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The Waldorf Pedagogy
in public school

history – challenges – perspectives
by Rubens Salles and Rosineia Fonseca

palm trees BA

A Escola Murundu é um projeto da Associação Comunitária Murundu, uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 2017, localizada em Palmeiras, no sertão semiárido da Bahia, a cerca de 445 km de Salvador. Entrevistamos a gestora da associação, Ana Cláudia Costa Destefani, e três professoras.

 

highlights

1 – Gestão – Na opinião de Ana Cláudia, a gestão é o maior desafio e fator mais importante para uma Associação, que precisa captar recursos financeiros para sua sobrevivência, ter sucesso. Só com o idealismo ela não se sustenta. Essa preocupação fica muito evidente quando visitamos o site da Murundu. Todas as informações estão muito bem organizadas, e a preocupação com a transparência fica nítida. O encontro de Gestores 2018 oferecido pela FEWB, em especial a palestra com Leila Novak, foi o impulso para toda essa organização. Documentos como estatuto social, atas de reuniões, balanços, boletins informativos, visão estratégica, plano de metas e relatório anual de atividades estão todos disponíveis no site. Isso dá mais credibilidade para a associação, tanto perante o poder público como perante possíveis patrocinadores. Alguns destes documentos você pode acessar abaixo:

Visão Estratégica  pdf
Murundu-informativo 2019 pdf
Murundu-informativo 2
  pdf

Murundu-informativo1 pdf
Círculo dos sonhos pdf

2 – Formação de professores – As três educadoras da Escola Murundu estão fazendo sua formação na Pedagogia Waldorf em Aracaju, que fica a 750 quilômetros de distância do município de Palmeiras. Isso representa um custo alto para a associação. O que faz falta à maioria das iniciativas com Pedagogia Waldorf na rede pública é ter a formação mais acessível.

Ana Cláudia Se a gente conseguisse ter a formação acessível, seria um caminho para uma escola municipal Waldorf. A formação online eu acho que seria maravilhoso. Os cursos da Disciplina Positiva são assim. Tem uns módulos online e outros que são práticos, presenciais. Daí você tem uma plataforma e acessa. Sendo online, pode-se pegar boas formadoras, podendo gravar até na casa delas.

3 – Adaptação cultural – Outra questão importante para as iniciativas pioneiras, em regiões onde ainda não há escolas Waldorf mais antigas, é a adaptação dos conteúdos, como histórias, versos, cantigas, rodas, brincadeiras e trabalhos manuais à cultura da região.

Ana CláudiaÀs vezes, as professoras vêm do curso com uma roda, mas que não tem nada a ver com as crianças dali. O desafio é digerir essa teoria para aquele sertão, com aquela história, para aquelas professoras.

4 – Integração na comunidade – Para que a comunidade local aceite bem a iniciativa, é fundamental torná-la protagonista do projeto. Para isso a Murundu está bancando a formação de educadoras da própria comunidade, e já sentiu que fez muita diferença. Palestras e oficinas sobre a pedagogia, e a Escola de Pais, também têm sido importantes.

Ana Cláudia Decidimos trazer as pessoas da própria cidade para trabalhar aqui, e foi impressionante como mudou o olhar da comunidade perante a escola. Aí começaram a chegar mais alunos e também foi fechado o convênio com a prefeitura.

Alguns dados básicos do município de Palmeiras BA

Endereço – Rua Alto do Renério 74, Palmeiras BA – Cep: 46.930-000
Email: associaçã[email protected]
https://www.associacaomurundu.com.br

Nosso primeiro contato com a Associação Murundu foi através de três professoras que estavam participando de um módulo de formação para professores Waldorf, realizado em Aracaju em abril de 2019, pelo Instituto Social Micael. Nessa ocasião, realizamos uma entrevista com as professoras Valentina Maria Navarro, Edineia Macedo da Silva e Fabrícia Souza dos Santos, que você pode assistir aqui.

 

Valentina também nos contou que participou da criação da Associação Murundu, junto com mais 8 pessoas, num projeto construído através da técnica Dragon Dreaming(1) e que foi um processo bastante efetivo.

Posteriormente, buscamos informações no site da associação, que é muito bom, conversamos por telefone e internet com Ana Cláudia Costa Destefani, presidente do Conselho de Administração da Murundu, e a entrevistamos pessoalmente em São Paulo em 7/06/2019. Com estas fontes de informação compusemos este relatório.

A Associação Murundu tem como foco contribuir para diminuir a situação de vulnerabilidade social do município de Palmeiras. Conforme publicado em seu site, tem como missão “deixar o mundo mais belo, pela arte, cultura de paz e sustentabilidade, fortalecendo os valores humanos e a diversidade de saberes à luz da Antroposofia.”

Embora criada há pouco tempo, a Murundu já possui um histórico muito interessante. É gestora de um Projeto Social que abrange: 1) a Escola Murundu, inspirada na Pedagogia Waldorf, tem uma sede própria construída com técnicas sustentáveis, e tanto a aquisição do terreno como a construção foram custeados por doações dos fundadores. 2) o projeto Minha Gente, através do qual possibilita a formação de mulheres do município em Pedagogia Waldorf; 3) o projeto Arca tem como objetivo oferecer cursos, oficinas, vivências, intercâmbios e eventos das diversas expressões artísticas e de ofícios populares e tradicionais. Sua sede será construída em terreno cedido pela prefeitura, com doações vindas da Suíça.

