The Waldorf Pedagogy
in public school
history – challenges – perspectives
by Rubens Salles and Rosineia Fonseca
Várzea da Roça - BA
Tivemos a oportunidade de entrevistar quatro professoras da escola que estavam participando do módulo de formação em Pedagogia Waldorf em Aracaju, SE, em 19/04/2019. Conversamos por telefone com Gevaldo Almeida da Silva, administrador da escola e trocamos e-mails com Doris Knipping, que desde 2007 presta um apoio voluntário decisivo à escola, tendo sido, inclusive, doadora do terreno onde a escola está instalada hoje.
highlights
1 – Dentre todos os municípios onde temos escolas Waldorf na rede pública, Várzea da Roça é o que tem menor IDH (0,539). Como a prefeitura não sustenta todas as despesas da escola e a comunidade tem poucos recursos, a necessidade de apoios externos é muito grande, o que deixa a associação sempre tendo que correr atrás de doadores para aquilo que a prefeitura não banca. Eles já conseguiram muita coisa, como apoiar a formação de 17 professores desde sua fundação, construir boas salas de aula, uma cisterna de 50.000 litros, um poço artesiano etc, mas é uma situação sempre delicada, com muita dependência nesse aspecto do idealismo, dedicação e tenacidade de Doris Knipping para angariar recursos.
2 – Há também dificuldade para formar e manter sua equipe de professores, devido aos baixos salários que a associação tem condições de pagar. Iniciativas Waldorf em regiões pobres, como Várzea da Roça, precisam de muito apoio para poderem se manter de forma mais sustentável, e devem ser olhadas com carinho pela comunidade Waldorf, pois elas têm um trabalho de muito valor e que precisa ser preservado.
3 – O desconhecimento sobre a Pedagogia Waldorf é um problema sempre citado por aqueles que atuam nas escolas Waldorf públicas, pois sempre há um estranhamento em relação à pedagogia entre os demais professores e gestores públicos do município, o que acaba criando dificuldades para o projeto, principalmente em uma cidade pequena.
Some basic data about the municipality
Endereço – Rua Aramari s/n, Várzea da Roça BA – CEP 44635-000
[email protected]
http://www.projuventutebahia.org
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Hoje a escola tem 100 alunos matriculados, sendo 60 no ensino fundamental e 40 no jardim de infância. No jardim de infância há duas classes com 2 professoras e 2 ajudantes, 5 professoras no ensino fundamental do 1° até o 5° ano, 1 professor de música, 1 coordenadora – que foi a primeira professora da escola e já tem bastante experiência, 1 administrador, 1 secretária, 1 cozinheira, 1 auxiliar de limpeza, dois professores alemães voluntários (Doris Knipping e Ekkehard Sommer) com muita experiência e até 4 voluntárias da Alemanha, que ficam durante um ano.
O histórico sobre a Escola Waldorf Anael que apresentamos abaixo está publicado no site da escola, que contém muita informação sobre essa iniciativa.
Inspirado no diário de Ute Craemer “Favelakinder” (publicação da Editora Freies Geistesleben), o médico antroposófico aposentado, Wolfgang Knipping, visitou a favela Monte Azul em São Paulo no Brasil em 2003 e concluiu: A novidade na proposta de Ute Craemer reside no fato de ela investir em um desenvolvimento sustentável. Mudar a situação nos países pobres não significa fazer reivindicações utópicas ao governo, mas, sim, favorecer a transformação do indivíduo, de modo que ele se conscientize de suas habilidades criativas e aprenda, cada vez mais, aplicá-las. (in: jornal “Reutlinger Generalanzeiger”).
Em 2007, Doris e Wolfgang Knipping decidiram, determinados por esta concepção, unir esforços junto à iniciativa Waldorf em Várzea da Roça, no sertão seco da Bahia, marcado pelo êxodo rural. Assim foi fundada a Associação Pedagógica Waldorf Várzea da Roça, em companhia de 15 professores locais, que assumiram a gestão de todo o projeto nos anos seguintes. Inicialmente esta sociedade contou com o acompanhamento de uma associação alemã, que angariou doações para as construções no estabelecimento, que ocorreram gradativamente. Em 2010, o gerenciamento das doações foi gentilmente assumido pelo órgão de fomento alemão “Freunde der Erziehungskunst Rudolf Steiners”.
As questões educacionais e a administração escolar são de responsabilidade do colegiado que se encontra em uma reunião semanal e de uma conferência interna, composta pelo diretor oficial, um ou dois professores da escola, um gerente administrativo, um representante da associação e por um consultor experiente, quando há oportunidade. A conferência interna reúne-se quando necessário e as reuniões da associação ocorrem uma ou duas vezes por ano. Os associados são todos os funcionários, pais da escola e alguns simpatizantes da proposta. Eles também contribuem para o sucesso do trabalho através da sua assistência e apoio.
Há bastante informação no site da escola, vídeos, muitas imagens e circulares periódicas publicadas desde 2011, que contam sobre as novidades na escola. Veja neste link: http://www.projuventutebahia.org/pt/atualidades-newsletters/
Sustentabilidade da escola
As relações com a prefeitura sempre exigem esforços extras para chegar a um consenso. Embora tenham um convênio com a prefeitura com direito à contratação de 5 professores para a escola, atualmente a prefeitura está fornecendo apenas 3 e um administrador. A prefeitura também fornece alimentação, que é complementada pela associação, parte do material escolar, que é complementado pelo fundo de material pedagógico, e o transporte.
