9 de marzo de 2018

dama de lengua portuguesa

 

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obra de Ruth Salles

Esta peça trata dos acentos nas palavras paroxítonas e oxítonas. As palavras são os filhos de dona Língua Portuguesa, e lhe dão muito trabalho. A Ortografia é uma de suas ajudantes domésticas, e a Gramática é a Vovó, que fica sentada numa cadeira de balanço, balançando e tricotando, sem nem ligar para as brigas das palavras. Cada palavra deve ter na frente da blusa seu nome num pequeno cartaz e levantar a mão quando tiver acento.

CARACTERES:
Dona Língua Portuguesa (a mãe)
Ortografia (ajudante doméstica, de avental e lenço na cabeça)
Gramática (a avó, fazendo tricô na cadeira de balanço)
Proparoxítonas (alguns alunos sentados. Só levantam no fim, para cantar.)
Paroxítonas: Lápis, Álbum, Difícil, Hífen, Coelho, Caolho,Toalha, Saía, Saúva, Juízo, Egoísmo,
Rainha, Bênção, Órfão, Ímã.
Oxítonas:Vatapá,Vovô, Siri, Urubu,Tatuí, Acaraú

 

As palavras proparoxítonas estão sentadas num banco, cochichando e tampando a boca para não rir, apontando com o dedo para as paroxítonas e as oxítonas, que estão atracadas, brigando.A Ortografia, enxugando as mãos no avental, passa correndo pela cena.

ORTOGRAFIA:
– Dona Língua Portuguesa! Dona Língua!

DONA LÍNGUA PORTUGUESA (entrando):
– Que foi, Ortografia?

ORTOGRAFIA:
– As crianças estão brigando!

PAROXÍTONAS:
– Ah, Ortô! Você não tinha nada que chamar a Mamãe.

DONA LÍNGUA PORTUGUESA:
– Parem com isso! Parem com isso!

AS OXÍTONAS:
– Não dá, Mamãe!
As Palavras Paroxítonas vivem perturbando a gente.

AS PAROXÍTONAS:
– É nada! São as oxítonas que nos atacam de repente!

DONA LÍNGUA PORTUGUESA (pondo as mãos na cabeça e reclamando):
– Só porque tenho esse nome comprido de Língua Portuguesa,
tenho de educar essa filharada…
– E por que vocês não ficam bem comportadas,
como as Proparoxítonas, que estão ali sentadas?

PAROXÍTONAS:
– Ah, essas aí podem ficar
com o acento sempre no mesmo lugar.
E o nosso vive mudando de cabeça (fazem uma “onda” com os braços),
ou então cisma de escapar,
como em “escola”, “aluno”, “obedeça”.
Isso faz com a gente sempre esqueça
se ele vai fugir ou ficar…

DONA LÍNGUA PORTUGUESA:
– Ah, mas quando vocês terminam em “i” ou em “u” levam acento sim.

LÁPIS:
– Oba! Eu sou o Lápis! (ergue a mão)

ÁLBUM:
– E eu sou o Álbum! (ergue a mão)

DIFÍCIL:
– E eu o Difícil (ergue a mão)

DONA LÍNGUA PORTUGUESA (agarrando um filho que passa correndo):
– Ou então as terminadas com “e” e “n”,
como este Hífen (ele ergue a mão), ou as que
têm uma vogal sozinha no acento tônico e
sem consoante, como…

CONEJITO:
– Coelho?

CAOLHO:
– Caolho?

TOALHA:
– Toalha?

DONA LÍNGUA PORTUGUESA (fazendo que não com o dedo):
– Não, não, nada disso! O “e” de coelho, o “o” de caolho e o “a” de toalha são letras gordinhas,
bem nutridas e se arranjam muito bem sem uma consoante forte do lado. Mas, onde estão…

SAÍA:
– Saía? (ergue a mão)

SAÚVA:
– Saúva? (ergue a mão)

DONA LÍNGUA PORTUGUESA:
– Ah, isso mesmo! O “i” e o “u” são magrinhos e precisam do cabide do acento para se segurar, senão…

OXÍTONAS:
– A Saía vira Saia… hi, hi, hi. E a Saúva vira Sauva, hi,hi,hi…

(Saía e Saúva abaixam as mãos, deixando cair os acentos, desanimadas, e a briga começa de novo.)

