8 de octubre de 2017

4 – O comprometimento com o desenvolvimento integral do aluno

 

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Capítulo do livro Pedagogia Waldorf 100 anos +

Foto de Wagner Kiyanitza – Escola Waldorf Micael – Fortaleza CE
Professor de classe João Batista de Carvalho Lopes

“No âmbito escolar, não deve existir alegria maior do que perceber o amor verdadeiro que o professor do seu filho sente por seus alunos”. Rodolfo Steiner

 

Nas Escolas Waldorf, tanto no período da educação infantil, quanto do ensino fundamental e do ensino médio, há sempre um professor que acompanha a classe por vários anos. Ele procura conhecer profundamente cada aluno e sua família, e é comprometido com o seu desenvolvimento por todo o respectivo período de ensino.

O espaço dedicado à Educação Infantil Waldorf é chamado de Jardim de Infância. Suas turmas são constituídas por crianças de quatro a seis anos, como se fossem irmãos maiores e menores em uma grande família. Assim, as maiores têm a oportunidade de aprender a ajudar e dar exemplos aos menores. A cada ano, conforme chegam à idade apropriada, passam para o 1° ano do ensino fundamental, e novas crianças pequenas entram na mesma turma. Normalmente, cada aluno tem a mesma professora durante estes 3 anos da educação infantil. Muitas escolas também têm berçário e turmas de maternal, para atender à demanda das famílias, embora seja sempre recomendado que, na medida do possível, até os três anos a criança fique em casa sob os cuidados parentais.

No ensino fundamental, toda turma tem seu professor de classe, cuja forma de atuação detalhamos a seguir. Ele a acompanha por todo o período, do 1° ao 5° ano nas escolas que só atendem até o fundamental I, e até o 8° ano nas escolas que atendem até o fundamental II. O 9° ano do fundamental passa a ter o formato do ensino médio, onde cada matéria tem seu professor especialista, mas a classe continua tendo um professor-tutor, que é responsável pelo fortalecimento do elo da escola com os alunos e as famílias, e conduz com a classe projetos que promovam o desenvolvimento coletivo e o estímulo à atuação dos jovens como protagonistas de transformações sociais.

 

O PROFESSOR DE CLASSE

No ensino fundamental das escolas Waldorf adota-se o professor de classe, ou professor regente, que acompanha a classe e ministra a primeira aula do dia, com duas horas de duração, todos os dias. Nestas aulas os conteúdos de português, matemática, história, ciências etc são ministrados por épocas, que duram de três a quatro semanas cada uma, e nelas o professor pode aprofundar o estudo de um tema e enriquecer suas aulas com o apoio de atividades artísticas e vivências práticas. As outras matérias, como línguas, educação física, música, trabalhos manuais etc, geralmente são ministradas por professores especialistas, mas sempre que possível elas mantêm uma relação com os conteúdos trabalhados em cada época.

O objetivo do professor de classe é a formação integral de seus alunos, e as matérias de cada ano são ensinadas de forma integrada a este objetivo. Trata-se de um comprometimento. Ele passa a conhecer bem a família de cada aluno, sua história de vida, suas dificuldades e qualidades. A formação em Pedagogia Waldorf dá ao professor o preparo necessário para assumir esta tarefa e o professor de classe iniciante tem muitas vezes um tutor, um professor com muita experiência, às vezes aposentado, que assiste suas aulas periodicamente e o orienta e ajuda quando necessário. Acompanhando sua classe, o professor tem ainda a possibilidade de planejar muito melhor o próximo ano de trabalho, pois já conhece seus alunos, o que é muito diferente do que começar a cada ano com uma nova turma. Assim, nas escolas Waldorf o ensino é protagonizado pelo professor, que o planeja e realiza. Livros didáticos são usados apenas para seu preparo e planejamento. Ele é livre para preparar suas aulas, escolher ou criar poemas, histórias, peças de teatro etc, e os alunos são incentivados a escrever com muito capricho em seus cadernos. Tudo deve ser bonito, mas sempre dentro dos limites de cada criança. Com o uso adequado de sua voz, seu conhecimento, sua postura, seu senso estético e amor pelo aluno, o professor realiza a educação. Nenhum livro didático, recurso técnico ou sistema de ensino pré-formatado substitui a qualidade da relação humana entre um professor preparado, motivado e entusiasmado com seu trabalho, e seus alunos. Nada supera ou substitui a palavra falada que vai de um ser humano a outro.(1)

