Die Waldorfpädagogik
in der öffentlichen Schule
Geschichte – Herausforderungen – Perspektiven
von Rubens Salles und Rosineia Fonseca
Aracaju SE
Chegamos em Aracaju no dia 18/04/2019 para conhecer duas escolas públicas que estão começando a aplicar a Pedagogia Waldorf e fomos recebidos pelo casal Maria Aparecida do Nascimento Dias (a quem chamamos carinhosamente de Cida) e Paulo do Eirado Dias Filho, que são os responsáveis pelo Instituto Social Micael ISM. A criação destas duas escolas foi resultado de um trabalho de longo prazo realizado por eles. O ISM nos proporcionou a hospedagem em Aracaju.
Por sugestão de Cida, chegamos em Aracaju durante a realização de um módulo do curso de formação para professores Waldorf, realizado pelo ISM, onde iríamos nos encontrar com professoras de escolas Waldorf públicas de outras cidades, e estados. Foi uma ótima oportunidade para nós, pois desconhecíamos algumas dessas iniciativas. Conhecemos professoras da Escola Murundu (Palmeiras BA), Escola Anael (Várzea da Roça BA) e Flor de Araçá (Conde PB), e uma mãe de aluno da Escola Casa da Mata (Mata de São João BA).
Höhepunkte
1 – A EMEI Dr. José Calumby Filho foi a primeira escola pública de origem a adotar oficialmente a Pedagogia Waldorf no Brasil, e o fato de ter sido criada durante a gestão pública de um governo e ter tido seu projeto mantido pela administração sucessora, demonstra que o projeto foi muito bem construído.
2 – Este caso comprova como é importante termos mais núcleos para formação de professores Waldorf, pois foi a partir do interesse de um grupo de professoras da cidade de Aracaju que o projeto foi proposto e se realizou. Tudo começou com um pedido de apoio à prefeitura para custear a formação Waldorf, e depois progrediu para a implantação de uma escola piloto. O projeto começou com uma EMEI, e agora os alunos egressos deste jardim de infância já têm uma EMEF onde poderão continuar o ensino fundamental inspirado na Pedagogia Waldorf.
3 –O Instituto Social Micael tem uma importante atuação na região e já formou mais 100 professores Waldorf. Conhecemos e entrevistamos várias professoras que já se formaram e outras que ainda estão cursando, todas muito felizes por terem conhecido e poderem praticar essa pedagogia. Em Aracaju está se constituindo um movimento Waldorf muito promissor.
4 – Um fator fundamental é haver pessoas como a Maria Aparecida e o Paulo, que conhecem a Pedagogia Waldorf a fundo, e têm todos os argumentos para ajudar a convencer os gestores públicos a aceitarem o desafio de apoiar um projeto com uma pedagogia que ainda é pouco conhecida e é muito diferente da convencional. Levar o gestor público para conhecer escolas Waldorf já estabelecidas, também ajudou a criar maior interesse pelo projeto.
5 – Depois de inauguradas as duas escolas, muitos outros educadores passaram a conhecer um pouco sobre a pedagogia e se interessaram em aprender mais. Vários começaram o curso de formação com o apoio da prefeitura, criando-se assim um círculo virtuoso que vai levando essa educação humanizadora para cada vez mais professores, crianças e famílias.
Alguns dados básicos sobre o município de Aracaju SE
Pessoas entrevistadas
Instituto Social Micael
Maria Aparecida do Nascimento Dias
Paulo do Eirado Dias Filho
Universidade Federal de Sergipe
Professor Dr. José Américo de Menezes
Secretaria Municipal de Educação
Maria Cecília Tavares Leite – Secretária de Educação de Aracaju SE
Núbia Lira – Coordenadora do Ensino Infantil
Ana Débora Lima França – Coordenadora do Ensino Fundamental
EMEI Dr. José Calumby Filho
Antonielia Ribeiro Santos Fontes – ex-diretora
Simone Lima – diretora
Márcia Soares Ramos Alves – coordenadora
Maria José Vieira de Almeida – professora
Mayra Cristina Oliveira de Araújo – professora
Cássia de Fátima – professora
EMEF Jose Souza de Jesus
Rivânia Rocha – coordenadora
Beatriz Lima Andrade – professora
Cleide Selma da Hora Santos – professora
Rita Nilda Santos de Santana – professora
Xislene Santos do Nascimento – professora
O Instituto Social Micael
Fruto do encantamento de Maria Aparecida pela Pedagogia Waldorf, do apoio incondicional do Paulo e do esforço de vários colaboradores e admiradores, igualmente apaixonados pela pedagogia, o impulso que levou à criação do Instituto Social Micael teve início em 1991, quando Cida começou a ministrar um curso baseado da Pedagogia Waldorf, que chamou-se Micael Centro de Artes e Desenvolvimento. Trabalhou também com menores infratores, junto à Fundação Renascer. Foi um longo caminho até 2003, quando foi formalizado o Instituto Social Micael ISM. Seus objetivos incluem a publicação de livros, a proteção ambiental, promoção da Agricultura Biodinâmica e realizar o sonho de atuar para melhorar a qualidade de vida do Ser Humano através da Educação. Contou com importante apoio de Gerard Bannwart, e realizou trabalhos com proeminentes representantes do movimento antroposófico, como Rudolf Lanz, Ute Craemer, Waldemar Setzer e Sônia Setzer, entre outros.
