí, a educação passou a fazer mais sentido para mim, porque eu via o ser em sua totalidade, e como eu estava com um bebê pequeno, tudo que eu colocava em prática, eu olhava o meu bebê, e fazia sentido com aquelas vivências. Eu achei que esse é caminho agora que eu devo seguir. A Pedagogia Waldorf veio pra mim como um presente, como mãe e como profissional também, e a partir daquele ano eu decidi ir em busca disso que faz mais sentido pra mim
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Entrevista com Poliana Viana – mãe de aluno
Poliana já conhecia a Pedagogia Waldorf, pois seu filho mais velho foi aluno na Escola Moara, e agora matriculou outro filho no CEI 316 Norte porque soube que havia professoras do Movimento Txai atuando lá.
Poliana – Meu filho do meio precisa ter também essa experiência da pedagogia, de estar em uma escola Waldorf, de poder vivenciar isso, e, principalmente mais lindo ainda, em uma escola pública, onde tem acesso a essa diversidade de crianças e realidades.
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Entrevista com Juliana – mãe de aluna
Juliana – Nós entramos aqui na escola da 316 no fim do ano passado e tem sido uma experiência maravilhosa. A inspiração Waldorf traz um olhar mais humanista para a criança, o olhar que a criança tem que ter, a autodescoberta, da percepção do mundo, e trazer isso junto da diversidade da escola pública tem sido uma experiência maravilhosa. Minha filha veio da escola particular, e eu não conseguia perceber essa fusão de sociedade como possível, com suas diversidades e suas diferenças, complementado por um olhar tão extraordinário, tão humano, e que traz para a criança uma percepção do todo, dentro daquilo que ela dá conta. Então a contação de histórias, o envolvimento com a ciranda, a questão das cores, a percepção das texturas, tudo isso é muito rico e tem sido extraordinário para o desenvolvimento da minha filha. E perceber que é possível sim trazer isso para as mais diversas camadas sociais, e que esses pais também se identificam, mesmo não conhecendo a filosofia, mesmo não sabendo que tem um estudo por trás, é muito maravilhoso.
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Entrevista com Fabiana Matoso – estagiária na CEI 316 Norte
Fabiana – Eu acho que seria muito interessante que os estudantes conhecessem a Pedagogia Waldorf, porque no meio acadêmico a gente pouco fala na Pedagogia Waldorf. Escutamos falar que têm escolas Waldorf mas, de verdade, a gente não sabe como funciona uma escola Waldorf, não sabe sobre a teoria e as ideias que Rudolf Steiner tinha. Então eu acho muito interessante, como estudante de Pedagogia, antes de falar ou criticar, ou de repente se afastar, procurar conhecer um pouco, procurar se aproximar, fazer leituras, procurar conhecer algumas escolas que praticam pra ver o que faz sentido. Às vezes você pode incorporar na sua prática, mesmo que a escola que você trabalha não seja uma escola Waldorf, você pode incorporar na sua prática como educador.
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Érica Lobato – Movimento Txai
Érica já era mãe de aluno no CEI 316 Norte antes das professoras do Movimento Txai começarem a lecionar lá.
Érica – Eu já conhecia Pedagogia Waldorf, já vinha de um jardim Waldorf associativo, e consegui dentro da escola, com diálogo com a gestão e a coordenação da escola, levar alguns elementos da Pedagogia Waldorf, como a contação de histórias, consegui fazer uma oficina sobre a Páscoa com as professoras da escola. Naquele momento a própria orientadora pedagógica da escola foi para a EAPE fazer o curso de formação Waldorf, que acabou não conseguindo concluir, mas eu senti que naquele momento eu estava apoiando plantar uma sementinha ali na escola. Na mesma época em que o meu filho entrou na escola (2017), eu conheci o movimento Txai, que estava em uma outra escola naquele momento. Elas me inspiravam muito. Eu sempre buscava apoio com elas, elas me traziam materiais para estudar, histórias pra levar pra dentro da escola. (o Movimento Txai chegou na escola em 2018) […] Eu tive a felicidade de passar um ano ainda na escola, tendo o Movimento lá. O meu filho ficou com a professora Milene e foi um momento, para a minha atuação, bastante próspero, porque existia dentro da escola um segmento com quem dialogar pelo que eu imagino que seja um ambiente ideal para as crianças e também para as famílias.
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Luzia Lavendowski – aluna da EAPE
Luzia é professora da rede pública do DF, pedagoga de séries iniciais, e conheceu a Pedagogia Waldorf em 2016 através de um curso na EAPE, ministrado pela equipe do Movimento Txai.
Luzia – Eu já tinha ouvido falar na Pedagogia Waldorf, já tinha lido sobre Rudolf Steiner, mas não tinha nada de concreto, não fazia parte do meu repertório. Mas, a partir do ano que eu comecei o curso, foi assim um divisor de águas, foi quando eu descobri uma coisa que eu procurava a vida inteira e não via ressonância nos lugares. Então, quando eu tive o primeiro contato a ressonância foi muito forte dentro de mim, e aí eu descobri: É isso que eu quero pra mim. Eu fiz o curso de formação (na EAPE) em 2016, 2017, 2018, e esse ano de 2019 as meninas já me chamaram para fazer parte da equipe como colaboradora. E nesse meio tempo surgiu o curso de formação em Pedagogia Waldorf aqui em Brasília, que iniciei há um ano, faço parte da turma 5. Então, em 3 anos bateu tão forte que eu já estou fazendo a formação, e já estou conseguindo aplicar alguma coisa na escola onde eu trabalho, que não é uma escola Waldorf.
Assista a entrevista completa