Trabalhando todos os dias com seus alunos, o professor de classe tem condição de estabelecer com eles uma relação de confiança e alcançar uma autoridade amorosa natural, essencial para criar as melhores condições para a ação de educar. Essa autoridade pressupõe, por exemplo, que quando um aluno realiza um malfeito, a repreensão seja feita sempre focando no ato, e não no autor. É fundamental que o aluno sinta que, apesar do seu erro, o professor continua gostando dele. Mesmo diante de um malfeito intencional, é importante não reagir com raiva, o que demanda uma constante autoeducação do professor. Ele precisa sempre ajudar o aluno a reparar seu malfeito, tenha tido ele consequências materiais ou emocionais, para que esse episódio não fique pesando na sua consciência, e ele não se sinta excluído do grupo. Para o aluno se retratar muitas vezes não é suficiente apenas pedir desculpas. Essa autoridade amorosa conquistada no início do ensino fundamental transforma-se, com o passar dos anos, numa relação de confiança cada vez mais consciente pelos alunos.

Na eventualidade de um professor de classe precisar ser substituído, o processo é conduzido pela Conferência Interna da escola, que será responsável por prospectar, selecionar e contratar outro com as qualidades necessárias para dar prosseguimento ao trabalho já realizado.

A escola é um ambiente privilegiado para o desenvolvimento da criatividade, do senso estético e dos valores humanistas como responsabilidade, solidariedade, sociabilidade, tolerância, inclusão, justiça, democracia, diversidade, cidadania e sustentabilidade, entre outros. Mas uma influência positiva não acontece por acaso, e sim por uma ação consciente e coerente do formador. Um professor só ensina justiça, por exemplo, se for justo com seus alunos, só ensina solidariedade se for solidário, só ensina responsabilidade se for responsável, só entusiasma seus alunos a aprender se ensinar com entusiasmo. O professor Waldorf sabe que seu exemplo como ser humano faz parte do meio ambiente formador da criança, e assume esta responsabilidade. Toda criança precisa sentir que é importante para o seu professor.

“Temos a tarefa de atuar de tal modo no meio ambiente da criança que ela possa se tornar, até em seus pensamentos e sensações, uma imitadora do bem, do verdadeiro, do belo, do sábio.” (2) Rodolfo Steiner

Hoje, devido ao fato de grande parte das pessoas trabalharem fora, muitas crianças têm pouca dedicação de adultos no âmbito familiar, o que aumenta a importância social de um professor comprometido com a formação de seus alunos. Pesquisa realizada por 40 anos pela Fundação Van Leer (3) comprovaram que inúmeras crianças, apesar de expostas a experiências familiares muito negativas e desestruturantes, conseguiram não repetir estas vivências em sua vida adulta, pelo fato de terem tido pelo menos uma pessoa de referência, em quem confiavam, para recorrer nas horas difíceis. E esta pessoa de referência, muitas vezes não era alguém da família. Ute Craemer considera que essa pessoa de referência “deve existir também, por exemplo, nas creches, nos orfanatos e nas escolas, o que implica em organizar o trabalho nestas instituições de tal forma que uma pessoa acompanhe a criança o mais perto possível e por um tempo o mais longo possível”. (4)

A partir da pesquisa acima citada, teve início o desenvolvimento da teoria da Resiliência aplicada à psicologia, pelo psiquiatra inglês Michael Rutter. Inúmeros outros estudos vêm sendo realizados desde então sobre esta capacidade que cada pessoa tem, ou pode desenvolver, de enfrentar problemas, traumas, tragédias, mudanças, violência e situações adversas em geral, sem prejuízo de sua saúde mental ou física, e ainda incorporar estas experiências difíceis de forma positiva na sua própria biografia. Todo educador consciente e bem preparado pode contribuir para aumentar a resiliência de seus alunos. (5)