Localizado em Aracaju, SE, o ISM já formou mais de 100 professores Waldorf, em duas turmas, cada uma com 1.600 horas (4 anos). O curso é reconhecido como pós-graduação lato sensu, em parceria com a Faculdade São Luís de França (SE). Por estes cursos já passaram alunos das mais diferentes regiões do país, com maior destaque os estados da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Pará e Piauí. O Instituto busca apoiar a implantação e o funcionamento de iniciativas Waldorf nestas regiões, somando sua experiência à resiliência e à determinação destes novos empreendedores sociais.
O ISM já promoveu outros cursos baseados na Antroposofia, como: Pedagogia Curativa (1.900 horas, em parceria com UFS – Universidade Federal de Sergipe); Agricultura Biodinâmica (470 horas, em parceria com a Universidade de Uberaba – UNIUBE/MG e Instituto ELO- SP); Germinar+ (150 horas – duas turmas em parceria com o Instituto ECOSOCIAL-SP).
Atualmente o ISM sedia o Ramo Micael, a Classe de Estudo Superiores, a Escola Micael de Aracaju (Educação Infantil e fundamental de 1° a 5° ano), e a editora Edições Micael, focada na obra de Rudolf Steiner.
A construção do movimento Waldorf em Aracaju
O movimento para fortalecer a Pedagogia Waldorf em Sergipe começou a partir do curso de Pedagogia Curativa realizado em parceria com a Universidade Federal, que teve início em 2003 e durou 5 anos. Nessa oportunidade, participaram do curso dois professores indicados pelo departamento de pedagogia da universidade, um dos quais, o professor José Américo de Menezes, é parceiro e membro ativo do ISM até hoje, mantendo um elo acadêmico muito importante, com o apoio, inclusive, do reitor da universidade. Um grupo de alunos seus faz estágio na EMEI Dr. José Calumby Filho, onde a Pedagogia Waldorf está sendo implantada, e participam de uma turma do curso de formação de professores Waldorf do ISM especial para professores da rede pública.
Desde o início da realização dos cursos de formação pelo ISM, professores da rede pública municipal começaram a participar. No segundo semestre de 2013 esse grupo pediu ajuda de Cida e Paulo para conseguir junto à prefeitura um apoio financeiro para fazerem o curso. Ela conta assim essa história:
Cida – Fui lá várias vezes apresentar para a secretária Márcia Valéria Lira Santana o que era o curso, o que era a Pedagogia Waldorf. Eu levava material de alunos, objetos, cadernos, e numa dessas vezes, acho que na quinta vez, tudo com audiência marcada, ela me fez uma proposta e disse assim: ‘Já estou entendendo o que você quer me dizer. Estou entendendo que um professor sozinho não é suficiente. Vou lhe propor que junte todos esses professores numa escola só e se vocês trabalharem direito, vão trabalhar nessa escola só e exclusivamente com a pedagogia Waldorf.’ Eu estava ouvindo uma coisa que eu queria muito e nem acreditava que era verdade. Eu não tinha vínculo nenhum com a prefeitura e estava sozinha. Eu disse: Eu posso convidar os professores, marcar outra audiência com a senhora e a senhora explicar qual é essa ideia? Ela disse: ‘Pode’. Eu saí feliz, saltitante. Daí fui com os professores no dia marcado. E falei: Eu quero fazer uma pergunta: Se a senhora sabe o que está propondo? Ela disse: ‘Eu sei. Já li, já pesquisei muito, em todas as vezes em que você veio aqui. Trabalhem direito, porque eu sei que tudo passa e os governos passam. Se vocês não tiverem uma proteção, pode chegar uma outra gestão e acabar. Se vocês trabalharem direito, eu encaminho para a Câmara dos vereadores, uma proposta de lei, definindo que naquela escola só pode atuar a pedagogia Waldorf.’ Falei: Então a gente tem que correr contra o tempo para trabalhar, e foi o que fizemos.