Tem um Jardim de Infância para crianças entre 2 e 5 anos, onde procura “oferecer experiências que conduzam ao desenvolvimento integral do ser humano, à valorização da infância, à integração social e à participação das famílias, com respeito ao tempo de desenvolvimento de cada um, em atividades integradas à vida”. Com um compromisso de atender pelo menos 50% de bolsistas, a escola hoje tem 26 alunos, dos quais apenas 4 são pagantes, e os demais são mantidos por padrinhos e por financiamento coletivo.

A Associação Murundu tem como foco atender dois bairros em situação de vulnerabilidade social da cidade: Casinhas e o Mutirão. No Mutirão foi realizada uma pesquisa social que está sendo tabulada e a mesma será realizada no bairro Casinhas. Esta pesquisa tem por objetivo mostrar as reais necessidades dessas localidades, para que a Murundu possa planejar suas ações pautadas nessas demandas.

A associação também tem dois grupos de estudos, um pedagógico e outro aberto à comunidade.

Segundo Ana Cláudia, um grande desafio da associação é integrar a população local ao projeto. Trata-se de uma região onde, embora o ecoturismo esteja em expansão, a principal atividade ainda é o garimpo (diamantes, carbonatos, cristal-de-rocha e calcário). A grande preocupação da população local é sua sobrevivência básica e não tem a cultura de se mobilizar por uma causa social.

Para ajudar na integração da comunidade com a escola, assim como na aceitação da Pedagogia Waldorf, a Murundu optou priorizar ter como professoras mulheres em situação de vulnerabilidade social, da própria comunidade, e lhes proporcionar formação nesta pedagogia. Essa escolha se deu porque professoras vindas de outras cidades costumam ter dificuldades em se adaptar à comunidade local e de serem bem aceitas por ela. Através também de uma escola de pais, coral de pais, das atividades da escola e suas festas e eventos, tem conseguido ampliar sua integração com a comunidade.

Sabemos que a tarefa de educar se inicia nos lares e se estende até a comunidade escolar. Por isso, cada vez mais e a cada dia, os laços entre famílias e escola, precisam ser estreitos e a Escola de Pais tem este objetivo, além de nos ajudar a sermos boas famílias para o mundo. (site da Murundu)

Houve muita dificuldade para a prefeitura autorizar o funcionamento da escola, porque nunca houve uma escola de iniciativa privada no município antes. Quase tiveram que pedir a autorização de funcionamento por meio da regional situada fora do município para poderem funcionar, mas, a Murundu optou por ajudar o município a se instrumentalizar para dar a Autorização de Funcionamento. A partir desta decisão, a prefeitura convidou a Associação Murundu para firmar um convênio, que também foi o primeiro a ser realizado no município. São atendidas no período contra turno escolar crianças que demandam muita atenção por estarem sujeitas a sérias vulnerabilidades sociais. Conheça aqui o Convênio.

O convênio permite que os alunos da escola entrem no cômputo de alunos do município para fins de auferir os recursos federais do FUNDEB(2) e, em contrapartida, a prefeitura fornece ônibus para a condução de alunos e a partir de 2020, fornecerá alimentação para as crianças e arcará com o pagamento de uma das professoras. A Murundu tem autonomia administrativa e pedagógica.

O contra turno hoje é a grande preocupação da Murundu, uma vez que é composto por crianças com vários problemas de desenvolvimento ou que sofreram ou sofrem abusos, e a creche municipal não tem tido sucesso em lidar com esses casos. Elas ficam duas horas por dia na Murundu, os pais são ausentes e as crianças apresentam muitos desafios. A Associação passará a oferecer uma fonoaudióloga que trabalha com o método Padovan, para ajudar nessas necessidades.

Desde o início do Jardim de Infância foi realizado o contato com a FEWB, que indicou a tutora Cristina Del Rey para acompanhar a escola. Além da tutoria trimestral, a escola é sede dos Encontros de Interessados em Pedagogia Waldorf na Chapada Diamantina, que oferece para os educadores da rede particular e pública vivências em Pedagogia Waldorf. São encontros bem práticos: construção de bonecas, analisar desenho de criança, fazer bola, contar histórias.

Vários eventos já foram realizados pela Murundu, veja abaixo.

 

Photos

Photos

O que é um murundu?

É um tipo de cupinzeiro muito grande construído com terra endurecida. É típico dos cerrados do Brasil central e a associação tem um no seu quintal! Veja!

1) Dragon Dreaming é uma metodologia criada pelo australiano John Croft, que leva em conta os sonhos das pessoas para mantê-las engajadas em projetos criativos que gerem crescimento pessoal, senso de comunidade e sirvam à Terra. (http://dragondreamingbr.org/o-que-e/)

2) FUNDEB – O valor anual mínimo nacional por aluno/ano dos anos iniciais do ensino fundamental urbano foi estimado para 2019 em R$ 3.238,52. (dados da Confederação Nacional de Municípios)

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