No enfrentamento da pandemia da Covid 19, quando as aulas precisaram realizar-se remotamente, foi percebido outro benefício do professor acompanhar a classe, durante o ensino fundamental. O fato dos professores Waldorf já terem com seus alunos uma relação afetiva estabelecida, e maior proximidade com as famílias, ajudou muito para que o ensino a distância pudesse ser realizado de forma produtiva. O comprometimento do professor com seus alunos é um dos esteios da Pedagogia Waldorf, e favorece para que o professor atue sobre as relações e as atitudes dentro da classe e nas famílias. A partir desta postura acontece o ensino da convivência, que junto com o desenvolvimento do pensar, sentir e agir, princípios da Pedagogia Waldorf de que trataremos adiante. Estes coincidem com os quatro pilares da educação contemporânea estabelecidos pela UNESCO em 1998, no Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI – Educação: Um Tesouro a Descobrir, coordenado por Jacques Delors. São eles:

• Aprender a conhecer (pensar – cognição)
• Aprender a ser (sentir – vida sensível)
• Aprender a fazer (agir – vontade)
• Aprender a viver juntos (convivência – relações humanas).

 

AVALIAÇÕES E RETENÇÕES

No ensino fundamental das escolas Waldorf a avaliação dos alunos não é baseada em notas de provas. Não é função da escola classificar as crianças nem estimular a competitividade. Como o objetivo da escola é a educação integral, as avaliações são qualitativas e o boletim que os professores fazem é descritivo. Nele são avaliadas qualidades como: compreensão e assimilação dos conteúdos, concentração, organização, habilidades e capricho, envolvimento e interesse, pontualidade e qualidade na execução de tarefas, empenho em aprender, esforço para superar desafios, comportamento e sociabilidade, coordenação motora e expressão artística entre outros. As qualidades avaliadas variam também de acordo com a idade da classe. Provas podem existir, geralmente a partir do 6° ano, para fins de mensurar o aprendizado, com avaliação por conceitos (A B C), a critério de cada escola e da Diretoria de Ensino local, mas não são decisivas para reter um aluno.

As retenções só acontecem em casos muito raros. Nesta etapa da educação é muito importante que cada aluno tenha a oportunidade de se socializar com os de sua idade, e é comum que alunos que tiveram dificuldade de acompanhar a classe em determinado período, se recuperem num período seguinte. A retenção discrimina e estigmatiza o aluno, com sérias consequências para sua autoestima, e há um forte desestímulo pelo aluno ter que passar de novo pelos mesmos conteúdos.

Outro aspecto importante é que, durante o ensino fundamental, os alunos estão num período intenso de seu desenvolvimento humano, e, para cada idade, há práticas pedagógicas mais adequadas para estimular o aprendizado. Há ocasiões em que a retenção é necessária, como quando um aluno demonstra não ter maturidade para seguir com a classe, por exemplo, mas é sempre um processo tratado caso a caso, junto com a família e com muito cuidado.

A possibilidade de reprovação também incute nos alunos o medo de errar, como se errar fosse a pior coisa que pode acontecer. Este medo vai, com o tempo, matando a criatividade e o protagonismo destas crianças, que chegarão à idade adulta sem a capacidade de ter ideias originais. O mundo onde nossas crianças vão viver traz grandes desafios sociais e ambientais a serem enfrentados, além de outros que ainda nem conhecemos. A sustentabilidade planetária e o futuro de todos dependerá de uma sociedade mais humanizada e de uma economia muito mais criativa.

A importância de humanizarmos a educação também é recorrente no trabalho de vários autores contemporâneos, que não fazem parte do movimento Waldorf.