Cida foi a São Paulo com a secretária de educação para visitar a exposição pedagógica no Colégio Micael, e ela ficou encantada com o currículo e com o trabalho dos alunos e professores, e participou de atividades na escola. Sua visão técnica permitiu entender como o desenvolvimento humano é promovido pelo currículo Waldorf. Foi escolhida para implantar o projeto numa escola que estava em construção no bairro 17 de Março, na periferia da cidade. Enquanto esperavam a escola ficar pronta as professoras continuavam estudando e fazendo o “enxoval” para a escola, construindo enfeites, brinquedos, bonecas etc. Iam semanalmente visitar a escola, até que em 10 de Abril de 2017 a EMEI Dr. José Calumby Filho teve sua aula inaugural.
Nessa época houve um evento muito marcante, que foi a pintura do muro da escola, de 210 metros, que foi todo decorado com desenhos com motivos apropriados para as crianças pequenas. Essa pintura, a partir de uma estratégia desenvolvida pelo Instituto Social Micael, foi feita com participação da comunidade local, inclusive de pichadores residentes no bairro. É uma história sensacional, que você pode conhecer em texto ou vídeo anexos.
Als eine Mauer Menschen zusammenbrachte – Texto pdf
A história do muro em VÍDEO
A importância da parceria com o poder público
Cida considera que se não tivesse apoio da gestão municipal nada disso teria acontecido. Então, deve-se ter muita gratidão, muito reconhecimento, porque um gestor num cargo executivo na educação tem uma grande demanda de trabalho, pois é responsável por um trabalho em grande escala. Não é fácil estudar e refletir sobre novas propostas e pedagogias nestas circunstâncias. Então a gente deve reconhecer sempre quando essas oportunidades acontecem e ter muita gratidão por essa confiança.
A escola foi inaugurada, a proposta de lei não se efetivou, e após as eleições de 2016 a oposição assumiu a prefeitura, mas o projeto foi preservado. Em março de 2018, já na atual gestão municipal, foi inaugurada a EMEF José Souza de Jesus, que é vizinha à EMEI Dr. José Calumby Filho, e é para onde vão as crianças alunas desta escola quando atingem a idade para passarem para o primeiro ano do ensino fundamental. Ambas as escolas têm várias professoras cursando a formação Waldorf, contam com assessoria pedagógica do ISM, e aos pouco essas escolas estão se transformando.
Paulo – Estes são atos de ousadia. De um lado uma gestão teve a coragem de implantar uma pedagogia diferente de uma forma inédita no Brasil, a partir de um movimento que partiu de dentro da própria rede, de um grupo de professores interessados. E na gestão atual também existe uma coragem no sentido de manter um projeto que nasce na gestão antagonista e isso a gente também entende como sendo um processo muito republicano, muito civilizado, dando continuidade e um ato de responsabilidade com a comunidade. E à medida que isso vem acontecendo, porque já são mais de dois anos, já vemos que a comunidade do bairro 17 de Março está transformando as escolas no centro social do bairro. Tudo é lá dentro. Tudo acontece em torno da escola, e isso é uma maravilha! Já houve reuniões à noite com mais de 100 famílias. Cida complementa: “Em frente à escola tem uma clínica da família. O médico da família, no dia dos pais, deu uma palestra na escola sobre a saúde masculina. A gente não comemora dia dos pais, comemoramos dia da família.”
A atual secretária de educação, Maria Cecília Tavares Leite, cuja entrevista você pode assistir em vídeo anexo, também foi a São Paulo com Cida conhecer escolas Waldorf, como a Escola de Resiliência Horizonte Azul e a Escola Rudolf Steiner. Assim, como fica demonstrado, implantar uma escola Waldorf numa rede pública demanda muita determinação e trabalho, e com muito respeito e compreensão pela atuação do gestor público.
