Conto de María Jezabel Pastor
Compartilhado por Ideas Waldorf
Desenho de Astrid Weissenborn
Muitos, muitos anos atrás… quando os Reis ainda eram sábios e liam nas estrelas, aconteceu algo sobre o qual vou falar agora.
Aqueles eram os tempos em que os três reis magos do Oriente tinham ido a Belém para adorar a criança que havia nascido e que encheria de esperança os corações dos homens. Quando eles voltaram para seus reinos, eles prometeram um ao outro que nunca esqueceriam o que tinham vivido e que procurariam guardar no coração o amor que a criança lhes transmitira. Além disso, que em seus olhos sempre brilhasse a luz daquela estrela maravilhosa, que os havia guiado.
O rei Baltasar caminhou por dias e dias até chegar às terras quentes em que era o seu reino. Quando seu castelo estava à vista, Baltasar e seu pajem pararam para descansar ao lado de algumas pequenas árvores e para se refrescar com o fio de água que corria de algumas rochas. Então eles viram um menino de cerca de sete anos se aproximando, carregando um jarro na cabeça. O menino, depois de se curvar reverentemente diante do rei, sentou-se pacientemente junto ao fio de água fresca que fluía entre as pedras para esperar enquanto seu cântaro estava sendo enchido.
O Rei Baltasar olhou para o menino, que estava mal vestido, mas que tinha um rosto feliz e sorridente.
− Por que você está tão feliz? − perguntou Baltasar.
− Porque eu posso ouvir a música. − respondeu o menino.
− De que música você está falando? − quis saber o Rei.
O menino lhe disse que todas as noites quando ele adormecia ouvia uma música maravilhosa que o lembrava da beleza do céu estrelado à noite e do sussurro do vento. Então o rosto do menino se entristeceu por um momento.
− Mas eu só consigo ouvir aquelas lindas melodias quando estou dormindo, pois quando acordo a música some e nenhum som que eu ouço é assim tão suave e melodioso.
Baltasar lembrou-se que em uma de suas viagens por terras distantes havia conhecido alguns artesãos que, com suas mãos e pedaços de junco, construíram alguns instrumentos delicados que emitiam melodias suaves como as que esse menino disse ter ouvido em seus sonhos. Este instrumento chamava-se Flauta.
O rei convidou o menino ao seu palácio e, para seu espanto, ordenou que seu pajem trouxesse o caule do junco que crescia perto do rio. Com muita emoção mostrou ao menino e juntos e com muito cuidado eles o esculpiram e fizeram uma pequena fenda para poder soprar o ar. Então, com muito cuidado e precisão, Baltasar fez um pequeno buraco.
− Sopra − disse ao rapaz.
O menino soprou e um belo som saiu da flauta. O menino ficou feliz e começou a bater palmas.
− É isso que você ouve em seus sonhos? − Baltasar quis saber. O menino olhou para ele com olhos profundos…
− Não, querido Rei − respondeu – isto soa bonito, como o canto de um passarinho, mas o que eu ouço em meus sonhos é como o som de toda a criação.
Então e com muito cuidado, Baltasar fez novamente, desta vez um segundo e um terceiro buracos na flauta da criança.
− Sopre de novo e experimente cobrir e descobrir os buraquinhos com seus dedos − disse-lhe.
Assim, o menino soprou novamente e desta vez seu rosto ficou mais sorridente.
− É lindo – exclamou – “agora parece que a mãe pássaro e o pai pássaro cantam ao lado do passarinho. Mas… querido Rei, ainda não soa como a melodia que ouço em meus sonhos.”
Baltasar então resolveu abrir dois novos furos na flauta e então pediu ao menino para soprar com cuidado. Uma bela melodia saiu dela e desta vez lembrou o menino dos pássaros, das árvores, das flores, da terra e suas montanhas.
− Agora, meu caro, são as melodias que você ouve em seus sonhos?
− Caro Rei, estas melodias são lindas, mas não são como as que posso ouvir quando estou dormindo.
Então o Rei Baltasar abriu um novo buraco com sua faca, mas desta vez ele o fez na parte de trás da flauta. O menino voltou a soprar e a cobrir e descobrir o novo pequeno buraco e, em combinação com os outros, ele podia ouvir o som do céu, do sol e das estrelas. Seus olhos brilhavam de alegria e de vez em quando olhavam para o Rei. Belas melodias saíram de sua flauta. O menino conseguia se lembrar dos pássaros, das árvores, da terra e do céu quando ouvia a sua flauta.
− Agora sim, agora posso ouvir as mesmas melodias que ouço nos meus sonhos- disse o menino entusiasmado.
− Pode ficar com a flauta − disse o Rei Baltasar − e também gostaria que você ensinasse outras crianças a tocar e a ouvir nela todos os sons que você já descobriu. Mas você deve se lembrar de uma coisa. A flauta é um instrumento muito delicado e você deve tratá-lo com amor e carinho e, se estiver muito frio, você não deve tocar antes de aquecê-la com as suas mãos.
− Obrigado, querido Rei! − disse o menino emocionado.
No brilho de seus olhos você podia ver o profundo amor que ele já sentia pela flauta, e da qual nunca se separou, pois ela e sua música eram para ele grandes amigas que sempre o acompanhariam.
Do livro “Espigas Doradas” de María Jezabel Pastor.
Editorial Rudolf Steiner 2002. Madri, Espanha.
https://ideaswaldorf.com/la-flauta-de-baltasar/
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