 

ALGUMAS OPINIÕES ACADÊMICAS

“Atualmente considera-se o conhecimento tão importante quanto as atitudes, ou seja, tudo o que representa formar as atitudes. Para educar realmente na vida e para a vida, para essa vida diferente (plural, participativa, solidária, integradora…), e para superar desigualdades sociais, a instituição educativa deve superar definitivamente os enfoques tecnológicos, funcionalistas e burocratizantes, aproximando-se, ao contrário, de seu caráter mais relacional, mais dialógico, mais cultural-contextual e comunitário, em cujo âmbito adquire importância a relação que se estabelece entre todas as pessoas que trabalham dentro e fora da instituição. É nesse âmbito que se reflete o dinamismo social e cultural da instituição com e a serviço de toda a comunidade, certamente considerada de modo amplo […] A instituição que educa deve deixar de ser “um lugar” exclusivo em que se aprende apenas o básico e se reproduz o conhecimento dominante […] Deve ensinar, por exemplo, a complexidade de ser cidadão e as diversas instâncias em que se materializa: democrática, social, solidária, igualitária, intercultural e ambiental”. (6) Francisco Imbernon

“Um desafio fundamental da educação atual é como colaborar na construção de uma cidadania multicultural e intercultural a partir dos ambientes de aprendizagem, assim como o papel da mediação pedagógica para o desenvolvimento de uma consciência cidadã crítica, responsável e criativa […] A total ausência de valores internos está provocando sérias patologias sociais, como a sedução dos jovens pelas drogas, o aumento da corrupção, dos sequestros, da sonegação e da criminalidade em geral’”. (7) Maria Cândida Moraes

“A inteligência emocional, e não a capacidade abstrata de raciocinar, é o que realmente determina os atos e decisões importantes da vida, assim como o êxito nas relações humanas e muitas vezes o êxito profissional […] deste modo, a dimensão emocional do ser humano, que há apenas duas décadas estava proscrita em muitas instituições educativas, emerge com valor próprio junto à experiência e à razão”. (8) Saturnino de la Torre

“A compreensão é a um só tempo meio e fim da comunicação humana. Entretanto, a educação para a compreensão está ausente do ensino. O planeta necessita, em todos os sentidos, de compreensão mútua. Considerando a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão pede a reforma das mentalidades. Esta deve ser a obra para a educação do futuro. A compreensão mútua entre os seres humanos, quer próximos, quer estranhos, é daqui para frente vital para que as relações humanas saiam de seu estado bárbaro de incompreensão”. (9) edgar morin

“Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode-se dar alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar.” (10) paulo freire

“A inteligência emocional é aceita porque tem o nome inteligência no meio. Tudo o que é intelectual interessa. Não se dá importância ao emocional. Esse aspecto é tratado com preconceito. É um absurdo, porque, quando implementamos uma didática afetuosa, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo. Se queremos mudar o mundo, temos de investir em educação. Não mudaremos a economia, porque ela representa o poder que quer manter tudo como está. Não mudaremos o mundo militar. Também não mudaremos o mundo por meio da diplomacia, como querem as Nações Unidas – sem êxito. Para ter um mundo melhor, temos de mudar a consciência humana.” (11) Cláudio Naranjo

Além de vários autores, a BNCC – Base Nacional Comum Curricular também destaca a humanização da educação nas dez competências que considera necessárias ao desenvolvimento de todas as crianças, adolescentes e jovens.

Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. Ao definir essas competências, a BNCC reconhece que a educação deve afirmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza.

 

Competências Gerais da Base Nacional Comum Curricular (12)

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Estar à altura de atender a estes desafios exige do professor uma constante autoeducação. Peter Biekarck afirma que autoeducação implica o professor criar um ecossistema interno saudável, para a sua própria existência. E, quando este o cria, a criança que está diante dele percebe, e esse ecossistema a envolve e se torna também um patrimônio para ela. O professor passa a ficar mais plenamente diante das crianças e elas mais plenamente diante dele. Para educar, não basta conhecer técnicas, é essencial uma dedicação humanizadora. (13)