Outra conquista muito importante desse trabalho de longo prazo pudemos ver na resolução normativa 5/2015, do Conselho Estadual de Educação de Sergipe, que estabelece como devem ser estruturados os Projetos Político Pedagógicos das escolas. Dentre as diversas diretrizes, o documento dá exemplos das concepções pedagógicas que podem embasar os PPPs, incluindo entre estas a Pedagogia Waldorf, assim como incluindo Rudolf Steiner como autor que representa essa pedagogia.
Resolução Normativa 05/2015 – pdf
Visitas à Secretaria de Educação
Em 22/04/2019 visitamos a EMEI Dr. José Calumby Filho, em 23 e 24/04/2019 visitamos a EMEF José Souza de Jesus e a Secretaria de Educação. Entrevistamos várias professoras, representantes do Instituto Social Micael, a Coordenadora de Educação Infantil, a Coordenadora de Ensino Fundamental e a Secretária Municipal de Educação. Algumas conversas foram gravadas em áudio e outras em vídeo. Fomos muito bem recebidos por todos, com um carinho e um interesse muito grande pelo nosso trabalho.
A conversa com Núbia Josania Paes de Lira, a Coordenadora do Ensino Infantil, sobre a EMEI Dr. José Calumby Filho
Rubens – Núbia, considerando o trabalho feito até agora na Calumby, qual é a sua expectativa daqui para frente? O que vocês planejam em função desse trabalho que está sendo feito, dos resultados que estão aparecendo, e como isso entra no planejamento de vocês numa perspectiva de futuro?
Núbia – Eu tenho dois anos e quatro meses aqui só. Eu não estava há mais tempo porque era uma outra gestão. Fui convidada em 2017 para vir para cá para a rede e é muito temporal em termos de gestão também, amanhã eu nem sei se nós estaremos aqui. Mas, o que hoje a gente enxerga: Nós sonhamos a partir do que nós temos, do que enxergamos. Vou falar especificamente da Calumby. Sim, há um sentimento cultivado nas pessoas que estão naquele espaço, naquele lugar, um sentimento intencionalmente muito bom e uma prática sendo pensada para cumprir esse sentimento de fazer algo em prol da criança. Enxergamos isso muito forte, a criança sendo alçada à sua importância. Ainda temos resquícios tradicionais de que a criança é um ser que ainda não está, ela vai ser, “Ah… ela está se preparando para ser um adulto…” Na verdade ela já é inteira. A perspectiva que vemos na experiência da Calumby, do que conhecemos das meninas, nós não participamos da formação específica Waldorf, mas vemos o resultado do trabalho que tem sido feito com aquela equipe e com as crianças como algo muito valorizado por elas e, portanto, pelas crianças. Nós fomos para algumas atividades e compartilhamos outras. Nesse cultivo do imaginário da criança, vi como eles trabalharam com a pintura. Que coisa mais linda! E fomos também na despedida, naquele momento delas irem para a outra escola (Cerimônia do Arco das Flores). E como foi construída aquela ideia, junto com as professoras, onde as próprias crianças produziram os elementos da sua despedida. Como isso foi emocionante para as famílias! As famílias chorando, de estarem vivendo aquele momento. Confesso que eu pensava: “O que será que essa mãe está pensando, por que ela está tão emocionada?” Naquela passagem da criança para um outro lugar que ela terá sim, no futuro, coisas boas. Isso elas diziam sempre. Eu pensava assim: “Eu acho que as mães estão pensando: Tomara que seja, espero mesmo que seja.” Era como se elas estivessem criando esperanças nesses filhos que precisam ter um mundo melhor. Isso é muito nítido.
E o que eu acho também que é muito bacana nesse grupo de professoras, é que a partir dessa experiência interna há uma projeção muito forte dessa ideia de defender a criança, de construir esse mundo para a criança, nos encontros que elas têm com os professores das outras escolas. Quando elas chegam, elas dão alguns depoimentos dos seus trabalhos e de como as crianças lidam com o trabalho que elas fazem lá, e então fica todo mundo admirado: “Ah, então é bom o trabalho lá!” Isso gera nas outras pessoas uma curiosidade. As pessoas percebem que elas se sentem realizadas por fazerem aquele trabalho com aquelas crianças. Essa é a ideia que fica nítida quando elas falam com muito orgulho do trabalho que conseguem fazer naquela escola, muito empolgante. Isso de fato empolga as outras pessoas, e quando a gente pensa em futuro, as experiências quando são partilhadas, também vão contagiando as outras pessoas. Se professores estão tendo orgulho dos seus próprios trabalhos, então talvez é porque estão vendo que as crianças estão ficando felizes com seus trabalhos. Eu acho que é isso que realiza um professor, o seu trabalho conseguir chegar naquela pessoa. É bem nítido de como falam com orgulho.