A associação é responsável pelo restante do suporte financeiro de todo o empreendimento. O gerente administrativo trabalha com os membros do conselho interno. Parte das despesas é coberta por doações, principalmente de apoiadores no exterior, mas é um processo bem desgastante, pois as doações de valores maiores são muito poucas. Apoio para construção de salas de aula e outras necessidades estruturais já aconteceram, mas sempre faltam recursos para a manutenção da escola. Quando possível os pais de alunos contribuem com uma quantia mensal, que é estipulada individualmente, mas o valor mensal arrecadado é baixo. As professoras que são contratadas pela associação recebem salário mínimo e apenas uma delas ainda não tem formação Waldorf.
Notamos que a sustentabilidade da escola depende muito da atuação de Doris Knipping como captadora de apoiadores, principalmente no exterior.
Depoimentos das professoras
Entrevista com Rosiele Marques – professora do 2° ano
Rosiele é formada em Letras e fez o curso de formação para professores Waldorf. Trabalha na escola desde 2013, e desde 2014 em sala de aula. Começou como auxiliar no Jardim de Infância e hoje é professora de classe do 2° ano. Está com essa turma desde o jardim de infância. Ela acha que as crianças da escola Waldorf se comportam de forma diferente das de outras escolas, e que elas gostam da escola. “Eles gostam tanto que eles dizem: ‘Não quero sair daqui.’ Porque só vai até o quinto ano”.
Entrevista com Rosiene Marques – professora do 3° ano
Rosiene Marques é formada em História e fez o curso de formação para professores Waldorf. Perguntada sobre como foi para adaptar-se à Pedagogia Waldorf, respondeu:
Rosiene – Como eu já morava na área rural e tinha todo esse contato com a natureza, com as coisas simples e que têm um significado, então para mim não foi um choque… Eu gostei e me interessei pela escola. Com 15 anos, eu já fazia aula de inglês e espanhol nessa escola. Quando eu saí do Ensino Médio, eu fiz trabalho voluntário lá. Depois fui convidada a trabalhar no Jardim de Infância, onde passei dois anos. Daí eles me indicaram esse curso de Aracaju. A Associação paga 80% e eu pago 20%. Depois, comecei com o primeiro ano, segundo ano e agora, o terceiro. Estou com a mesma turma desde o jardim. São nove alunos. As classes lá são pequenas. As pessoas da cidade ainda não entenderam muito bem a escola Waldorf.
Perguntamos por que a prefeitura não amplia seu apoio à escola.
Rosiene – Acho que depende da boa vontade deles mesmo. A escola já foi lá, as crianças já fizeram apresentação, os alunos já foram à Câmara de vereadores, os pais já conversaram, então já teve essa movimentação por parte da escola. O secretário já foi beneficiado com essa formação. Então, falta mais o quê? Quando tem eventos na escola, eles são convidados a irem lá. A escola mostra o que lá se faz. Nossa escola é na cidade, mas têm alguns alunos que frequentam a escola que vêm da zona rural. E tem pessoas que moram mais longe e que também querem estudar lá. Então a prefeitura seria importante para isso também.
Entrevista com Neyliane – professora auxiliar no jardim de infância
Neyliane – Eu sou mãe de um casal. Eles não frequentaram outra escola, só a Anael. A minha filha já não está mais lá, porque agora ela já está no sétimo ano. Meu filho é aluno de Josiele. Ele está no terceiro ano. Eu comecei como mãe, fazendo trabalho voluntário. Daí surgiu a oportunidade e fui trabalhar na cantina. Depois fui para a limpeza. E agora estou como professora auxiliar do Jardim. Já tem dois anos que eu estou no Jardim. Estou aqui fazendo o curso Waldorf e lá onde eu moro estou fazendo o curso de Pedagogia.
Perguntamos se sua filha, quando saiu da Anael, sentiu muita diferença, e se os professores da outra escola comentaram alguma coisa.
Neyliane – Não. Ela não teve dificuldade. Eles comentam que ela é uma aluna tranquila, dedicada, assim como outros que saíram da Anael, que são mais calmos, mais dedicados. Os pais da Anael pediram que se juntassem esses alunos numa mesma turma, porém no ano passado essa turma foi dividida, mas agora voltaram a ficar juntos. São 32 alunos e uns dez ou onze estudaram na Anael.
Entrevista com Jailma Oliveira da Cruz – professora no jardim de infância
Jailma – Eu entrei na escola Anael em 2015 para trabalhar com os alunos que tinham dificuldade na leitura e na escrita e às vezes eu substituo algumas professoras. No final do ano passado precisou de alguém no Jardim e eu fui para ser auxiliar no Jardim. Esta é a primeira formação que eu estou fazendo em Aracaju, no Instituto Micael. Depois da formação de outros grupos, eles me colocaram para eu ter conhecimento sobre a Pedagogia Waldorf. Desde o começo eu gostei e quero ir até o fim.