“Não há, basicamente, em nenhum nível, uma outra educação que não seja a autoeducação. Toda educação é autoeducação e nós, como professores e educadores, somos, em realidade, apenas o entorno da criança educando-se a si própria”. Rodolfo Steiner

O professor Waldorf sabe que primeiro temos que educar a nós mesmos para depois podermos educar as crianças. Ele teve uma formação que o ajudou a resgatar sua criança interior e a desenvolver sua capacidade de observação, para superar a superficialidade e perceber o que cada criança quer dizer sobre si. É preciso criar um meio ambiente que favoreça uma harmonia entre professor e alunos, que vai além das palavras e técnicas pedagógicas. Para Richter, a autoridade do professor depende da forma como ele “responde” às seguintes questões das crianças:

"¿De verdad me ves?"
“¿Puedes ayudarme a hacer una cita con el mundo?”

“Isso define a posição do professor e o tipo de relação do aluno com ele. A resposta a essas perguntas essenciais ocorre durante e através de um ensino que não vise apenas a mera transmissão de vivências mundanas, mas que permita que se vivencie o mundo. Se o professor passa por esta prova, ele é aceito pelos alunos como autoridade.” (14) tobias richter

 

TUTORIAS

Há um cuidado permanente com a qualidade das aulas e das relações nas escolas Waldorf, razões pelas quais várias formas de tutoria são realizadas.

Tutoria para professores – Quando um professor com pouca experiência assume uma classe pela primeira vez, é comum que ele tenha a tutoria de um professor mais experiente, que o ajuda a observar e avaliar seus alunos com maior profundidade, e a esclarecer dúvidas, para que possa tomar suas decisões com mais segurança.

Tutoria para o ensino médio – Quando os alunos passam para o ensino médio, eles deixam de ter o professor de classe, e passam a ter somente os professores de matérias, mas cada turma também tem um professor-tutor durante este período, que cumpre o papel de um professor de classe, atuando como um orientador para os alunos e as famílias.

Tutoria para escolas – Escolas em formação, onde toda equipe é inexperiente, podem dispor de tutoria externa orientada pela FEWB (15).

 

Bibliografía

  1. CARLGREN, Frans y KLINGBORG, Arne. Educación para la Libertad – la Pedagogía de Rudolf Steiner, 2006, p. 46 y 47.
  2. STEINER, Rudolf – A Metodologia do Ensino e as condições da vida do educar, São Paulo: Federação das Escolas Waldorf do Brasil, 2004. p. 76
  3. Apud FRIEDMAN, Adriana y CRAEMER, Ute. (orgs). Caminos hacia una Alianza por la Infancia, 2003, p. 69.
  4. FRIEDMAN, Adriana e CRAEMER, Ute. (orgs.). Caminhos para uma Aliança pela Infância, 2003, p. 70.
  5. Sociedade Brasileira de Resiliência – http://sobrare.com.br/resiliencia/
  6. IMBERNÓN, Francisco. Docente y Formación Profesional, 2006, p. 7.
  7. MORAS, María Cándida. Complejidad y Mediación Pedagógica. Nuevas Perspectivas para la Educación Intercultural. 2008, pág. 15.
  8. TORRE, Saturnino de la. Estrategias Didácticas Innovadoras y Creativas. 2008, p. 63.
  9. MORÍN, Edgar. Los Siete Conocimientos Necesarios para la Educación del Futuro. 2002, pág. 17
  10. FREIRE, Pablo. Pedagogía de la Autonomía – saberes necesarios para la práctica educativa. 2002, pág. dieciséis.
  11. NARANJO Cláudio. Entrevista para a Revista Época em 31/05/2015
  12. BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Brasília DF: Ministério da Educação, 2018, p. 08.
    Idem, op. cit., p. 09.
  13. BIEKARCK, Peter. Colección de videos Grandes Educadores. 2009
  14. RICHTER, Tobías. Objetivo pedagógico y metas didácticas de una escuela Waldorf. 2002, pág. 21
  15. Federação das Escolas Waldorf do Brasil – http://fewb.org.br/

 

 

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