Rubens – Tem também a questão dos pais ficarem felizes não é?
Núbia – Sim, e acreditarem. Vimos o modo como foi tudo organizado lá, que as famílias ficaram lá com tranquilidade. E algumas experiências em outras escolas em que já fomos, às vezes são muito mais agitadas. Percebemos que havia uma tranquilidade naquele ambiente com aquelas pessoas, com pais, com outros filhos. Há uma relação ali com a comunidade.
Cida – Há muito respeito dos pais pelo trabalho da escola.
Núbia – Existe uma coisa que é extremamente positiva que vem chamando a nossa atenção. É uma pergunta que fazemos e que a gente percebeu que é feita também pela Pedagogia Waldorf: ‘O que podemos fazer por essa criança e que é o melhor para ela?’ E não o que ela tem que alcançar, aqui e agora, o quanto antes, e tem que sair sabendo disso, daquilo… coisas objetivas. E às vezes não estão preocupados em como que essa criança está se formando. Isso a gente vem defendendo, mas acho que temos muitos passos pela frente para chegarmos a esse patamar.
Enquanto rede, a gente não vê ainda esse processo (como expandir o trabalho feito na Calumby para as outras escolas), mas o importante é que está sendo feito com qualidade, com todo o trabalho de formação, pois entendemos que sem formação continuada não temos um trabalho de qualidade, pois os professores não se realizam. Mas lá tem um diferencial. O que vocês fazem de formação continuada é o que conecta mesmo os professores ao que é central no seu trabalho, que é a criança. E as outras pessoas percebem o orgulho de ser professor que eles tem, e de se emocionar com aquilo e dizer: A gente está no caminho!
Rubens – O importante dessa experiência é que ela tenha bastante força para se manter, se desenvolver, se consolidar, mas realmente vocês estão de parabéns, pois o clima na escola, o ambiente entre as professoras e as crianças é muito bom.
Núbia – É muito mais responsabilidade e esforço de Cida e Paulo do que nossa, porque temos 46 escolas, e a gente não dá conta. Seguimos dialogando sempre, dentro da perspectiva que a escola nos informa e procuramos atender suas demandas.
Cida – Cada um tem o seu papel, e há um respeito muito grande pelo trabalho, com muito apoio, e o trabalho pode acontecer e o professor é respeitado.
Rubens – Como é que é para vocês terem uma escola diferente na rede? Dá mais trabalho em termos de gestão?
Núbia – Não, muito pelo contrário. Temos uma equipe que está ali por motivação bem específica e não há de fato nenhum incômodo nesse sentido. Há todo um conjunto ali de forças, e na medida do possível a gente procura acompanhar. Toda partilha de experiência, de bons trabalhos, precisa ser feita, porque toca outras pessoas de que esse sentimento é bom ter. Esse sentimento de que a gente está conseguindo fazer do nosso trabalho o melhor para outra pessoa, para as crianças, nesse caso, é muito bom, e de passinho em passinho a gente vai andando.
Conversa com Ana Débora Lima França, Coordenadora do Ensino Fundamental, sobre a EMEF José Souza de Jesus
A decisão da escola aderir à pedagogia Waldorf nasceu de um desejo coletivo, que começou na Calumby, para que os alunos que saíssem de lá pudessem continuar a ter professores formados na Pedagogia Waldorf, no ensino fundamental, e que teve também uma decisão política para que acontecesse. Hoje há um esforço coletivo para que a iniciativa se fortaleça.
Cida nos conta que, no quinto ano, um menino pediu pra repetir de ano, pra não ter que sair da escola.
Ana Débora – Isso é a coisa mais linda! Às vezes eu chego na escola e pergunto: Não está tendo aula não? É por causa do silêncio! Não é o que a gente está acostumada a ver nas escolas em geral. Estão todos nas suas salas fazendo alguma atividade. A gente percebe uma diferença, nas crianças, nos pais, até no porteiro da escola, muito atencioso com quem pedia alguma informação. Não sei dizer exatamente por que essa diferença, mas que a gente percebe isso lá, percebe.
Cida – Isso aumenta a responsabilidade de toda equipe envolvida com a escola, temos que caprichar muito.