DONA LÍNGUA PORTUGUESA (põe as mãos na cabeça e chama):
– Ortografia!

(A Ortografia passa correndo, ameaçando com uma colher de pau e separa a briga.)

PAROXÍTONAS:
– Ah, Ortô, você veio se meter de novo?

ORTOGRAFIA:
– Calma, calma! Vocês não têm juízo?

JUÍZO (ergue a mão):
– Opa! Juízo sou eu, com meu cabidinho!

EGOÍSMO (ergue a mão):
– E eu me chamo Egoísmo!

OXÍTONAS:
– Ih, ele também tem cabide! Mas, apesar do “s”?

EGOÍSMO:
– É que o “s” depois do “i” não me ajuda em nada.
Vive escorregando. Sssss, parece uma cobrinha.
E ainda tenho sorte de não serem dois “ss”!
Senão o meu “i” levava o maior tombo!

RAINHA (importante):
– Mas o “nh” não escorrega. Por isso é que sou a Rainha (dá uma volta).
Não preciso do tal cabide, como vocês. (com desprezo)

OXÍTONAS:
– Olha a importância dela!
Metida como só ela!

(A briga começa de novo).

LÍNGUA PORTUGUESA (põe as mãos na cabeça e chama):
– Ortografia!

ORTOGRAFIA (vem correndo, ameaçando com uma frigideira):
– Fiquem quietas!

OXÍTONAS:
– Ah, Ortô! Você outra vez?

DONA LÍNGUA PORTUGUESA:
– Oxítonas, venham já aqui! Vatapá! Café! Vovô! (as três palavras aparecem, erguendo as mãos)
Muito bem! Todos com o acento no lugar.

(Entram o Siri e o Urubu, de braços caídos, tristes.)

DONA LÍNGUA PORTUGUESA:
– E vocês? Por que estão tristes?

SIRI:
– Eu sou o Siri…

URUBU:
– E eu, o Urubu… Já sabemos que a oxítona que acaba em “i” e “u” não ganha acento…

DONA LÍNGUA PORTUGUESA:
– Ah, só no caso da vogal sozinha, na tônica, como Tatuí, Acaraú.

(Tatuí e Acaraú aparecem alegrinhos, sacudindo seus acentos, quer dizer, suas mãos.)

SIRI:
– No entanto, andam por aí umas malucas que têm dois (ele puxa três palavras), como Bênção, Órfão, Ímã.

AS TRÊS (protestam):
– Nós somos paroxítonas, suas implicantes!

URUBU:
– Pois para mim, vocês não são nem uma coisa, nem outra.
São oxi-paroxítonas. Óxiparóxi! Óxi-paróxi!

(Brigam de novo, e a Ortografia vem correndo e põe as mãos na cintura, batendo com a ponta do pé direito no chão, como quem marca o compasso da zanga. A briga para.)

PAROXÍTONAS:
– Mas, Mamãe, por que mudamos de vez em quando?

OXÍTONAS:
– Isso é invenção sua,
esse acentua e não acentua?

DONA LÍNGUA PORTUGUESA:
– Não!
Vocês não estão vendo a Vovó Gramática,
ali sentada na cadeira de balanço,
tricotando sem descanso?
Pois, quando escapa um ponto,
ela inventa outro, e pronto:
acontece logo uma transformação.
A Vovó tem MUITA imaginação.

OXÍTONAS, PAROXÍTONAS E PROPAROXÍTONAS (cantam todas voltadas para a frente; dona Língua, Ortografia e Vovó batem palmas no ritmo):
“Ai, Vovó, ai Vovó, tenha dó!
Como fui ou serei muda tão depressa,
mas o que sou agora é o que interessa!
Ai, Vovó, ai Vovó, tenha dó!
É preciso eu ter esperteza extrema,
para não esquecer que caiu o trema.
Aguenta, aguenta, não esquenta, não!
A Vovó tem muita imaginação!
(batem com um dedo na testa)
Aguenta, aguenta, não esquenta, não!
A Vovó tem muita imaginação!”
(batem com um dedo na testa)

 

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