Theaterstück von Ruth Salles
Nesta pequena peça, feita para o treino dos verbos no passado, no presente e no futuro, foi aproveitado o mito nórdico das três nornas, mulheres que fiavam e teciam sem parar, cuidando do destino dos seres. Uma representa o Passado, outra o Presente e outra o Futuro.¹
ZEICHEN:
Urda, norna do passado / Verandi, norna do presente / Shalda, norna do futuro
Deuses: Freya, Loki, Frida,Thor e Odin / Coro de outros deuses
As três nornas poderiam ficar num local um pouco mais alto, sentadas a tecer, embuçadas em mantos escuros. Os deuses devem movimentar-se bastante, curiosos e se aproximando do local das nornas. Estas começam a peça cantando, junto com o coro.
URDA (canta):
“Eu sou Urda,
meu nome quer dizer “chegou a ser”.
Cuido do Passado, sempre a tecer.”
VERANDI (canta):
“Eu sou Verandi,
que quer dizer ‘está sendo’.
Cuido do Presente e estou sempre tecendo.”
SHALDA (canta):
“Shalda quer dizer “o que será”.
Cuido do futuro que virá.”
FRIDA:
– Ouviste, Loki?
Quem são aquelas mulheres estranhas
a cantar e a fiar,
sentadas junto à raiz de Asgard?
LOKI:
– Não sei, Frida. Só sei que o rei Gylfi
andou perguntando a uns informantes,
que não disseram nada de importante.
Eles mudam de assunto todo dia.
Acho que têm medo que seja bruxaria.
CORO (solene):
– Podemos informar-vos.
Elas são as três Nornas,
e tecem os destinos de todos
das mais variadas formas.
Essas mulheres vieram da terra dos gigantes,
e agora nada mais é como antes.
FRIDA:
– Serão elas irmãs do gigante Nafti,
pai da Noite?
Elas usam uma capa escura,
que lhes cobre até a fronte.
FREYA:
– Eu vi. Com certeza esconde sua feiúra.
LOKI:
– A deusa da beleza acabou de falar.
– Freya, a verdade ainda está para se revelar.
CHOR:
– Amigos, se o nosso destino elas traçam,
é o Tempo que chegou, e agora tudo passa.
ODIN (uma das nornas está untando a raiz com uma pasta):
– Permanecei aqui.
As nornas não gostam de ninguém por perto,
quando cobrem a raiz com essa pasta secreta.
É assim que a árvore não apodrece.
THOR (zangado e agitado):
– Mas para nós agora o tempo passa.
De nós elas se esquecem.
Vou atrelar minhas cabras na carruagem
e farei até lá uma rápida viagem.
URDA (fala alto e zangada):
– Quem quis desvendar nosso segredo
e se aproximou daqui sem medo?
VERANDI:
– Sois vós, ó deuses, ó Ases,
os invasores audazes?
SHALDA:
– Serás tu, ó Thor vibrante, troante,
que pensas em navegar
por rios turbulentos para aqui chegar?
THOR (em voz alta):
– Eu quis saber o que estais tramando
nessa trama que se urde sob vosso comando!
VERANDI:
– Eu, presentemente, fio o que tu fazes,
e o que pensam e dizem todos os Ases.
Ponho aqui o presente e logo o passo
para a irmã do Passado, que muda meu traço.
SHALDA:
– Urda, cortarás este fio que tecerei agora?
URDA:
– Não. Passa-o para Verandi. Ainda não é hora.
FRIDA:
– Que será todo este segredo?
Esse tecido nos dá medo.
SHALDA:
– Tecemos o que será.
VERANDI:
– O que é.
URDA:
– E o que foi.
ODIN (solene):
– Ah, esse tempo medido
não ficará depois perdido?
(ele fica pensativo e se une ao coro)
LOKI:
– Olhai! Vejo um fio que por trás vai passando
de Urda até Shalda, e vai recomeçando.
FREYA:
– E será que tudo recomeça?
FRIDA:
– Bem devagar…
THOR (afobado):
– Ou bem depressa?
Porque se não, tomarei a carruagem,
pegarei meu martelo e farei a viagem!
CHOR:
– Nada disso,Thor! É delas o Tempo:
o que virá, o que está sendo, o que passou.
Agora escutai o que Odin pensou.
Em vez de ficarmos neste tormento,
que cada um viva com cuidado redobrado
cada momento!
*1: STURLASON, Snorre. Prosa-Edda: Texte aus der nordischen Mythologie. Rio de Janeiro: Numen, 1993
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