Ana Débora – No início não teve professores da rede concursados para entrar lá, então foram os que tinham passado no processo seletivo. Mas até nisso nós tivemos sorte, porque quase todos que foram para lá mergulharam no projeto, e quem não se identificou pediu pra sair, e a gente resolveu isso tranquilamente. Quando tivemos processo de remoção, aí outros professores quiseram ser removidos para lá já sabendo sobre como é o projeto, e que teriam que participar da formação Waldorf no Instituto Social Micael.
Hoje há outros professores que querem fazer a formação, mas continuando na escola de origem deles, sem terem que se remover de suas unidades. De certa maneira eu acho bom, porque é a semente que está sendo levada, e fortalece esse coletivo de professores que sente essa necessidade de aplicar essa prática na sua escola. A gente pode até não ter a escola toda, mas só por ter um professor trabalhando com os princípios da Pedagogia Waldorf eu já acho muito bom (ela cita os nomes de alguns professores que estão nesse grupo, em diferentes escolas). Então a gente tem essa experiência de pessoas que estão exercitando essas práticas (ritmos, flauta, desenhos, aquarelas etc), e que, se tiverem espaço, começam a transformar o ambiente. Elas não transformam só a sala delas, transformam até a relação com as famílias. Então é importante termos esses ‘beija-flores’ levando esse pólen!
Entrevista com Maria Cecília Tavares Leite – Secretária de Educação
Maria Cecília – A Pedagogia Waldorf veio para a rede, não por uma proposta da gestão, mas de um coletivo de professores que fez sua formação na Pedagogia Waldorf, e propôs implementá-la naquela escola. Então, a escola já surge direcionada para essa pedagogia. Para conhecer a pedagogia e implementá-la a gestão não está tendo dificuldades, porque não existem preocupações pedagógicas para nós interferirmos na escola. A gente participa, apoia, discute, dialoga, é sempre um momento muito rico de discussão e troca de experiência. Tem sido uma experiência muito, muito, muito interessante, e a principal observação dessa experiência é nos alunos e nos professores. Quando a gente visita a escola Calumby, inspirada na Pedagogia Waldorf, e visita outra escola, você sente a diferença naquelas relações ali estabelecidas. São relações de confiança, de troca, de compartilhamento, de pertencimento. Os alunos sentem a escola como sua, a comunidade e a família sentem a escola como sua. Isso é muito bom num momento de falta de identidade, quando ninguém se vê em nenhum espaço.[…] Com relação à experiência que nós vimos em São Paulo, na Escola de Resiliência Horizonte Azul, eu fiquei encantada. Eu ainda não me vejo naquela experiência, porque ela já está com um caminhar muito mais consolidado. Ela tem um caminhar diferente e é uma experiência única, mas a gente espera que esses princípios basilares do desenvolvimento humano sejam implementados e consolidados em Aracaju, sim.
Assista a entrevista completa
José Américo de Menezes
Professor Dr. da Universidade Federal de Sergipe
Américo – O ISM me convidou, na condição de professor da UFS, para somar e planejarmos juntos o projeto político pedagógico da escola (Calumby), uma vez que, através de UFS eu poderia agregar projetos, via projetos de extensão, projetos de pesquisa. […] A Pedagogia Waldorf contempla aspectos da condição humana dos quais eu sempre senti falta nas discussões do ponto de vista das correntes pedagógicas que existem comumente. Isso para mim, como professor, tem sido algo muito importante, porque tem dado uma nova inspiração no meu processo de atuação docente.
Assista a entrevista completa
EMEI Dr. José Calumby Filho
Endereço – Rua 15 no 210 – Bairro: 17 de Março
CEP: 49.044-000
286 alunos da educação infantil e creche
Antoniélia Ribeiro Santos Fontes
A professora Antoniélia, uma das pioneiras da rede pública de Aracaju a fazer a formação na Pedagogia Waldorf, foi a primeira diretora da EMEI Dr. José Calumby Filho, e nos conta como se tornou uma professora Waldorf, e sobre o processo de implantação da pedagogia na EMEI Dr. José Calumby Filho.
Assista a entrevista completa
Antoniélia Ribeiro Santos Fontes
A professora Antoniélia fala neste vídeo sobre a integração de professores que não conhecem a pedagogia Waldorf, numa escola pública, e outros desafios.
Antoniélia – A Pedagogia Waldorf na rede pública é essencial, porque reestrutura o humano. Isso vale tanto para a formação da criança, e, vou lhe dizer, vale muito mais para a formação profissional. O professor precisa desse remédio, desse bálsamo, que é para acreditar no que ele está fazendo. Se ele não acreditar, não vai adiante.
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Marcia Soares Ramos Alves – Coordenadora pedagógica
Existe (na Pedagogia Waldorf) uma observação muito científica dessa criança e desse ambiente que é criado para envolver essa criança, e deixá-la com autonomia para se desenvolver, que é muito boa pra ela. Foi o que me trouxe até aqui, e eu vejo que isso se reflete também na comunidade, nos pais da criança, na família.
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Simone Lima – diretora
O processo começa na gente. Eu comecei a mudar. Quando conheci a Pedagogia Waldorf comecei a ter um novo olhar, meu olhar se abriu um pouco mais na educação, mas antes dele se abrir para a educação, ele se abriu para mim. Eu melhorei como ser humano, melhorei como educadora, e estou nesse processo. Esse processo é longo, é um processo de estudo e de observação interna e externa. […] Eu sinto que o nosso acolhimento é um diferencial. Com a mesma atenção e amor que a gente atende as crianças, atendemos os pais e responsáveis, e eles sentem o acolhimento, ficam felizes e gratos por terem esse respeito. Nossa comunidade é muito carente, e ele precisam desse respeito.
Assista a entrevista completa
Maria José Vieira de Almeida – professora
Quando eu cheguei nessa escola e me disseram que ela trabalhava com a Pedagogia Waldorf, eu respirei fundo e pensei: “Graças a Deus que alguém pensou nas crianças!” Elas precisam primeiro passar primeiro pelo processo de se sentir criança, se auto reconhecer como criança […] Antes das crianças conhecerem letras, quadro e giz, e imposição de matérias atribuídas, sejam crianças antes disso, que criem, pensem, recriem o mundo delas, e vivam o mundo delas primeiro, porque aí fica tudo mais fácil quando elas passam para as letras e os números.
Assista a entrevista completa
Mayra Cristina Oliveira de Araújo – professora
No dia a dia da sala de aula, o que eu percebo que a Pedagogia Waldorf me trouxe, em primeiro lugar, foi eu respeitar e olhar para a criança, porque antes eu fazia um trabalho mais voltado para o que a criança tinha que aprender, o que ela tinha que fazer, e eu não olhava para o que a criança estava precisando. E o ato de acompanhar a criança, dos 3 aos 5 anos, me dá uma tranquilidade, uma firmeza, do que a criança precisa em cada fase. É uma coisa que eu acho fantástica, e, independente da pedagogia Waldorf, se fosse para eu dar um conselho para outros professores de educação infantil seria: “Acompanhe sua classe”.
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Cassia von Fatima – professora da sala de recursos para crianças especiais
A Pedagogia Waldorf para mim foi uma reconexão com a natureza e com o que eu tinha de mais genuíno. Com meus avós eu sempre gostei de histórias, das brincadeiras com a natureza, com as coisas mais simples que tem na natureza, e minha chegada na Pedagogia Waldorf foi como se eu tivesse religado algumas coisas que tinham desligado. O que mudou foi encontrar o caminho da simplicidade e mais humano, porque respeita os limites de cada um. […] Eu vejo essa escola como uma possibilidade de oportunizar as pessoas, porque são tantos seres que tem uma potencialidade enorme, e talvez, em outro local onde não respeitassem seus ritmos, seu jeito de ser, talvez isso fosse negado. Eu vejo aqui um lugar que pode colaborar para que essas pessoas possam ser quem elas são, e mostrem sua potencialidade.
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Fotos
Fotos do muro da Calumby
EMEF Jose Souza de Jesus
Endereço – Bairro: 17 de Março
Ensino fundamental do 1° ao 5° ano
443 alunos
Xislene Santos do Nascimento – professora do 1° ano
Cada vez que você vai conhecendo a Pedagogia Waldorf mais profundamente você vai se encantando, e traz uma paz para a gente. Cada vez que eu participo do curso eu saio renovada espiritualmente, mais animada, com mais autoestima, acreditando que vou conseguir, com mais esperança. Eu acho incrível, gosto muito.
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Cleide Selma da Hora Santos – professora do 2° ano
A comemoração dos aniversários é a coisa mais linda do mundo, porque muitos não têm essa oportunidade em casa. No ano passado, eu tive um aluno que era bem arrediozinho, ficava sempre no cantinho dele. Aí, no dia do aniversário dele eu coloquei na lousa só: – Parabéns! Mas não coloquei o nome da criança. Foi o aniversário mais emocionante. Ficaram todos comportados e perguntando: – Quem é? Quem é? Aí o próprio aniversariante dizia: – Eu acho que é de Gláucia. – Eu acho que é de fulano. Nem ele sabia! Aí quando eu disse o verso do aniversário e peguei na mãozinha dele com a coroa, foi uma emoção, porque a maioria das crianças chorou. Uns inventaram que estavam chorando com saudades do pai que morreu, ou dum priminho que morreu, mas estava todo mundo na mesma emoção. E no outro dia, quando fiz a rodinha, olha ele no meu colo! E ele nunca tinha vindo para a roda!
Assista a entrevista completa
Rivânia Rocha – coordenadora
Eu já sinto uma boa diferença na relação dos alunos. O índice de violência, de atrito, aqui é baixíssimo. É uma escola tranquila de trabalhar, e todos que passam por aqui, como o pessoal da vigilância, dos serviços gerais, eles sentem isso, dizem que a escola é tranquila, que eles têm trabalhado em outras escolas e sentem que aqui é diferente. E eu vejo isso também, porque venho de outras escolas, tenho quinze anos de profissão, e acho que a tendência é melhorar e expandir. Eu acredito que seria bem interessante que a rede implantasse em mais escolas a Pedagogia Waldorf.
Assista a entrevista completa
Rita Nilda Santos de Santana – professora
Eu me identifiquei com a Pedagogia Waldorf porque ela é do jeito que eu achava que a educação deveria ser, não só nas escolas públicas, mas também nas particulares. A criança poder ser livre para aprender no tempo dela, e no espaço dela, é o que me faz estar na educação ainda. Eu fiz o primeiro módulo da Pedagogia Waldorf, e aí eu me encantei mais ainda. Como a gente pode descobrir pequenos detalhes que a gente não observa quando usamos aquela escola tradicional, e que na Waldorf a gente enxerga! Como podemos ensinar de forma diferente! Era o que eu queria para mim! Eu descobri esse mundo Waldorf e quero estar nele.
Assista a entrevista completa
Beatriz Lima Andrade – professora
Quando eu cheguei no Calumby, como foi diferente! As boas vindas: “Bem vinda! Professora passarinho, para o seu ninho!” Eu pensei: Gente, como é lúdico! A coordenadora já me recebeu assim, diferente das outras escolas onde eu entrei. Ela já me recebeu no lúdico, a gente não só passa o lúdico para uma criança, ela passou pra mim e eu já estou nesse caminho. Nós fizemos uma reunião pedagógica de planejamento, e aí a gente fez a roda como fazemos com as crianças, a dança, a roda do inverno, e ela me mostrou como era, com a chuva, o vento e toda a encenação. Desde a gente os adultos, para chegar nas crianças. Então, isso é bem interessante, é muito interessante. Se todo mundo estiver a par, estiver junto e caminhar junto, é sonho, né? É sonho, é bem diferente do que a gente vê por aí.
Assista a entrevista completa
Um Museu Escola!
Além de todo o trabalho pedagógico e de formação de professores Waldorf, o Instituto Social Micael também empreendeu uma ação em parceria com a Universidade Federal e Sergipe e a Prefeitura de Aracaju, para criar o projeto Museu Escola, desenvolvido nas duas escolas do bairro 17 de Março.
A EMEI Dr José Calumby Filho e a EMEF José Souza de Jesus, receberam três peças de colônias de bactérias fossilizadas, denominadas trombólitos, existentes no planeta há mais de 80 milhões de ano e que auxiliaram na produção de oxigênio. As peças foram doadas pela Prefeitura de Rosário do Catete. Em Sergipe há uma região muito rica em fósseis, e o objetivo do projeto é permitir que as crianças possam vivenciar esse conhecimento e entenderem um pouco mais da evolução do planeta e da história de Sergipe.
Cida – Com isso, podemos trazer muitas possibilidades de conteúdos de geografia, ciências; fazer a criança desenvolver um pensamento mais amplo no dia a dia escolar e, quem sabe, despertar o interesse e inspirar futuros cientistas e arqueólogos.
Fotos
Dicas preciosas fruto de muita experiência
Para aqueles que gostariam de lutar pela implantação da Pedagogia Waldorf na rede pública, é muito importante conhecer algumas dicas de Maria Aparecida e Paulo do Eirado, que você pode acessar abaixo em texto ou vídeo. Eles têm muito o que nos ensinar.
Entrevista com Paulo e Cida– pdf
Entrevista em vídeo